AMY
autor: Nilton Bustamante
Certa vez alguém disse:
“Imagina apresentar essa para a sua família: ‘− Mãe, essa é a Amy'! E na sequência, uma sonora risada"
Sim, o álcool e todas as drogas cozinham o cérebro, faz aumentar o fogo, e o fogo a fogueira da perdição. O andar fica cambaleante, não sabe a direção. Faz qualquer plano desabar, beijar o chão.
Sim, as palavras perdem o sentido e o crédito, as drogas querem ser barcos da ilusão, viagens suaves fugindo da realidade que tornaram-se dura de mais... Corpos sem dono, intoxicados, envenenados, entregues, perdidos, à merce das desgraças, de todas as graças, risadas e chacotas, de todas as acusações, sem o abraço de qualquer compaixão.
Os "sãos", os "inteiros", os "corretos", tornam-se brincalhões, corneteiros, fazem esculturas, caricaturas das desgraças, de quem nem pode reagir, defender-se.
As risadas são muitas e as culpas dos caídos são todas, o dedo em riste dá a sentença, mas a mão amiga e a prece solidária não vêm junto, não se apresentam em comunhão.
Já não é suficiente desgraça de quem está em mórbido estágio dos vícios? Será que precisam de nossas insinuações e irônicas piadas?
De maneira geral, quando estamos em baixa, pedimos auxílio, pedimos aos céus, pedimos aos santos todos, ao Pai, à sorte, aos amuletos, a tudo e a todos. E como reagiríamos se víssemos outras criaturas nos colocando colares de latas, nos fazendo de palhaços, nos fazendo motivo de zombaria de todo tipo e sorte, motivo de absurda gozação?
Sinceramente, quem mais precisa de prece é aquele que está corroído pelos vícios que perdeu a noção de tudo, da própria existência, ou aquele que faz dos desgraçados objeto de tolas chacotas e finas ironias, que acha graça daqueles que estão mortos-vivos estendidos no chão?
Imagina apresentar para a família um desses últimos que faz ironias e caricaturas dos combalidos, dessa maneira: "Mãe, esse não é a 'Amy', é quem se diverte e ri da 'Amy'". Será que o gozador manteria assim, a mesma graça, a mesma ironia, o mesmo dedo em riste da punição?
Cada um que carrega o fardo de suas derrotas, não precisa de acusadores, nem de comediantes. Precisa do auxílio da compaixão, e a felicidade do alento de uma sincera e caridosa oração.
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Air Suite Nr. 3 (Johann Sebastian Bach)http://www.youtube.com/watch?v=S25tlrvqP_8&
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