ENCONDESENCONTROS
Nilton Bustamante
Em desdobramento meu espírito estava em um veículo, seguia por uma avenida muito longa.
Ao deparar-me com cada irmão “caído”, abandonado nas calçadas, intuitivamente diante desses eu sinalizava com uma marca de “tinta fluídica”. Um a um, a sinalização.
Sabia em meu íntimo que cada “marcação” seria observada por outros Irmãos benditos que viriam socorristas, em equipes.
Dentro de mim a certeza: o Bem logo viria em ação salutar para os “marcados”.
Quando senti que não poderia mais seguir à frente, pois o longe já se apresentara, eu não poderia continuar, seria muito perigoso, desci desse veículo.
Alguns irmãos que estavam por ali, tinham aspectos temerários. Perguntei a um deles qual o ônibus que passava na região para meu retorno? Percebi que eu não portava nenhum dinheiro para a passagem do coletivo, então pedi, o que foi-me atendido. Estava eu com uma nota de dinheiro às mãos. Antes que pudessem falar o nome da condução – estavam com dificuldades em responder – vi um coletivo chegando e sem saber o nome, entrei logo e fiquei no último banco. Nem precisei saber pra onde era o seu destino, apenas me fixei no sentido viário, que era o do sentido do “retorno”. Isso era tudo o que me importava. Aparentemente, qualquer lugar seria melhor que aquele onde me encontrava.
Em determinado momento, a avenida se estreitou, tornou-se sem asfalto, e dois grandes lagos chegaram às margens. Olhei para um deles e vi um cobra extremante grande e grossa chegando, mansamente, sem aparentar perigo. Foi o tempo de passarmos, essa cobra em um único impulso voou por cima da estrada e mergulhou no lago oposto. Pensei no perigo, preocupando-me, mas, ao mesmo tempo, aliviado por estar fora do alcance do insólito.
Em uma parada de ônibus subiram algumas pessoas; um menino com aparência desses que estão abandonados pelas ruas pediu-me aquele dinheiro que estava acolhido em minha mão. Entreguei-lhe sem problema algum. Ele pagou a passagem dele e de outro homem. Pedi o troco. Devolveu-me algumas moedas.
O ônibus seguiu, avante.
Mais alguns instantes depois o motorista começou a ordenar algo. Notei que começaram a aparecer dezenas de cobras; todas sendo preparadas pelo condutor para algum propósito nada cristão. E um casal, nu, começou a levitar e fazer sexo ali perto das peçonhentas. A cena não era nada agradável.
Olhei para fora e percebi que, apesar da escuridão-madrugada, imagens conhecidas estavam chegando. Eram as do Parque do Ibirapuera.
Chegou o momento de eu cair fora, pensei.
O cobrador do veículo estava distraído vendo o tal espetáculo, então sai sem respirar, para não chamar a atenção de jeito algum, desci pela porta detrás. E para ninguém me ver, nem o motorista pelo retrovisor, segui em direção contrária. Camuflei-me com o sobretudo da noite.
Comecei a andar...
Uma voz muito conhecida por mim, veio em sentido oposto. Era um casal. O dono da voz, um cantor e músico que eu havia trabalhado profissionalmente até a pouco tempo. Estava ele com uma jovem, loira, com o frescor da ingenuidade. Ele articulava as palavras com o seu jeito peculiar que envolve a todos, jeito de bom moço.
Mentalmente exclamei o seu nome.
Voltou-se ele em minha direção. Sempre mentalmente, disse-lhe que estava com saudades.
Respondeu-me que queria que eu falasse com uma certa pessoa, a mesma pessoa que atua com falsas intenções, vibrando sempre pérfido, desarticulando almas e corações. O espírito do artista estava unido à essa pessoa, apesar de sofrer incríveis traições dessa última.
Não adiantava o que eu pensasse ou falasse, ele somente dava ouvidos aos seus próprios caprichos. Pegou o celular, mas a ligação não se completou.
Aproveitei, e disse-lhe que não iria falar com essa “tal pessoa”. Se algo eu tinha para falar era com ele mesmo (o espírito do artista).
E disse mais: vocês dois estão ligados na mesma sintonia, pois, moralmente, são parecidos. Estão juntos por interesses escusos de parte a parte. Enganam-se, ao mesmo tempo, um querendo tirar proveito do outro.
Havia na alma do artista interesses outros, que desejam que assim fosse.
Com nada se importa, nem com qualquer pessoa; em seu coração não há respeito, comprometimento sincero, nenhum vínculo de consideração, pois, a qualquer momento, conforme seu interesse para alcançar seus objetivos, muda de lado (feito aquela cobra, com aparência mansa, passando de lado a outro).
Espiritualmente, pude perceber que absolutamente não se importava, com ninguém... Somente o egoísmo disfarçado, que nos acontecimentos da vida vão-se cada vez mais ficando à mostra. E chegará o tempo em que muitos outros enxergarão o que estou vendo agora.
Nesse instante, ao terminar as minhas mentalizações, eu mesmo quis favorecê-lo em amenizar os meus comentários.
Finalizei: você deveria tomar mais atenção e analisar melhor os seus pensamentos e sentimentos, pois você não é má pessoa...
Nisso um irmão da Espiritualidade Bendita aproximou-se e completou vibrando a frase em meu ouvido:
não é má pessoa, mas aperta o gatilho.
não é má pessoa, mas aperta o gatilho.