segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O SAMBA PODE MORRER NA AVENIDA



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O SAMBA PODE MORRER NA AVENIDA
Autor: Nilton Bustamante

Ô nêga Fulô, diz aí pro doutor
Que o samba tá feio, tá doente, pode morrer
Levaram ele pra avenida, parece castigo, deixaram ele sofrer
Botaram gesso no sorriso,
Que tudo é bonito, que o povo é feliz

Só pra aparecer na TV, na TV

Ô nêga Fulô, diz aí pro doutor
Melhor soltar o samba, deixar livre, ser bloco de rua
Respirar liberdade, descontrair, deixar de sofrer
Não dá pra ser feliz por contrato, tudo de plástico,
Só pra aparecer na TV, na TV

Escola de Samba na avenida, não foi feita pra marchar 
Tá virando Hollywood pra gringo e televisão
O samba não está pra isso, não
Já não chega fazer esse povo chorar quadradinho
Ano inteiro, sem direito pra nada?
O samba não está pra isso, não

Ô nêga Fulô, diz aí pro doutor
Pra ser feliz, pra desfilar, brilho deve vir da alma
Parece coisa boba, coisa a toa, mas não é não, o caso é sério
Se o povo bobear vão fazer até o samba correr
Pra dar o tempo da TV, da TV

O samba não está pra isso, não
Não pode dar moleza, senão o samba vai morrer
Vai ficar na lembrança, quando a beleza era ouvir o coração
Batucar, sem se preocupar se o portão ia fechar
Se o jurado ia tirar nota pra comunidade chorar

Ô nega Fulô, diz aí pro doutor
Que o céu é grande pra mandar o sol, pra mandar a chuva
Mas, nosso samba é muito maior, não traz sol, não traz chuva,
Traz sonho em nos fazer acreditar, que o tempo é nosso
Que a fantasia é nossa, que o povo é livre, não é pecador...

Ô nega Fulô, diz aí pro doutor
Pede pra ele interceder, pra deixar nosso samba em paz...
Ô nega Fulô, diz aí pro doutor, diz...