sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

ACASALARES


ACASALARES
Autor: Nilton Bustamante

Ah, eu suspiro mesmo, gemo esse ranger de alma, 
Desse jeito como quem sente tudo por dentro sem poder entender direito,
Não é frio, mas gela, me faz sentir falta de coberta, querer um ninho.
Não é dor, mas machuca, essa ferida invisível que lambo todas as noites!...

Ah, eu uivo o lamento da procura em noite escura
Dessa loba que ouço distante, no frio da mata Atlântica,
Esconderijo qualquer...

Poderão dizer que não há loba em tal lugar,
Mas, não me importo, eu sei, eu sei, 
E eu ouço e respondo igual aos inaudíveis auuusss, auuusss!...

Ah, mulher que me abre suas frentes diante dos espelhos
E eu procuro as chaves de todas essas celas 
Pra beijar sua boca, mastigar sua alma, como se fossem última refeição.

Ah, mulher que faz meus desejos transformarem-se em ondas
Enxurradas levando tudo, turvando minhas vistas,
E a garganta seca feito deserto de sol de mil graus...

Ah, mulher que se desfaz desejos em úmidas vertigens de loucuras e receios,
Que na boca macia gruda o visgo da saliva no beijo meu.

Ah, esse suspiro, esse ranger de alma, 
Em outros visgos mais, esses outros grudares, outras colas
Que te escorrem pelos cantos do corpo e da alma

Lembrando desses uivos, desses acasalares
Em noite de lua cheia em nossas fogueiras
Que não queimam com fogo, nem com outra chama qualquer...

Esse fogo é muito além, é fogo de amor!

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Alberto Nepomuceno - Suíte Antiga - Ária 

http://www.youtube.com/watch?v=UeAfKwIUocw






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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

LUA E SOL


LUA E SOL
Autor: Nilton Bustamante

Hoje eu acordei
Pensei que é mesmo lindo o dia
Em ter um coração em branco e a vontade de viver
O que a doce poesia desejar
Escrever

Ser alguém que anda por aí
Todo riscado, passado a limpo
Jogado, amassado outras vezes
Por não ter valido a pena

Ah, hoje eu acordei
E abri a porta pro sol
Pra me dizer
De seu encontro
Com a lua
Que de tão feminina mania
Foi-se escorregadia pelas esquinas

Ah, essa ilusão de procurar entre as meninas dos olhos seus
Algo que me conte os segredos
Por detrás do seu sorriso
Abraçar seu abraço e dançar a valsa
No silêncio a sós

Mas, oh, menina, não faça como a lua faz ao sol
Que se vai pelas esquinas
Antes fique comigo
Fale de tudo quanto quis calar
E que o tempo não esqueceu
Seja minha feita estrela matutina que não quis partir

Olhe nos olhos meus, e faça festa
E se faça arrepios se despejando em minha pele
Nessa brincadeira
De namorados que não conseguem mais
Acordar sem dizer bom dia lua, bom dia sol

Hoje eu acordei
Com você sorrindo pra mim
E meu coração que foi em branco um dia
Como quem vai pro altar
Agora é doce ilusão
Poesia de amor feita pra você

Segredo que seu coração me ditou
Agora é doce que comigo levo e conto pra lua, conto pro sol

Bom dia amor, bom dia...


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Zé Manoel _ Valsa da Ilusão
http://www.youtube.com/watch?v=QQzECfgPRxY&list=PL642B7EFE549BDE30

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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

OUTUBROS

OUTUBROS
autor: Nilton Bustamante

Algo dessa saudade são outubros,
algo dos meus outubros faz meus pés não encontrarem o chão,
por isso preciso das palavras, inteiras ou aos pedaços,
ainda que sejam dos sentimentos os cacos,
sem perceberem o segredo,
a intenção,
transformar o impossível do plano
em folhas que montam páginas inteiras, ou arrancadas depois
em formas de aeronaves
precisando mesmo voar...

Algo dessa saudade são outubros,
esses outubros que não encontro mais,
procuro, procuro, procuro
mas, riem de mim, brincam como duas retas,
sempre duas almas paralelas,
que se buscam no infinito,
lá estão,
mas quando se chega perto, perto, perto...
ilusão.

Ora dessas,
quem sabe, o descuido do tempo, da concreta razão,
espante o que estava conformado,
e faça revoar letras-pássaros
buscando, buscando, buscando o espaço,
tragam alguma magia,
algum disfarce, poesia,
seja o que for,
e o que estava por detrás dos olhos fechados,
o que era somente na tela escura, filme de cinema
que se imaginou,
faça o encontro de duas almas,
que penavam ser ponto no infinito,
façam agora, nesse suspiro que é prece,
encontro de amor.

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Yann Tiersen - Octobre
http://www.youtube.com/watch?v=nVp0NVtbYdM


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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

TEU SONO


TEU SONO
Autor: Nilton Bustamante

Vais dormir? 
Então farei cantiga 
contida com as sete notas da imaginação 
para o silêncio também adormecer.
Não, não quero que nem ele, o silêncio, te acorde da íntima entrega 
nestas doces horas que antecedem o amanhecer...

Descanses, amada minha, 
o sono do teu sono, 
pleno na noite envolvida em luz!

Deixes que eu te cubra de paz 
para que nos filmes dos sonhos 
vejas que também és amada.
Ficarás segura, farei turno contínuo,
estarei de guarda contra os perigos que rondam os que fecham os olhos,
serei o teu olhar.

Descanses teu corpo em meu peito, sigas com tua alma aonde desejares,
pois montei leve tecido 
em forma de proteção,
será tua tenda 
quando estiveres no chão
e tua rede quando caíres das alturas que te coloquei,
porque te amo doce, te amo macio, 
este macio que marca feito açoite em noite fria 
querendo o beijo, queimando por inteiro o pavio e explodindo de amor.

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Comme la pluie
http://www.youtube.com/watch?v=sRjjNd7ksvE





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terça-feira, 26 de novembro de 2013

MIL MILHAS


MIL MILHAS
  autor: Nilton Bustamante

Eu era para estar muito longe
Mas voltei,
Liguei o computador só pra escrever
O que não dá pra ficar pra depois

Estou flutuando ao sabor do vento
Desse vento que não desiste da semente,
Do beijo que virá
Universo
Da palavra que virá verso
Pra falar do que sentimos quando não nos vimos por única vez

Das estrelas riscando os céus
Muito além que as palavras possam dizer
Eu me soltei, deixei meu coração me levar
Pra encontrar nós dois

Nessa noite de cama vazia
Não poderia esperar,
Pensando em você...
Desse vento longe, dessa espera que ameaça ficar, não partir

Eu era para estar a mil milhas
Muito além dessa cama vazia
Mas voltei,
Liguei o computador só pra escrever
O que não dá pra ficar pra depois...

Recado de amor



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Milton
http://www.youtube.com/watch?v=p5k2Kl510b8

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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ESTRELAS DE ESPANHA



ESTRELAS DE ESPANHA
autor: Nilton Bustamante

Não te exiles nas matas.
Não te furtas em fazer fogueira sem fumaça, que as estrelas de Espanha te perseguem...
Comprima teus músculos e solte teus cantos, que tu, mulher, espelhas em imagens pelos céus...
Nestas touradas que não há touro, nem toureiro,
Há somente a bravura que ficou deste sangue em que a areia menstruou porque agora é vida,
É poesia,
O que foi tristeza, o que foi morte, condenação, agora, mulher, é libertação!

Prepares então os teus seios, fales com teu coração, lambuze teu corpo das vontades todas,
De todas que teve vergonha, que nem mesmo soubestes, te prepares, oh, mulher,
Que tiraremos as roupas, e estas vergonhas não mais servirão,
Andaremos nus pelas matas, feito índios,
Feito bichos do mato a se comerem nos cios, como quem se prepara para parir as crias,
E seguir os ciclos, os trajetos, os brilhos que poderiam vir dos astros, das estrelas,
Mas que virão dos nossos olhos de homem e de mulher...

Não te diminuas, nem te escondas,
Brilhe na lagoa em noite escura,
Toda magia dos encantos que virão

Oh, mulher,
Te abras e cante o canto da ternura,
Em que só os livres, o que buscam o amor, ouvirão...

E entre estes o teu o meu... os nossos vaga-lumes corações




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Paco de Lucía Concierto Aranjuez - Adagio
https://www.youtube.com/watch?v=e9RS4biqyAc

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ATRÁS DO ESPELHO


 ATRÁS DO ESPELHO
Autor: Nilton Bustamante

A calma, o longe, visitando o dentro das flores
Conhecendo o silêncio

Conhecendo quem foi, com o que ficou
Outras emoções, outras opiniões
São as suas certezas de agora

Eu aqui atrás do espelho
Querendo ser os seus cabelos roçando suas costas
Ficar deitado ao seu lado sobre as gramas,
Olhando pra cima,
Cuidando dos carneiros, fazendo das nuvens imensos currais
Sem porteiras, sem travas, sem portais

E eu aqui atrás do espelho
Saindo na foto, atrás da imagem, em sua frente,
Esticando os braços, as mãos, os dedos
Quase pegando, quase tocando
O sonho, a vontade de moldar tudo em você e um pouco mais...
Fazendo reviver um novo modo de ser

Ser as vezes índio, ficar nu, olhar com os olhos mais bonitos
Que alguém possa olhar
Ser as vezes malícia, ficar nu, encostar os lábios nos lábios seus
Fechar os olhos, derreter-se aço formando novos rios em seus sulcos,
Em suas fendas,
Que se abrem para me receber fluído,
Para eu ser parte desse mistério, que sua alma me falou ser verdade...

Eu aqui atrás do espelho
Esperando a próxima imagem do filme seu...
A coragem de atravessar a impossibilidade do ser
E atuar, ser ator de nossa próxima história de amor...

E eu aqui atrás do espelho
Esperando, esperando, esperando você chegar

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Oasis
http://www.youtube.com/watch?v=dhZUsNJ-LQU
Stop Crying Your Heart Out

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domingo, 17 de novembro de 2013

MOMENTO


MOMENTO
Autor: Nilton Bustamante

Essa roupa caindo suave,
Colorido tecido, esse jeito de ser, ...
Esse véu esvoaçando pensamentos...


Olha nos olhos meus só pra eu não ter pra aonde ir,
Para onde não há pra se esconder,
Lê minha alma, como se folheia livro,
Saber do romance o seu final pra sorrir ou suspirar
Enquanto a lágrima cai

Esse abraço tão certo, tão na medida,
Deixando que o arco da lua se desfaça em descanso, se faça noite e música,
Suspirar perto de minha boca
Provocar o longe das ligações que se faz mais um novelo de lã:
Puxa, estica, traz pra perto, cada vez mais, mais, mais
Para o coração nunca mais esquecer
Porque esse frio é mesmo abraço apertado por baixo,
Tira todo o chão,
Se faz qualquer canção de amor
Só pra se apaixonar, só pra fazer sentir tudo quanto é saudade,
Ouvir e atender a súplica
Se enrolando no deserto duna abaixo
Fazer fita, filme de cinema,
Ficar olhos fechados pra fazer sucesso
Da mesma janela sentir a brisa, da mesma janela sentir o coração ir
Voando em sua direção pra ficarmos soltos no sofá,
Esparramando todas almofadas, com a tevê desligada...

Eu leio atento suas mãos pra descobrir
O caminho riscado de sua alma, pra você me perder e procurar
Em algum lugar dentro da suave cachoeira descendo feito véu voando
Pensamentos,
Vindo das mais suaves alturas,
E suas mãos segurando os seios pra me prender
No mais profundo momento do seu ser...





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http://www.youtube.com/watch?v=QgaTQ5-XfMM
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domingo, 10 de novembro de 2013

OLHOS MISTÉRIOS


OLHOS MISTÉRIOS
Autor: Nilton Bustamante

Bah! De onde os olhos puxados dessa prenda vieram?
Seriam das pradarias?
Seria da vontade de ser pés na terra pampeana, indígena, braço da árvore de todas as tribos?
Seria das plagas longe, além-mar, terras velhas? Outras origens?

Bah! Que mistério, que mistério...

Dizem que a lua é amiga dos poetas...
Procurarei saber se ela, a lua, visitou certa janela aberta
E se ouviu a prenda dos olhos que ora são oliva, ora são mel,
Se em sonhos andou falando sobre tais mistérios e outros mais...

Mas, se eu souber, não conto pra ninguém,
Que de prenda alguma se diz o que se quis saber...

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Christina Perri (piano / cello)
http://www.youtube.com/watch?v=QgaTQ5-XfMM

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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

BRILHO NOS OLHOS



BRILHO NOS OLHOS
Autor: Nilton Bustamante

Vem,
Entra no meu peito,
Deite no sofá, se joga no chão...
Faça o que quiser, o que desejar, mas me escute,
Vamos conversar

Você já tentou voar demais e não conseguiu

Eu sei como fazer
Eu sei o que você precisa
Me ouça
O que tenho pra dizer é quase nada
Parece pouco
É que você não percebeu o que faz a diferença

Precisa ter coragem, mergulhar no vazio
O universo é assim, o seu duo é assim:
A mulher que sai pelos poros, que explode,
Expande, vibra, treme e se guarda na outra que se cala
E se acomoda pra não se ferir

Eu sei o que você quer, eu sei muito antes de você chegar

Eu sei dessa sua busca
Essa solidão das alturas
Abre então suas asas, abre seu coração
Mergulhe no abismo com as garras a mil
Saiba de vez dessa diferença
Entre o medo e a libertação
Saia do seu espelho, e quebre toda essa proteção, fique nua
Mil pedaços, liberte esse sonho, essa vontade
Pra você amar
Pra você ter o brilho dos olhos da águia em seus olhos,
Voar


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Oasis - Stop Crying Your Heart Out
https://www.youtube.com/watch?v=LB89kQ8svEE




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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

FLOR DE POETA

(essa poesia possui um significado mais do que especial para mim...)
FLOR DE POETA
Autor: Nilton Bustamante

Sentado na cadeira elegante sou visita....
Toco com o olhar tudo ao redor.
Quadros e porta-retratos falam
Os mesmos diálogos, as mesmas lembranças.

Minha visão tromba parede oposta:
Moldura cacho de uvas abriga
Sorriso feminino, pouco mais que juvenil.
Expressa boas-vindas, suavidade e encanto...

Quero saber quem é.
Pergunto ao poeta azul.
De soslaio, antes de responder, chuva de anil ameaça precipitar-se.
É Mônica, sua filha, flor ceifada em plena primavera.

O olhar saudoso do poeta anfitrião
Não estava mais na sala.
Alma desbotada pelas lágrimas discretas,
Apoia-se na fé e tolerância.

Agora o silêncio...

Se houvesse tempo de perguntar ao poeta-pai de olhar celeste itálico:
Mônica vem da raiz “sozinha”, do grego, por isso partiu?

A resposta seria:
Apenas adiantou-se e foi cuidar de um jardim especial.
As flores da lua agora têm o doce das uvas.

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(Homenagem ao poeta-pai Norberto de Moraes Alves,
autor do livro "AS FLORES DA LUA", Editora do Brasil)


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imagem:
Angela - Pastel on Fabriano Paper 19x12 by Mara Luiza Nascimento
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Chopin: Tristesse
http://www.youtube.com/watch?v=lTcfPlH3m8k

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domingo, 8 de setembro de 2013

PARTITURAS DE AMOR


PARTITURAS DE AMOR
Autor: Nilton Bustamante

Nossa poesia nasce sempre noturno
Evocando a noite...

Que os amantes se lançam
Em um vai-e-vem que tira o sono,
Algumas vezes até mesmo a paz
Ah, essas idas e vindas intermináveis
Nos abraços que não se largam
Mesmo distantes, mesmo ausentes
Essa saudade machucando doce
E a gente insistindo em não ir,
pede sempre pra ficar pouco mais, mais um pouco

Em nossos encontros
Madrugadas inteiras, encenar
O que desejamos ser, o que queremos sentir
Essa vontade tão assim, tão alegre, tão triste

Ah, eu não sabia que iria ser dessa forma
Desse jeito de voar
Enquanto o claro das estrelas seriam
O longe das manhãs
É muito mais que os corpos querendo
É a vontade de ouvir sua voz
Dizendo qualquer coisa, só pra sentir o tom de sua alma
Vibrando vida,
Alquimia em transformar o nada em notas de magia
E as suaves madrugadas, velas que não se apagam,
Em sentidas e despetaladas poesias
Ah, esses voos noturnos
Essa evocação que suplica
Conspiração entre almas que não se esquecem
Enlouquecem
Mentes e corações
Transformando o nu sobre o piano em partituras de amor

Ah, aves noturnas que se vão
Com olhos fechados viajando ao longe dos teclados
Que Chopin em uma noite dessas também suspirou
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Chopin NOTURNOS
http://www.youtube.com/watch?v=4obAjW07-tg
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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

PRIMEIRA PÁGINA


PRIMEIRA PÁGINA
 Autor: Nilton Bustamante

O peso dessa escuridão pode deixar sem saber onde colocar meus pés no chão
Quando não há consolo
Quem está no fundo da prisão

Foto recortada jogada em um canto qualquer
Disparo meu coração nesse céu sem tamanho, sem direção
Tudo neon se o sonho é mesmo eu quem faço

Pego a estrada e o frio que a juventude não sabe
Fechando os olhos de quem quer beijar
Raspando os dedos e unhas pelas paredes, pelos portões

Essa paixão é companheira que mando embora
E ela sempre volta
Como voltam as estrelas iluminando nova luz
Brincando de constelação, em contemplação

Agora, piso fundo na lama
Não quero saber de tantos cuidados em não se sujar
Mostrar que a palavra cabe certa na boca
Sou eu quem faço a minha cama, e a fama de quem é solidão

Estampo na primeira página
O jornal que escrevo:
Procura-se quem deixou um coração e foi embora
E eu agora, aqui, sem saber onde colocar os meus pés no chão...



NÃO PRECISA EXPLICAR


NÃO PRECISA EXPLICAR
Autor: Nilton Bustamante

Nada mais me espanta
Tanto faz
Juramentos pra agora,
Ou pra depois

Fantasia
Recheio do beijo que virá
Doce
O veneno
Que me faz por agora tirar os pés do chão
E voar
Amando seu jeito,
Esse perfume de mulher
Que me faz olhar pro céu e pensar
Nessa novela que nunca vai acabar

Meu pequeno anjo
Siga o seu coração
Atravessando bem ao meio o meu
Que é seu sem eu mesmo oferecer
Ser carta em branco
Sabendo tudo que não se escreveu

O amor é mesmo assim
Não precisa explicar

...

Comme la pluie
http://www.youtube.com/watch?v=sRjjNd7ksvE&


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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

NÃO ME DEIXE



NÃO ME DEIXE
Autor: Nilton Bustamante

Não me deixe
Deitada, meias por tirar, diante deste bilhete em branco deslizando sobre a cama
Não me deixe
Poltrona vermelha, sozinha, assistindo o que no olhar não dá pra deixar esquecer
As letras que precisamos sabemos de cor, o que temos pra escrever,
Melhor olhar pela janela, e gritar
Não me deixe
Porque sinto falta dessa presença-ausência
Que seus lábios escondem

Ah, o meu coração aperta o passo pela rua deserta
Nem um gato perdido, nem uma desgraça pra me prender a atenção
Não consigo
Não consigo
Esse sentir você por perto, mesmo quando parte, mesmo quando ando sozinha
Não consigo
Não me deixe
Não me deixe
Que as árvores são poucas pra abraçar


...

Ne me quitte pas
http://www.youtube.com/watch?v=-hZ3gjCrHxQ



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sábado, 27 de julho de 2013


NOSSO ENCONTRO EM PARIS
autor: Nilton Bustamante

Abraça, mas abraça devagar
A roda é gigante, a vista é distante
E eu preciso te olhar, fotografar o momento
Que a melhor fotografia é a do pensamento
Guardado no coração.

Outra hora, certeza, poderemos – e devemos – ser selvagens e nos canibalizar,
Mas, não agora, agora não...

Encosta tua mão na minha,
Deixar filete de ar entre nossas faces
Pra sentir antes nossas almas se encostarem.
O melhor carinho, o fundo do fundo
Do olhar sem móveis, sem paredes. Apenas a entrega, confiar, confiar...

Sim, a entrega, um beijo longo
Mexendo nos cabelos, nas orelhas...
Astronautas na lua, sem peso, sem gravidade,
Talvez saudades da Terra, da semente
O verde do pinheiro vencendo a pálida neve devagar, devagar, devagar...

Abraça, coloca teus braços
Atrás do meu pescoço, que eu estou
Em tua cintura feito cinto, feito louco.
Vem me trazer vertigem que teus lábios exigem,
Meu disfarce é não ter medo de altura, nem do amor.

Já rodamos o mundo, ruas, calçadas.
Fomos longe, longe, sem sair do lugar.
O que faz um beijo teu, um abraço, um olhar
O que mais pode nos esperar assim?
Já lemos nossas mãos tantas e tantas vezes.

Hoje quero que se entregue feito quem confia a própria vida à morte.
Deitar em meu peito, adormecer, e eu, com sorte, sonhar e em ti amanhecer...

Hoje eu quero teu nu, mas, não quero teu corpo.
Outra hora, certeza, poderemos – e devemos – ser selvagens e nos canibalizar,
Mas, não agora, agora não...






DESPEDIDA
 autor: Nilton Bustamante

Chegou o momento.
Chegou o dia empurrado pelo calendário, que eu não queria ver.
Chegou o dia do juízo final. A nossa união terá salvação?
A cada dia menos, mais eu era empurrado para você; abraçava-a cercado pelo desespero.
Tudo o que quero agora é dizer o que calei; mas o tempo...

Quantas coisas deixei de eternizar em nossa relação; quantas coisas deixei de acrescentar pelo descaso, pelo descuido, pelo orgulho, pelo ciúme descabido; quantas inquietudes...

Será que os amantes não percebem? Depende deles se carma, se luz.
Olho para nós através da janela do tempo e fluem imagens de amor convertidas em pequenos fragmentos.

Começo a sentir saudades.

Já que estamos nus, corpo e alma, antes que se vá, deixe-me mapear suas pequeninas pintas, salpicos da natureza. No amanhã quero matar as saudades percorrendo com o pensamento todas estas trilhas.

Ainda há tempo para mais um gozo, mais um prazer. Este somiê vem tão a calhar, trono para nossas estripulias.
Como farei sem a posse, sem o uso deste psicotrópico que se tornou o seu corpo?
Abraça-me lentamente para prender-mo-nos nas boas correntes que o amor produz; germinar a boa dor da saudade que ora já me toma completamente.

Você está tão calada, como nunca foi...

Dê-me sua mão, e diga que não vai mudar em nada... Minta, mas diga que não. Mas, o que estou pedindo? Congelá-la no tempo?
Muitos pedem para serem congelados, após a visita da morte infalível, com a esperança da ciência, no futuro, encontre a cura para os seus males.
Qual o antídoto, meus Santos, para curar a separação?
Vê? Seu navio  a aguarda para atravessar os mares, para terras que eu não sei.

Dói, dói, dói.

Espere um pouco mais, quero chorar em seu colo; quero meus olhos embaçados para nada mais ver.

Não receie pela viagem, apesar de tudo, eu orei àquela estrela mais próxima trazida pelo lusco-fusco; ela guiará seu navio que já a chama, urrando, lembrando choro...

Em completo silêncio autista, eu no cais ela no convés, construímos pontes entre nossos olhares. Enviamos os últimos beijos de amor, altívagos.
E assim foi, o aceno final para o nosso desencontro, nossa despedida.

Lentamente, para aumentar a agonia, o navio sumia levando seu corpo na linha do horizonte, até tornar-se miragem; e para minha surpresa, sua alma,  mãos dadas às minhas, dedos entrelaçados, acompanhou-me em contrária direção...



terça-feira, 2 de julho de 2013

NÃO POR ACASO


NÃO POR ACASO
Autor: Nilton Bustamante

Não por acaso
Esse gosto da falta
Olhos ao longe
Que se vão desencontros
Que sofrem os amantes
Não por acaso
Esse gosto da falta, esse sal
Esse desgosto igual
Em todo lugar na alma e no corpo
Quem não sabe
É porque não viu
É porque tardou e não abraçou
O mal da certeza
Esse lado cruel d’amar até doer
E não poder abençoar o doce
Nos lábios com o nome do amor

Não por acaso
De quem sorriu
Para os dias que o mundo
Acordou tão bonito pra esperar a noite
Quando cada coisa que se escondeu
No peito faz do suspiro companhia
Brilho a mirar tudo com esperança
Fechar os céus e viver
A cada lembrança
Não por acaso
Esse gosto da falta, esse mal
Que sofre os amantes, uma vez mais
Como quem tem seus receios, seus medos,
Mas, se lança e abraça temporais

Mas, se um dia,
Não por acaso,
Essa agonia que se canta
Não fizer o meu coração suspirar
É porque esse gosto da falta
Olhos ao longe
Que se vão desencontros
De todos os cais
De todos os portos
Esse desgosto igual em todo lugar
Em todo lugar nas almas e nos corpos
Não por acaso
Esse gosto da falta, esse sal
de amor... Me fez morrer

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Teresa Salgueiro A ESTRADA
https://www.youtube.com/watch?v=tckK2jAu2MY

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SE UM DIA EU CONSEGUISSE SER ÍNDIO


SE UM DIA EU CONSEGUISSE SER ÍNDIO
 Autor: Nilton Bustamante

 Ah, se um dia eu conseguisse ser índio,
passaria a não saber o medo; se um dia eu conseguisse ser índio, olharia com os olhos da alma a alma da Natureza; se um dia eu respeitasse a vida com a naturalidade dos índios, meu coração seria irmão-noite segurando as mãos da irmã-lua, eu seria criança nua que não saberia o que é apanhar, seguraria o rabo do macaco, abraçaria o abraço do tamanduá, pularia nas águas frias junto com os sapos e rãs, saberia dos cânticos, dançaria envolta das fogueiras, ouviria os velhos-sábios, me sentiria amado pelos meus iguais em dias de rituais...

 Ah, se um dia eu conseguisse ser índio,
seria leve, seria amigo do invisível, seria limpo de mente e coração... Seria barro, seria chuva, seria planta, pés descalços sem a pressa de viver, sem a ânsia de alcançar sem saber o quê...




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Canção Indígena - Tangara Mirim (Mborai Marae)
http://www.youtube.com/watch?v=mjE1F_cRbFs


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terça-feira, 25 de junho de 2013



LOUCURA
 Autor: Nilton Bustamante

 LOUCURA
 Autor: Nilton Bustamante

 Parece mesmo loucura
 Ouvir teus passos andando além dos meus
 Procurando,
 Suspirando nós dois sem perceber...
 Estes ares, estas redes
 Arrastando,
 Puxando,
 Pro mesmo lugar, tudo que se foi

 Ah, nesta noite uma vez mais
 Veste teu véu
 Enfeita de nu o meu céu 
 Casa comigo
 Debaixo da estrela que insiste em não ir

 Lembra
 Que somos universo
 Somos verso 
 De tudo que virá, de tudo que ficou 

 Parece mesmo loucura...

 Em meus olhos manchados
 Espelhos mal cuidados,
 Estão escritos com tua letra
 Palavras doces de amor 




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Barbra Streisand
https://www.youtube.com/watch?v=HJNrKHv50X8




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quinta-feira, 13 de junho de 2013

QUANDO A POESIA FALA POR MIM



QUANDO A POESIA FALA POR MIM
Autor: Nilton Bustamante

Quando nos falamos
Mesmo breve fala
Recado contido
Nunca é menos de meia hora, não cabe, não cabe tanta ansiedade
Uma vida inteira é pouco...

Quando os olhos
Percorrem trilhas
Caminho sentido
Nunca é menos de se emocionar um tanto mais de antiga entrega
Algo que a flor mostrou...

Essas labaredas
Queimando tudo
Que me faz lembrar
As falas que não me saem da lembrança, botando tudo a ganhar,
Tudo a perder
Porque o coração é mesmo desespero, é mesmo sedento de amor

Passa o tempo
E não passa o que está plasmado nessas cantigas
Tão recentes, tão sentidas
Tardes de nuvens macias
Árias em que o piano soa quem está perdido, querendo chorar
A emoção da distância, dos encontros em sonhos abertos, livres
Que a espera faz na alma algo sofredor

Ah, esse frio dos solos dos bosques em que pisamos
No Sión abraçando tanta e delicada imaginação,
Esse frio esses solos cobertos de finas camadas
Folhas que ainda acariciam o nu dos nossos pés

São agora minhas camadas de vontade, de desejos,
A cobrir de calor o meu frio... de você, meu amor



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Alberto Nepomuceno - Suíte Antiga - Ária
http://www.youtube.com/watch?v=UeAfKwIUocw
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