Um dia eu acordei e percebi que antes não estava dormindo. Percebi que passei muito tempo achando possuir a noção exata de minha vida. Não sabia onde estava, tudo parecia ser novidade.
Um dia eu acordei e me mostraram que eu estive torto na maior parte do tempo. Acordei e vi que eu não era sozinho no mundo; que o mundo não estava para me servir. Acordei e vi diante de mim um corpo inerte, morto, se decompondo; era o meu.
Um dia eu acordei e vi algumas pessoas orando. Uns oravam com sincero fervor, outros só pediam para si. Acordei e percebi que eu estava vivo, eternamente vivo, por muito a servir, por muito a amar. Acordei e passei a plantar flores na minha alma árida, preparando-me para outras mais.
Um dia eu acordei e percebi que a vida faz mais sentido no plural, no coletivo... Acordei e o copo quebrado, o amor desfeito, o objeto enferrujado, não mais me incomodavam.
Um dia eu acordei para dormir na manjedoura, falar nas sinagogas, morrer na cruz, e viver Deus.
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