ENCONTROS EM OUTRA
DIMENSÃO (desdobramento)
“autor”: Nilton Bustamante
Estava eu em um lugar com muita movimentação de pessoas. Um
prédio enorme, desses antigos, muito bonito, com amplos salões. As pessoas
vestidas da melhor maneira que podiam se apresentar em sociedade, caminhavam
feito flamingos, elegantes. Na escadaria principal, naquele burburinho, vejo a
“Palmerinha”, aquela senhora que fez programa de culinária na televisão Gazeta,
em São Paulo. Ela toda de branco, calça comprida, com pregas, colete, e
um casaquinho bem ajustado, grosso modo, parecia elegante toureira. Era levada,
quase puxada, pela mão, por um homem, mais velho do que ela, cabelos bem
brancos. Intuí que era o marido dela. Seguiam escadaria acima. Ela quase
perdendo o ritmo dos passos daquele senhor, pedi-lhe, mentalmente, que fosse
mais devagar, para não se cansar muito. Ela parou e me atendeu. Ficou
descansando. Quando passa por mim, meu amigo de muitos anos do Lions Clube da
Lapa-SP, Mário Evangelista, falecido há pouco tempo. Ele sério, sustentando uma
criança no braço direito, seguiu ao salão principal. Tudo era muito amplo, chão
brilhando, daqueles que parece que acabaram de passar “cascolac”.
Acompanhei-o...
Abro aqui um hiato: semanas atrás, eu já o havia
visitado, em desdobramento, onde ele recebia salutares atendimentos de várias
irmãs, todas senhoras “voluntárias de boa vontade”. Ele me viu e ficou ali,
meio sem entender. Eu estava com outro nosso amigo comum, também foi do Lions, Hugo
Mariotti, que havia “passado”, falecido. Estava esse necessitado de cuidados,
mas, aparentemente encontrava-se em melhores condições, mesmo andando com
dificuldades.
Pois bem, ao acompanhar esse meu irmão amigo Mário
Evangelista, vem em minha intuição que deveria esclarecê-lo, com muito jeito,
com muita atenção e carinho, explicar que ele havia “passado” para outra
dimensão, estava morto na carne, falecido no mundo material, porém vivo para
sempre em espírito. Então, mentalmente, seguiu um “monólogo” de minha parte: vibrei
mentalmente que o seu tempo nesse planeta Terra já havia findado, não lhe era
mais permitido permanecer aqui, naquela situação. E continuando, sempre
mentalmente, disse-lhe que ele já havia deixado o seu corpo material, físico,
orgânico, mas, o seu espírito, energia, era eterno, e que deveria ir, seguir em
direção a Deus. E que esse é o movimento que todos nós devemos promover, o
caminhar da evolução bendita. Mário parou, não podia acreditar apesar da
confiança mútua que sempre tivemos. O salão estava repleto de pessoas, e quando
percebi que a dúvida o paralisara eu comecei a orar a Deus em uma língua morta,
antiga. E num átimo, na primeira fração da oração, todos do salão
desapareceram. Aos nossos “olhos”, permaneceram visíveis naquele imenso salão
somente o Mário com a criança em seu braço direito e eu. Esse meu amigo levou
um baque tão grande ao perceber que as coisas que eu lhe tentava “dizer”,
poderia então ter realmente um fundo de verdade. Neste mesmo instante em que
meu amigo encontrava o choque do despertar, fui levado, piscar de olhos, ao
encontro do meu pai, falecido há alguns poucos anos...
Outro hiato, aqui: nesse mês ainda, em desdobramento, eu
lhe via espiritualmente. Ele, desesperado, queria muito falar comigo. Usava de
um telefone. E, esbaforido, dizia que o assunto não era aquele que sempre houve
certo abismo entre nós. Ele queria dizer outra coisa, outras falas. Eu tentava tranquilizá-lo,
vibrando mentalmente para ele não se preocupar, que poderíamos nos falar, mas,
ele teria que se acalmar... Via-lhe de “longe perto”, mas, ao que parece, ele
não me via. E assim ficamos.
Bem, ao caminharmos pela rua tranquila, arborizada, dia de
sol, casas amplas, parecia ser o Jardim São Bento, perto do Campo de Marte, em São Paulo. Ele me
perguntou se eu trabalhava ali, naquele lugar. Disse-lhe que sim. Perguntou-me
se meu carro estava ali. Disse-lhe que estava mais adiante – ele sempre me
perguntava essas coisas, ou algo parecido. Por fim, estávamos com outras 2
pessoas. Acompanhava-nos. Um parecia ser meu irmão de sangue. Outro, eu sabia
bem quem era. Um irmão espiritual, muito bendito. E, novamente, a intuição, a
voz em meu íntimo que deveria “despertar” o meu pai, sobre a sua situação, do
seu desencarne. E caminhando em passos lentos, fui vibrando alguns
esclarecimentos, do pouco que sei. Ele, dessa vez, estava calmo. A tudo ouvia
sem precipitações. No mesmo instante em que lhe disse que estava desencarnado, já
havia deixado o seu corpo material, havia morrido – para ele entender melhor,
um enorme cemitério surgiu em nossa lateral enquanto eu falava, caminhando lado
a lado com ele, e aqueles dois silenciosos irmãos. Meu pai olhava o cemitério e
foi entendendo –. Disse-lhe que ele deveria seguir com aquele irmão de cabelos
brancos que estava ao seu lado, que não era para ele temer, estava indo para melhor
lugar, um lugar onde haveria muitas oportunidades em buscar outros momentos de
vida de muita felicidade. Ele estaria mais próximo de Deus. E que temos a
Eternidade, que ninguém deixa de existir, que ninguém é esquecido pelo Pai. Que
o Amor Divino abraça a todos. E, que logo mais, estaríamos juntos, novamente.
Meu pai aceitou, e seguiu com aquele irmão. E à medida que
eles foram ascendendo, eu fui à esquerda descendo para retornar à minha morada
atual. À medida que os via sumindo, dentro de meu espírito uma dor de saudades
rasgava-me e me fazia em dois. Uma parte queria voltar pra matéria, a outra
queria seguir com ele. Procurei não chorar para não atrapalhar ao meu pai, em
sua nova jornada... Mas, não foi fácil.
...
"Pie
Jesu"
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