sábado, 27 de julho de 2013


NOSSO ENCONTRO EM PARIS
autor: Nilton Bustamante

Abraça, mas abraça devagar
A roda é gigante, a vista é distante
E eu preciso te olhar, fotografar o momento
Que a melhor fotografia é a do pensamento
Guardado no coração.

Outra hora, certeza, poderemos – e devemos – ser selvagens e nos canibalizar,
Mas, não agora, agora não...

Encosta tua mão na minha,
Deixar filete de ar entre nossas faces
Pra sentir antes nossas almas se encostarem.
O melhor carinho, o fundo do fundo
Do olhar sem móveis, sem paredes. Apenas a entrega, confiar, confiar...

Sim, a entrega, um beijo longo
Mexendo nos cabelos, nas orelhas...
Astronautas na lua, sem peso, sem gravidade,
Talvez saudades da Terra, da semente
O verde do pinheiro vencendo a pálida neve devagar, devagar, devagar...

Abraça, coloca teus braços
Atrás do meu pescoço, que eu estou
Em tua cintura feito cinto, feito louco.
Vem me trazer vertigem que teus lábios exigem,
Meu disfarce é não ter medo de altura, nem do amor.

Já rodamos o mundo, ruas, calçadas.
Fomos longe, longe, sem sair do lugar.
O que faz um beijo teu, um abraço, um olhar
O que mais pode nos esperar assim?
Já lemos nossas mãos tantas e tantas vezes.

Hoje quero que se entregue feito quem confia a própria vida à morte.
Deitar em meu peito, adormecer, e eu, com sorte, sonhar e em ti amanhecer...

Hoje eu quero teu nu, mas, não quero teu corpo.
Outra hora, certeza, poderemos – e devemos – ser selvagens e nos canibalizar,
Mas, não agora, agora não...






DESPEDIDA
 autor: Nilton Bustamante

Chegou o momento.
Chegou o dia empurrado pelo calendário, que eu não queria ver.
Chegou o dia do juízo final. A nossa união terá salvação?
A cada dia menos, mais eu era empurrado para você; abraçava-a cercado pelo desespero.
Tudo o que quero agora é dizer o que calei; mas o tempo...

Quantas coisas deixei de eternizar em nossa relação; quantas coisas deixei de acrescentar pelo descaso, pelo descuido, pelo orgulho, pelo ciúme descabido; quantas inquietudes...

Será que os amantes não percebem? Depende deles se carma, se luz.
Olho para nós através da janela do tempo e fluem imagens de amor convertidas em pequenos fragmentos.

Começo a sentir saudades.

Já que estamos nus, corpo e alma, antes que se vá, deixe-me mapear suas pequeninas pintas, salpicos da natureza. No amanhã quero matar as saudades percorrendo com o pensamento todas estas trilhas.

Ainda há tempo para mais um gozo, mais um prazer. Este somiê vem tão a calhar, trono para nossas estripulias.
Como farei sem a posse, sem o uso deste psicotrópico que se tornou o seu corpo?
Abraça-me lentamente para prender-mo-nos nas boas correntes que o amor produz; germinar a boa dor da saudade que ora já me toma completamente.

Você está tão calada, como nunca foi...

Dê-me sua mão, e diga que não vai mudar em nada... Minta, mas diga que não. Mas, o que estou pedindo? Congelá-la no tempo?
Muitos pedem para serem congelados, após a visita da morte infalível, com a esperança da ciência, no futuro, encontre a cura para os seus males.
Qual o antídoto, meus Santos, para curar a separação?
Vê? Seu navio  a aguarda para atravessar os mares, para terras que eu não sei.

Dói, dói, dói.

Espere um pouco mais, quero chorar em seu colo; quero meus olhos embaçados para nada mais ver.

Não receie pela viagem, apesar de tudo, eu orei àquela estrela mais próxima trazida pelo lusco-fusco; ela guiará seu navio que já a chama, urrando, lembrando choro...

Em completo silêncio autista, eu no cais ela no convés, construímos pontes entre nossos olhares. Enviamos os últimos beijos de amor, altívagos.
E assim foi, o aceno final para o nosso desencontro, nossa despedida.

Lentamente, para aumentar a agonia, o navio sumia levando seu corpo na linha do horizonte, até tornar-se miragem; e para minha surpresa, sua alma,  mãos dadas às minhas, dedos entrelaçados, acompanhou-me em contrária direção...



terça-feira, 2 de julho de 2013

NÃO POR ACASO


NÃO POR ACASO
Autor: Nilton Bustamante

Não por acaso
Esse gosto da falta
Olhos ao longe
Que se vão desencontros
Que sofrem os amantes
Não por acaso
Esse gosto da falta, esse sal
Esse desgosto igual
Em todo lugar na alma e no corpo
Quem não sabe
É porque não viu
É porque tardou e não abraçou
O mal da certeza
Esse lado cruel d’amar até doer
E não poder abençoar o doce
Nos lábios com o nome do amor

Não por acaso
De quem sorriu
Para os dias que o mundo
Acordou tão bonito pra esperar a noite
Quando cada coisa que se escondeu
No peito faz do suspiro companhia
Brilho a mirar tudo com esperança
Fechar os céus e viver
A cada lembrança
Não por acaso
Esse gosto da falta, esse mal
Que sofre os amantes, uma vez mais
Como quem tem seus receios, seus medos,
Mas, se lança e abraça temporais

Mas, se um dia,
Não por acaso,
Essa agonia que se canta
Não fizer o meu coração suspirar
É porque esse gosto da falta
Olhos ao longe
Que se vão desencontros
De todos os cais
De todos os portos
Esse desgosto igual em todo lugar
Em todo lugar nas almas e nos corpos
Não por acaso
Esse gosto da falta, esse sal
de amor... Me fez morrer

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Teresa Salgueiro A ESTRADA
https://www.youtube.com/watch?v=tckK2jAu2MY

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SE UM DIA EU CONSEGUISSE SER ÍNDIO


SE UM DIA EU CONSEGUISSE SER ÍNDIO
 Autor: Nilton Bustamante

 Ah, se um dia eu conseguisse ser índio,
passaria a não saber o medo; se um dia eu conseguisse ser índio, olharia com os olhos da alma a alma da Natureza; se um dia eu respeitasse a vida com a naturalidade dos índios, meu coração seria irmão-noite segurando as mãos da irmã-lua, eu seria criança nua que não saberia o que é apanhar, seguraria o rabo do macaco, abraçaria o abraço do tamanduá, pularia nas águas frias junto com os sapos e rãs, saberia dos cânticos, dançaria envolta das fogueiras, ouviria os velhos-sábios, me sentiria amado pelos meus iguais em dias de rituais...

 Ah, se um dia eu conseguisse ser índio,
seria leve, seria amigo do invisível, seria limpo de mente e coração... Seria barro, seria chuva, seria planta, pés descalços sem a pressa de viver, sem a ânsia de alcançar sem saber o quê...




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Canção Indígena - Tangara Mirim (Mborai Marae)
http://www.youtube.com/watch?v=mjE1F_cRbFs


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