CORAÇÃO DE VIDRO
Autor: Nilton Bustamante
Há
uma rosa vermelha sobre a mesa.
A
mesa é de vidro.
A
rosa está mergulhada no vaso sobre a mesa.
A
mesa é transparente. O vaso é de vidro.
O
vermelho da rosa parece veludo, sobre a mesa parece fazer sentido.
O
vermelho parece sangue, parece vida. O vermelho é de vidro.
Meus
ouvidos ouvem Bach, Suíte nº 1 in G para violoncelo, fico no palco, no centro
vazio.
O
mundo é gerado, é gerido, o meu parto parte meu coração, é dolorido, choro e
sorrio pro mundo, nasce a poesia pra não me deixar só, pra eu não ficar
acanhado nessa nesga de sol, nesse espaço que o tempo esqueceu e a música
lembrou.
Meus
cabelos são compridos, banham-se em prata, raios da lua que buscam madrugadas.
Pareço poeta, mas meu coração é de homem: enquanto um é salvação, o outro é
perdição. E eu com um pé lá, outro acolá, as pernas se abrindo, se abrindo, o
desequilíbrio vindo, o infinito caindo sobre mim, vou me segurando aguardando o
tombo, aguardando o voo, ouvindo a canção.
Há
uma rosa vermelha sobre a mesa.
Não
é pedra, nem caminho. É miragem, imaginação de minha alma sem sair do lugar,
sem se incomodar com a ideia que ao homem não é dado voar. Sem se importar que
ao homem o coração sofra, sinta dor, e não é dado chorar...
Meu
coração é de vidro, vaso transparente, há uma semente, uma mergulhada rosa,
rosa vermelha fazendo sentido, parida feito presente pro meu parto dolorido,
nessa nesga de sol, nesse espaço que o tempo esqueceu e a música lembrou... Que
há poesia, que há amor.
Há
uma rosa vermelha sobre a mesa.
....
BACH _ Mischa Maisky
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