quinta-feira, 10 de julho de 2014

SAMBA E ESPIRITUALIDADE


SAMBA E ESPIRITUALIDADE

“Autor”: Nilton Bustamante

Avenida Ipiranga com a São João. Cidade de São Paulo. Está escuro, é noite. Mas não por isso, o lugar está totalmente diferente de como ele é nos dias de hoje. Há algo que parece arquibancadas totalmente lotadas. Tudo está caiado.

Algo extraordinário acontece.
   
Alguém, na avenida, pega um violão e começa a tocar à la Baden Powell. O som se espalha eletrificado pelo ar. Tudo muito alto, no entanto de extraordinária beleza, um som limpo. É um samba, bem para cima, bem agitado, motiva a todos. Vejo em minhas mãos um tamborim, entro no coro de outros tantos sem a menor cerimônia – logo eu que tenho “duas mãos esquerdas” para fazer qualquer tipo de ritmo – mas, sim, eu estou no ritmo acompanhando o movimento e os acordes do violão em deliciosa explosão musical. Nisso, um homem negro aparece tocando uma espécie de reco-reco metálico, que eleva o tom, sobe o ritmo, sobe a alegria das notas. O agrupamento dos instrumentos dá-se uma harmonia indescritível. Reconheço esse músico do reco-reco. Penso em voz alta: “é o Antonio Carlos!”  – Mussum, artista e músico brasileiro, que tanto sucesso fez nos anos 70 e 80 –, e quando imagino que está por terminar a canção instrumental, que já havia chegado ao seu auge, entra o som em mil megatons de um trombone que faz lembrar o do Bocato – trombonista muito conhecido em São Paulo –.  Aí tudo vai pro céu. Sim, esse samba instrumental só pode ser algo dos céus, não da Terra. Algo que nunca, em toda minha vida, havia ouvido. Uma música alucinante que beira a perfeição, causa em todos os que ouvem e assistem um arrebatamento, frenesi.

De maneira sincronizada, a música acaba. Nisso, há um rodízio dos instrumentos para outros pares, outras pessoas. Eu mesmo dou meu tamborim para outro senhor de negra cor, que senta-se ao meu lado, no chão da avenida. Começa agora, um outro samba, esse de notas curtas. É o convite para enorme quantidade de pessoas, se apressarem e irem dançar, seguindo o ritmo, com passos miúdos, acompanhando ou sendo acompanhados pela sintonia musical. Uma beleza.

Observo melhor as pessoas, verifico que todos desse lugar estão de roupas brancas, caras brancas ou parecem pálidos. Espere. Estão também caiados.” E o Antônio Carlos, o Mussum, não havia falecido? O que está fazendo aqui?” – indago para mim mesmo.

Percebo, então, que aqui, todos estão mortos no corpo físico. São espíritos, desencarnados.

Alguém se aproxima, e, mentalmente, me esclarece:

“Esses nossos irmãos estão fazendo, agora, o samba da passagem”.


Com essa frase final, entendo, de vez, que todo aquele cenário, o samba instrumental, e o clima, eram o pretexto, o convite, para nossos irmãos fazerem a passagem do psiquismo humano, do mundo material dos homens para a Pátria Celestial.

Ao ter a consciência que eu estou em desdobramento da alma, sou trazido para meu corpo que descansa no sono da noite. Não tinha mais nada para fazer ou apreciar naquele lugar.

Agradeço a Deus e à Espiritualidade bendita por essa experiência, pela oportunidade do aprendizado, por mostrar-me e a outros mais o que se passa do lado de lá, que é apenas lado de outros mais.





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