segunda-feira, 2 de maio de 2011

AOS QUE DIVIDEM E DIMINUEM PESSOAS


AOS QUE DIVIDEM E DIMINUEM PESSOAS
autor: Nilton Bustamante

Ainda que se possa dizer que são simples brincadeiras, corriqueiras e inofensivas observações, que causam graça, há algo mais profundo nisso tudo: preconceito social (ainda que não percebam).

Aos que ignoram, devemos alertar que as expressões e formas linguísticas (escritas ou faladas) não são certas, nem erradas, nem engraçadas - são diferentes umas das outras. José Lemos Monteiro, intelectual versado em linguística, já enunciava em seus trabalhos sobre o preconceito linguístico: “são critérios de ordem social e não de natureza estritamente linguística os que subsistem ao se avaliar uma forma de expressão como errada ou correta. O que se julga erro nada mais é do que uma diferença devida a fatores múltiplos, entre os quais, a região, a classe social do falante e o registro ou situação comunicativa. Seria bem mais lógico que, em vez de se ensinar que as frases (formas de se falar) são corretas ou erradas, se transmitisse a consciência de que a língua não é uniforme nem estática e que, por isso mesmo, admite uma pluralidade de usos. Estes podem ser expressivos ou inexpressivos, elegantes ou grosseiros, comuns ou raros, formais ou informais, adequados ou não aos propósitos comunicativos, sempre diferentes uns dos outros e jamais errados em sua essência.”.

E Trudgill disse além: “... são igualmente bons como sistemas linguísticos, uma vez que são adequados às necessidades de seus falantes. Desse modo, o sentimento de que as formas discrepantes do modo de falar culto são erradas se deve a um grave preconceito social.”

É de se admirar que essas pessoas elitizadas que moram bem, se alimentam bem, se vestem com roupas de qualidade, que frequentam os melhores lugares, que usam os melhores transportes, que tiveram acesso à cultura (educação é outra coisa), que se comprazem com outros iguais ao depreciarem com ironias as pessoas simples, fazendo troça e chacotas daqueles que se expressam atropelando a “Língua culta”, antes mostrassem essa mesma competência para abraçarem a responsabilidade social. Entenderiam que seriam mais úteis à sociedade, à Nação, e consequentemente às “Marias” e aos “Josés”. Quem sabe oferecer escola para quem fala "droba roupa", "apareio de fone", "macarrão de pênis", "rezisto em cartera", etc, ainda que o Estado tem suas obrigações e deveres nesta área.

Rir daquelas pessoas modestas que muitas vezes lhes “servem”, é desvalorizar a figura humana antes de tudo. Não compreendem o vazio de alma que se encontram. A verdadeira e única “Justiça” saberá avaliar a justa dos reais valores. Depois à cada um conforme sua obra.
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EM TEMPO:
E pegando carona no tema “preconceito social”, estamos vendo em nosso país manifestações de repúdio contra nossos irmãos nortistas e nordestinos que, grande parcela, votou em favor da candidata oficial, no primeiro turno, para o cargo de presidente da nação. Os apupos e más vibrações brotaram em muitos corações de nossos irmãos que sentem-se filhos de outras regiões, historicamente mais abastadas. Fazemos um convite para refletirmos juntos, e quem sabe chegaremos à conclusão que os “vilões”, são “vítimas”...

O povo nortista e nordestino são os que ajudaram (e ainda ajudam) e muito a construir essa nação. São trabalhadores por excelência, com alto grau de autoestima, que sobrevivem em condições e locais sub-humanos, e são fervorosos na fé que os mantém na última oportunidade de esperança, como quem se agarra há um fiapo de raiz na beira do precipício...

É muito digno, elevar as condições de vida de gentes sofridas. Se há distorções, se há algo errado pelo meio do caminho, busquemos o burilar de melhores ações, o aperfeiçoamento do sistema, para promover a justiça social, oferecendo, depois que se “matou” a fome, condições de gerar riquezas, empregos, educação etc... Ótimo, que maravilha! Mas, repito, NÃO se deve amaldiçoar e generalizar os “beneficiários” nordestinos, se um ou outro punhado não soube e não sabe a importância dessa ação governamental e se encostam na sombra do tirar proveito da situação. Aos políticos que tiram vantagem eleitoreira, se isso ocorrer de fato, deve-se coloca-los em seus lugares, justamente ao REFORMARMOS os instrumentos apropriados e se exercer pressões nas ações governamentais através do voto popular e outras ações da sociedade organizada. Mas, fomentar o ódio e desclassificar nossos irmãos, que geograficamente já estão apartados de tudo e de todos, isso nunca. O povo brasileiro é trabalhador, nota-se que, na maioria dos lares, todos estão levando a vida da melhor maneira que podem, se organizando às vezes aos pedaços, mas, estão buscando novas manhãs...

É como demonizar as “cotas” para as universidades. Pensemos: os povos trazidos à força do outro lado do oceano, levados à escravidão, temperados no açoite e no escárnio, durante dezenas, dezenas e mais dezenas de anos, foram penalizados simplesmente por existirem nos mesmos dias da cobiça criminosa de seus algozes, e, com o “fim da escravidão” foram largados à própria sorte (?) pelas ruas, formando hordas de mendicância. Os filhos dos filhos dessas gentes, não merecem ser “recompensadas” de alguma forma, por algum tempo, para equilibrar a balança social? Sim, podemos ser contra as “cotas”, pois devemos lutar para haver um processo educacional, de qualidade, dos primeiros passos até às universidades TOTALMENTE LIVRE PARA TODOS! E aqueles mais abastados, certamente, terão instituições particulares, competentes no que fazem, que lhes abrirão as portas...

Mas, insistimos, não devemos desclassificar ainda mais àqueles que sofrem seus “apartheid” particulares, e se dizer que os negros são privilegiados; ou que os judeus são sanguessugas; ou que os nordestinos são parasitas sociais; que os jovens não querem saber de nada, muito menos estudar; ou que o povo brasileiro é atrasado e merece viver na misérias de seus dias... é uma distorção de realidade, se assim compactuarmos com essa forma insana de pensamento. Pois, aquele que possui essa visão de mundo e das pessoas, que desclassifica etnias, grupos sociais, e outros que tais, precisa rever os seus conceitos e saber o que há de errado e endurecido no próprio coração e perguntar a quantas está adoentado e em distúrbio próprio ego. Segmentar, segregar, e não enxergar o valor das pessoas, que ajudaram ao longo da história enriquecer a humanidade com o esforço de seus trabalhos, isso é realmente desumano e sentimento apequenado. Lembrando que os nossos irmãos negros trouxeram valoroso trabalho nas lavouras, mineração, e, na educação de suas sinhazinhas (inclusive, os negros nos dias de hoje, são os melhores atletas não por acaso, pois sofreram no tempo da escravidão, os cruzamentos genéticos, como se fossem gados, para se conseguir “braços mais fortes e sadios” para a labuta, além, é claro, em esforços sobre humano, são cientistas, médicos, advogados, e demais categorias importantes na sociedade). E nossos irmãos judeus trouxeram avanços incríveis em todas as áreas do conhecimento humano ao mundo, além de movimentarem as economias do mundo.

E os irmãos jovens de hoje não podem ser penalizados nem diminuídos pela má formação escolar que lhe outorgam, são vítimas da falta de oportunidades como um todo; e nossos irmãos nordestinos são maravilhosos que sobreviveram e sobrevivem à custa de muito trabalho em condições precárias na maioria das vezes (são os melhores pedreiros, os melhores cozinheiros, as melhores mãos de obra, e muitos intelectuais fantásticos, e por aí vai...), como também os são importantes nossos irmãos de todas as outras regiões do país, pois são importantes não por habitarem essa ou aquela região, ou condição social, mas pelas qualidades do vigor humano que lhe competem à construção de si próprios.

Quando se olha para um todo, devemos nos habituar com a visão do estadista e não do reacionário, pois somente construiremos a nação dos nossos ideais se o convite for para TODOS os filhos da pátria a participarem e dando-lhes condições para tanto. Segmentar é enfraquecer-se. Certamente, haverá muitos que não quererão abraçar as oportunidades, caso existirem, se isolarão por eles mesmos; mas o processo evolutivo de uma nação, de um povo, mesmo aparentemente a passos lentos, deve-se saber que o mais importante é o rumo, é a direção certa!
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