terça-feira, 29 de setembro de 2015

RAÍZES DO ÓDIO - Ensaio Dramaturgia


RAÍZES DO ÓDIO - Ensaio Dramaturgia
Autor: NILTON BUSTAMANTE


PERSONAGENS:

Milton
Recruta. 18 anos.
Funcionário da Secretaria de Segurança Pública. 52 anos.

Assumpção
Mãe de Milton. 58 anos.

João
Pai de Milton. 60 anos.
Sargento Guimarães
Militar. 39 anos.

Médico
Militar. 40 anos.

Coronel Figueiredo
Militar. 50 anos

Maria Odete
Esposa do coronel. 45 anos.

Advogado
Profissional liberal. 48 anos.

Porteiro
Funcionário da Secretaria de Segurança Pública. 49 anos.

Vieirinha
Detento. 30 anos.

Braga
Chefe dos investigadores. 50 anos.

Soldados da PE
Polícia do Exército

CENÁRIOS
Cemitério
Residência de Assumpção, João e Milton
Quartel do Exército
Residência do coronel Figueiredo
DEIC

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CENA 1



Luz em foco sobre Milton e a lápide.
         
MILTON, ADULTO,  AJOELHADO DIANTE DA LAJE TUMULAR DOS PAIS, CHORA COMPULSIVAMENTE.   LOGO DEPOIS, GRITA DESESPERADO:
PAPAI, MAMÃE, O QUE VAI SER DE MIM?


(BLACK-OUT)


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CENA 2



O recrutamento militar


 (ASSUMPÇÃO, DESESPERADA E CHORANDO, NUM CÔMODO DA CASA, COM JOÃO E MILTON.)



ASSUMPÇÃO
João! Não! Não deixa! Nosso filho não! E se tiver outra guerra mundial? E se algum comunista jogar uma bomba no quartel? Mais um filho morto? Mirto, não vá, Mirto! Não vá...


MILTON
(emotivo) Calma, mãe. Não tem guerra nenhuma. É um ano só de serviço militar. Prometo me cuidar. Com todo rapaz da minha idade é assim...


JOÃO
(abraçando Assumpção e Milton) É isto mesmo, querida. Passa depressa.  Um ano não é nada. Vamos visitá-lo todas as semanas. Nosso filho não é bobo. O Exército cuida bem dos filhos da pátria...


MILTON
... Já pensou, mamãe? Seu filho de farda. Do Exército. Vou desfilar pra vizinhança toda.


ASSUMPÇÃO
(mais calma, esboça com dúvida um breve sorriso.)

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 CENA3



No quartel



(SOLDADOS PASSAM MARCHANDO. O SARGENTO INTERPELA O RECRUTA MILTON)



SARGENTO GUIMARÃES
(com imponência) Recruta Milton!


MILTON
 (mecanicamente, bate continência.) Senhor!


SARGENTO GUIMARÃES
A esposa do coronel está precisando de um novo ordenança. O anterior deu baixa. Como você é o menos ignorante dessa tropa de encostados sociais, vai assumir este posto. (tom ameaçador) Vê lá, hein?  Se fizer qualquer coisa que contrarie a esposa do comandante Figueiredo, te como o fígado. Entendeu bem? Traste, filho da puta...


MILTON
 (peito estufado) Sim, senhor! Agradeço, senhor!


SARGENTO GUIMARÃES
 (sarcástico) Outra coisa. Fiquei sabendo que sua mãe suborna um recruta pra lhe trazer comida. Não aguento mais ver a velha choramingar na porta do quartel, por sua causa. Não tem vergonha, não? Você é militar ou maricas?


MILTON
Desculpe minha mãe, senhor! Não vai mais acontecer, senhor!


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CENA 4



Residência do Coronel Figueiredo


(MARIA ODETE, ESPOSA DO CORONEL,
COM O SEU ORDENANÇA  MILTON)


MARIA ODETE
 (tom maternal) Milton, meu rapaz. Eu e meu marido estamos muito contentes com seus serviços. Vai fazer seis meses...


MILTON
(com alguma intimidade) Agradeço, senhora! O coronel e a senhora são muito bons e gentis. Já nem me incomodo quando meus amigos me chamam de  peixinho do coronel.


MARIA ODETE
(rindo) Peixinho? É por isso que as mulheres mais novas dos oficiais querem você em seus aquários, não?


MILTON
 (envergonhado, não responde)

MARIA ODETE
 (tom maternal) Diga-me, meu rapaz, como são seus pais? Sua casa? Tem namorada?


MILTON
Não, senhora! Não tenho namorada. Só na matinê do cinema, eu paquero algumas garotas. Nada sério. Minha casa fica lá no subúrbio, Zona Norte. Somos filhos de imigrantes. Os primeiros do bairro vieram lá do Brás e da Penha. Compraram lotes e, nos fins de semana, constroem suas casas. Sempre foi uma luta.

MARIA ODETE
(rindo, moraderadamente) Por isso é que você fala mançã, mortandela, sangüiche, não é mesmo?...

MILTON
(súbito entristecimento) Minha mãe viveu um drama terrível. Eu sou o  caçula. Vinte anos atrás, em São Paulo,  houve uma grande epidemia. Tifo. No meu bairro, muitos caíram doentes. Os hospitais lotaram. A morte trabalhou muito. Levou muitas e muitas vidas.


MARIA ODETE
(aproxima-se. Dá-lhe maior atenção)


MILTON
(olhando o vazio) Na época, eu não era nascido. Meus pais tinham um único filho, Nelson, de doze anos. Adoeceu com a febre tifóide. Foi levado para a Santa Casa. Minha mãe conseguiu ser voluntária para ficar perto do filho, além de tratar dos outros doentes. Ela não comia. E sofria, sofria, vendo pessoas morrerem. Todos os dias, as mesmas tragédias. E a cada óbito, minha mãe se agarrava mais ainda ao filho. Iam definhando juntos. Como se os dois padecessem o mesmo castigo. O meu pai, todas as noites levava chocolates para os enfermeiros e alguns pacientes. E chorava também, vendo mulher e filho morrendo...


MARIA ODETE
(pegando as mãos de Milton, penalizada)... O seu irmão curou-se? Conseguiu sobreviver?


MILTON
Certo dia, minha mãe atendia seus pacientes em outra ala do hospital. Foi chamada às pressas. Nelson agonizava. Não aguentou. Morreu nos braços dela. Minha mãe, enlouquecida, saiu gritando com o filho morto no colo,  pelo hospital.


MARIA ODETE
(com lágrimas) Coitada... E quando você nasceu? Dona Assumpção não superou a dor com a vinda do novo filho?


MILTON
Meus pais me sufocaram. Coitados. Queriam me salvar de todas as dores da vida. Veja, senhora, meus pais até hoje me trazem balas, aqui no quartel, como se eu fosse um menino. Acho que eles não querem que eu cresça. Imaginam que podem me perder. Mais uma perda, entende?

MARIA ODETE
 (curiosa) E sua mãe, depois de tudo?


MILTON
 (sem forças) Até hoje ela grita, correndo pelo quintal de casa, pedindo socorro. Imagina o Nelson em seus braços. Como se tudo fosse somente um pesadelo. Que pode acabar a qualquer momento. Mas nunca termina...


MARIA ODETE
(solidária) Aqui não é o seu lugar. Você precisa ficar ao lado de seus pais.


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CENA 5



Casa dos pais de Milton,
Assumpção, João e o Sargento Guimarães
se encontram.


(PALMAS NO PORTÃO)



ASSUMPÇÃO
(nervosa) João! É o sargento Guimarães, aí, no portão, de novo. Vá lá falar com ele. Acabe logo com isso. Não aguento mais. Nem nos fins de semanas...


JOÃO
(vestindo as calças, apressado) Tem certeza? É todo mês esse inferno. O que os vizinhos vão pensar? Esse jipe militar parado aí no portão de casa...


ASSUMPÇÃO
(começa a chorar)


JOÃO
(ofegante e mau humorado) Pois, não! O que o senhor deseja, sargento, desta vez?


SARGENTO GUIMARÃES
 (sorrindo, irônico) Bom dia, senhor João! Como tem passado? E o seu filho, Milton? Como vai na vida civil? Uma boa, não? Família unida. É assim que tem que ser. Sempre falo isso...


ASSUMPÇÃO
(chorando) Sargento, por favor, deixa nosso filho em paz! Já não basta a humilhação... Você pensa que somos ricos, é? Somos não. Meu marido sai às cinco da madrugada para trabalhar lá no Brás e volta às onze da noite. Folga só aos domingos.


JOÃO
(alterado) Cala a boca, Assumpção. Vá pra dentro. Olha os vizinhos! Deixa que eu resolvo.



SARGENTO GUIMARÃES
(ombros encolhidos) Ô, seu João. Péra aí. Tô aqui como amigo. Vim para ajudá-lo. Tenho que levar um calmante pro doutor, médico do quartel. Quer que explique de novo? Tim tim por tim tim? Só mais três parcelinhas, e tudo resolvido. É isso aí.



JOÃO
(indignado) Não é tim tim por tim tim. O que vocês querem é tutu e mais tutu. Um em cima do outro. Você falou da vez passada que era a última, lembra-se?



SARGENTO GUIMARÃES
 (solene e falso) Não. O senhor está enganado. Francamente. Nós, lá no quartel, gostávamos do recruta Milton. Queríamos o bem dele. O tempo todo. Ele era o peixinho do coronel. Só na manha do gato. Tá me entendendo? Poderia seguir carreira, até. Mas dona Assumpção ia toda santa semana chorar as pitangas pra mim, lá no quartel. Queria liberar o filho do serviço militar. Insistiu tanto que eu me compadeci dessa pobre mãe. Intercedi junto ao doutor médico para arrumar as coisas pro Milton bater asas como passarinho. Livre! Corremos riscos, mas seu filho ficou livre, não é mesmo? O menino tem tanta sorte...



JOÃO
(cabisbaixo.) ...Tá certo. Tá certo. Vou abrir a carteira pela última vez. Tome aqui os três cheques. As três parcelas que você falou. E nunca mais volte aqui.


SARGENTO GUIMARÃES
(sorrindo, bate continência.) Sim, senhor! É uma ordem. E ordem não se discute. Adeus. Ah! Só pra deixar claro: nunca em hipótese alguma NINGUÉM poderá saber desse nosso acordo. Entendeu bem, senhor João?


JOÃO
 (abana a cabeça, concordando.)

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CENA 6

 
Anos depois. Nos recintos do DEIC


 
BRAGA, CHEFE DOS INVESTIGADORES
Ô “Miltão”. Dá o alerta pra turma, rápido. Tem advogado, filha da puta, lá na portaria, com papel da justiça querendo fuçar por aqui. Está procurando o Vieirinha.

MILTON
(rindo) Pode deixar, chefia. A gente vai enrustir o sacana. O filho da puta não vai encontrar ninguém na carceragem. O Vieirinha nunca entrou aqui no DEIC, não é, chefia?

BRAGA, CHEFE DOS INVESTIGADORES
É isso aí, “Miltão”. Vai lá na portaria receber esse puto. Dá canseira nele. Roda o prédio todo. Faça o cara de palhaço...

MILTON
(atende a ordem. Vai à portaria)


(NA PORTARIA)

ADVOGADO
(revoltado) Minha liberação está demorada, por quê? Estão ganhando tempo? Eu sei bem como vocês trabalham...

PORTEIRO DO DEIC
(irônico) Êeeeee... Calma aí, doutor. Tô fazendo o que posso. Não ganho tanto para trabalhar assim rápido...
Pronto. Chegou o  Milton, que vai acompanhar o senhor.


(MILTON E O ADVOGADO VÃO EM DIREÇÃO AO ELEVADOR)
 PORTEIRO DO DEIC
      (irônico, chama atenção do advogado, que se vira)

Doutor! Doutor! Não posso deixar de desejar: boa sorte, viu?!


ADVOGADO
 (nada responde. Continua caminhando)

PORTEIRO DO DEIC
 (fala em tom baixo) Que o seu cliente se foda!

 ADVOGADO
Por favor, Milton, leve-me para a carceragem principal. Eu sei que há outras. Cá entre nós, agora que estamos sozinhos... Eu sei que vocês esconderam o meu cliente. Ele tá ‘frio’ aqui dentro. Mas tenho evidências. Fortes evidências. Uma equipe o trouxe para cá. Leva quinhentinho só para me dizer se ele está vivo.


MILTON
Que isso doutor!? Quer comprometer minha carreira? Não pego pau de ninguém. Vou fazer de conta que não ouvi essa afronta. (OS DOIS SAEM DO PALCO)


 (E, QUASE QUE IMEDIATAMENTE, MILTON E O ADVOGADO ENTRAM NO PALCO)

ADVOGADO
Pô! Assim não dá. Já fomos em todos os andares. E nada. Estou com os pés fervendo. Vocês não vão entregá-lo mesmo. Mas vou falar uma coisa. Na linguagem de vocês. Pode espalhar: se eu pegar o puto que está escondendo meu cliente, vai se danar. Espere pra ver. (sai revoltado)

BRAGA, CHEFE DOS INVESTIGADORES
 (chega, feliz.) E aí, “Miltão”? O advogado filha da puta deu muito trabalho? Eu sei que você não leva nenhuma grana. Gosta do seu serviço, não é mesmo?  Ô gente boa, tamos com pouco pessoal por causa do feriado de amanhã. Daqui a pouco vamos colocar os hóspedes no pau-de-arara e descer o cacete. Vamos inaugurar os azulejos novos. Fica mais fácil de lavar e tirar as... Você sabe, né. Precisamos da sua ajuda.
(rindo) Já tá noite, este é o horário da verdade. Da recreação. Você vem?


MILTON
Pode deixar, chefia. Tô nessa.


(BLACK-OUT)
(OUVEM-SE GRITOS DE DOR E  SONS DE ESPANCAMENTO.)

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CENA 7

 

Luz em foco sobre Milton e a lápide

NOUTRO DIA. FERIADO DE FINADOS. NO CEMITÉRIO. MILTON USA A LÁPIDE DOS PAIS COMO SE ESTIVESSE DIANTE DE UM CONFESSIONÁRIO.


MILTON
(meigo) Oi, Mamãe. Oi, papai. Hoje vim aqui visitar a campa da família. Como vocês estão? Tá tudo largado. Abandonado. Esse mato todo... Vou dar um troco na administração. Vão dar um trato. Não se preocupem. Ontem à noite trabalhei até mais tarde, lá no DEIC...


(NO CANTO OPOSTO, NO PALCO, FOCO SOBRE CENA DE TORTURA. TRÊS HOMENS SENTADOS, ALGEMADOS. MILTON VAI AO ENCONTRO DELES. MILTON CONTINUA COM O MONÓLOGO)


Sabe papai, pegamos esses caras (fala apontando os três homens sentados) e demos choque, porradas...

(com sentimento de vingança  pratica as mesmas cenas de tortura) eu peguei o cassetete com as duas mãos, e bati... bati... bati...  até não aguentar mais... Eu queria continuar batendo, mas não podia. Eu estava exausto, sem forças.
Toma seus filhos da puta, seus sacanas! Vão pagar também aqui na carceragem...

(Milton perde as forças e vai descansar sobre a laje tumular) Pronto, papai, eles pagaram por tudo o que o senhor passou naqueles dias da minha juventude. Pela humilhação. Eu descontei neles. Não quis nem saber.

(entram em cena, centro do palco, soldados da  PE  empurrando João, pai de Milton. Milton interage com a cena. Em cantos opostos do palco há luzes destacando a lápide e os três homens torturados, sentados.)

Lembra-se papai, quando uma sindicância militar descobriu o esquema de baixas do Exército? Descobriu vários cheques na conta do oficial médico e do sargento Guimarães? Inclusive aqueles três últimos do senhor.  (chorando) A Polícia do Exército  nos prendeu. Eu e o senhor tratados como bichos. Lembra como apanhamos? Ainda vejo o interrogatório. Eles pisando em cima do senhor, papai. E o senhor gritava, gritava...
(Milton põe as mãos nos ouvidos. Os soldados da PE torturam João que grita de dor) Pare de gritar, papai. Minha cabeça vai estourar.

(Milton volta à laje tumular e encosta o rosto junto da foto da mãe. Fala infantil)
Mamãe, se tiver epidemia de tifo, outra vez, a senhora vem cuidar de mim? Igual que cuidou do Nelson? A senhora vai me amar igual?  O Nelson está aí desse lado, com a senhora e o papai? Por que vocês não falam nada? O que sobrou da minha vida? (olha, em sequência: os três homens torturados, a Polícia do Exército com os coturnos sobre João e depois para a lápide)


 (após um silêncio, começa um choro compulsivo, ajoelhado. E diz quase inaudível)

Eu estou sozinho...  estou com frio...


(grita com desespero)

PAPAI! MAMÃE! O QUE VAI SER DE MIM?



(BLACK-OUT)

– FIM –






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CÁLICE
https://www.youtube.com/watch?v=376c56dmHmY




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domingo, 27 de setembro de 2015

VIAJANTE DE TODOS OS TEMPOS


VIAJANTE DE TODOS OS TEMPOS
Autor: Nilton Bustamante

Segue um viajante pelo deserto, mas o calor é muito e os imprevistos maiores ainda. Ele não se preparou para a viagem, não se organizou devidamente com mapas, paradas ou previsões. E a fome chegou como chegam todas as necessidades; e a sede se fez como se faz toda aridez, e as pernas se dobraram pelo cansaço, o cansaço que tira as forças de querer continuar, até entregar-se às miragens de uma mente conturbada em tormentos de todas as mazelas humanas, de quem deveria saber das consequências, dos perigos dos sem caminhos... Até que, por alguma razão, por algo que podemos chamar de invisível auxílio de última hora, percebe, o caído, que logo ao seu alcance um oásis... E, uma força o impulsiona. Sem saber como, chega o viajante se rastejando, de joelhos, último esforço, e beneficia-se da brisa suave da sombra refrescante das palmeiras. A água traz-lhe sobrevida e alegria do novo ânimo. Adocica seus lábios e língua com o doce das tâmaras trazendo-lhe o benefício de nova energia. E após voltar a sua razão e melhores condições, organiza-se, e melhor preparado com nova lucidez enfrenta o término da jornada com melhor atino: a boa busca de seu melhor destino.

E da mesma forma, quando segue pela vida, desorientado pelos descaminhos à mercê do tempo, tropeçando pelos imprevistos, sofrendo as (in)consequências de quem não se preparou, castigado pela fome de entendimento, pela sede de sabedoria, sem instrução alguma ou quase nenhuma, sem dar ouvidos a nada e a ninguém, com as pernas bambas de quem carrega os pesos do mundo, o cansaço de uma vida sem sentido, entregue às miragens de uma mente conturbada em tormento de todas as mazelas humanas, preso a vícios seculares que escravizam a todo tipo de perigo, dos sem caminhos...
Até que, por alguma força maior, por algo que pode-se chamar de invisível previdência, percebe, o caído, que logo ao seu alcance um oásis em forma de templo, igreja, centro espírita, sinagoga, instituição religiosa ou filosófica, e algo o impulsiona; pois, sem saber como, chega o viajante alquebrado e logo se beneficia da brisa acolhedora, da sombra refrescante das vibrações das preces regeneradoras das forças psíquicas e espirituais,
e a sede e a fome de muitas respostas são atendidas, e pouco a pouco o doce de novas esperanças trazem o benefício de nova energia.
Após voltar a razão e em melhores condições organiza-se,
e preparado com a imperiosa lucidez enfrenta,
feliz,
o término da jornada com melhor atino,
a boa busca de seu melhor destino:
o encontro com Deus, Pai de Jesus Cristo, Pai de todos nós!
...





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Vivaldi "Et In Terra Pax"


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

“Uma sombra passou por aqui”


Mas essa chuva de vento, essa surra de areias e pedras fazem deserto, fica-se longe longe, tão longe que não mais as trovoadas, não mais raios, somente as agitações, os vulcões, longe dos olhos. Tentar ficar ao alto; ser nos dias, noite.

Não te encubras de proteções desnecessárias, não há perigo. A noite é mesmo poesia, é o que não dá para ler, nem escrever. Não há linhas, não há regras para sonhos que insistem em deixar-nos acordados noutra dimensão, outra imensidão da alma.

Desenhar teu nome, teu rosto, teu sorriso em tudo, tudo que de ti falou ou se calou. Rabiscar tudo em cada estrela, no sol, na lua, na vontade nua do encontro, o tão desejado encontro das almas ponteiros seguindo seus caminhos, suas marcações...

Tatuagem de “uma sombra passou por aqui”, deixou-me todo riscado, todo envolvido com tudo que faz lembrar, com tudo que é de ti, amor!









sexta-feira, 4 de setembro de 2015

UM MINUTO PARA REFLETIR


UM MINUTO PARA REFLETIR
                         Autor: Nilton Bustamante

Queridos irmãos,

Os habitantes planetários pertencentes à Humanidade terrestre desde os tempos mais longínquos, imemoriais, estão no processo evolutivo do Grande Educandário que é este nosso planeta Terra. Somos motivados pelas ações da Natureza, pelas participações de nossos pares e, principalmente, pelos invisíveis acompanhamentos e inspirações de nossos Irmãos angelicais sob a coordenação de Jesus Cristo, o Mestre dos mestres.

Não é difícil supor que, onde tudo que é constituído de uma Engenharia Divina, uma Lógica Superior, desde a complexidade dos organismos dos animais (incluem-se os homens), as estruturas químicas e biológicas das plantas, as relações intrínsecas dos gases, dos minérios, das águas, e dos enredos dos movimentos dos astros pelo universo conhecido, há uma força que foge de nossa capacidade de reflexão filosófica e científica. Mas, livre dos preconceitos de toda e qualquer origem, o livre pensador chegará ao consenso que para manter essa Grande Ordem há de se ter vigente uma Grande Responsabilidade que a tudo conduz, assim como o maestro em uma orquestra: não emite som algum, é o único que não toca instrumento, no entanto é a figura principal e vital para organizar e fazer todos os músicos se entenderem dentro da grande sinfonia para que possa-se expandir com perfeição, a complexidade matemática de suas notas musicais.

O coração humano é um coração que está aprendendo a amar; melhor dizendo, está nos primeiros ensaios de algo que estamos experimentando sentir e podemos, timidamente, chamar de amor, mas ainda longe do que virá das alturas, o verdadeiro Amor. Sim, ainda maldizemos, ainda nos maltratamos, sinal claro e evidente que cursamos um estágio por muito a progredir, no entanto podemos verificar também que muito já se avançou nas Eras e o homem atual já possui sentimentos melhorados, basta assistirmos tantos exemplos de desprendimentos com pais, filhos, entes queridos, ou com os animais de maneira geral e até mesmo com outros seres humanos desconhecidos que são resgatados em situação de perigo, pelo simples ato motivado pela fraternal solidariedade.

A vida é o bem maior que temos! Devemos, pois, aprender a ver e a enxergar a tudo o que nos rodeia, a tudo que nos habita e transcender!

Não testemunharemos as religiões, não levantaremos bandeiras de guerra para defender opiniões! Sejamos livres no único elo que nos une pelo entendimento ao Criador: o Amor!

Tenhamos calma e prudência nesses momentos difíceis. Sabemos que as transformações fazem seus movimentos que causam agitações, mas são necessários para modificar o curso da história, a nossa bendita história humana. Se nossos irmãos que devem comandar com respeito os seus comandados, por ventura, tenham se perdido nas armadilhas das imperfeições morais, se governantes tenham extrapolado e vendido a própria consciência, façamos a corrigenda em nós mesmos para o exemplo sair da base ao cume das estruturas político-sociais. Se caso venhamos lidar com irmãos destemperados que foram levados pelas correntezas das barbáries, sejamos então outros campos apropriados para recebermos melhores sementes para as benditas germinações.

Hoje, o homem tem outro tipo de fome, outro tipo de sede!

E por maiores que façam os castelos contemporâneos do poder temporal, das novas igrejas com promessas vestidas com outras roupagens para esconder mentiras antigas, ou que surjam outros e novos impérios com mãos sujas de sangue, nada serão, não vingarão, pois as Leis que regem a Lógica Sublime da Evolução, é maior, eternamente maior.

Nada poderá fazer o homem que seja mais que uma flor, uma “simples” flor se abrindo e esparramando suas cores e perfumes!

Que o Amor do Pai seja por nós, sempre!

Oremos!



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Vivaldi – GLORIA
https://www.youtube.com/watch?v=RMHguvZPcqQ




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Em memória de Alan Kurdi, o menino refugiado


Em memória de Alan Kurdi, o menino refugiado Nilton Bustamante Nessa tela de cinema passa muitos filmes, desde sempre, desde muito, além do tempo que se possa entender. Alguns tristes, alguns bonitos, outros nem uma coisa nem outra. A montagem dos roteiros vem de muito longe, de outros planos, planos superiores, quando se fala da importância da formiga e do grão; da mente revestida de corpo e da estrela constelação... O árduo caminho que se percorreu, muitas vezes é jogado ao léu, na inocência quase infantil, quase sem saber o que fazer, os homens sorriem e choram e não aprendem de uma vez, muitas são as idas e vindas, os tormentos, as tribulações do corpo-espaçonave entrando na vibração do esquecimento, saindo quase sempre para a vibrações do arrependimento... Somos vítimas de nós mesmos, não somos os mocinhos, estamos mais para os vilões, ficamos na antessala dos passos perdidos e fazemos pose com jeito de quem acredita ser muito mais do que realmente consegue; pois as máscaras enganam a quem as usa e a muitos mais... “De tarde quero descansar, / Chegar até a praia e ver / Se o vento ainda está forte / Vai ser bom subir nas pedras / Sei que faço isso pra esquecer / Eu deixo a onda me acertar / E o vento vai levando tudo embora / Agora está tão longe / Vê, a linha do horizonte me distrai... / - Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinhos” / Mas não consigo me distrair, não consigo ver mais cavalos-marinhos, agora há uma criança de três anos com os pulmões afogados em sonhos que se foram, sem ter chance de esquecer, só a onda a acertar a vida, levando tudo embora. E aqui mesmo há outros Josés e Beneditos, outros esquálidos meninos querendo aprender a nadar pela vida... Pelo menos, sei, sinto, preciso me manter feito ave contra o vento pegando voo, assim como essa criança, esse menino, esses homens e mulheres salgados pelas penas do mundo, apenados por simplesmente existirem entre corações que estão pesados feito pedras e se esqueceram de ser gente com o brilho da chama do divino Criador. Preferem canhões, metralhadoras, bolsa de valores e muros altos, muitos muros... Pelo menos, sei, sinto, acredito, que as legiões de anjos são todos meninas, meninos, que são recolhidos feito estrelas caídas pelas praias, pelos desertos, pelos campos, pelas montanhas, pelas ruas das grandes e pequenas cidades, aldeias... todos são recolhidos por Deus! Vamos orar!
_______________________________ Vento litoral - Renato Russo & Cassia Eller https://www.youtube.com/watch?v=B5aXjxfxPTM




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