segunda-feira, 28 de junho de 2010

SERES-PLANTAS

SERES-PLANTAS
Nilton Bustamante


Estamos em corredeiras de vida fazendo luz, fazendo sombra. O tempo é habitante ocasional nessas águas que escorrem de um plano a outro.

Nossas mentes obcecadas aos detalhes das imagens que nos lembram a todo instante o próprio sofrimento é nosso declínio vicioso ao distanciamento do Espírito do Amor... Mesmo a morte da massa celular sendo nave passageira, não poderá dar lugar às ilusões e filmes que criamos em nossas mentes, pensando nós, erroneamente, sermos vítimas do mundo, pesando assim os nossos corações; serão inutilidades que deverão ser descartadas, não serão de serventia às viagens interdimencionais dos nossos espíritos.

Nossos pés no chão são raízes, somos seres-plantas neste planeta Terra, podendo oferecer frutos, alimentos. O resultado oferecido é substanciado pelo que nos nutre. E quais serão as buscas de nossas raízes? Em quais camadas estarão essas raízes fixadas? – teremos que nos perguntar sempre, bem no íntimo de nós mesmos onde não há lugar para esconderijos.

E outros significativos questionamentos virão:

Se de nossos ramos o fruto foi escondido por nós próprios somente para nossos celeiros, só pra ofertar ao nosso egoísmo, que pesadelo terá esse gosto para nossos paladares?

Se o fruto foi formado de infantilizados sentimentos, ou de ordem moral duvidosa causando estranheza e malefícios, quais pesos terão nossas consciências por carregar?

No entanto, um dia poderemos crer e confiar nas leis da Natureza, da regeneração e do bom trabalho; poderemos oferecer algo que possa ser o nosso melhor, porque fazer outrem provar parte do que somos é uma grande responsabilidade, oportunidade de sermos inseridos e digeridos nos campos das relações humanas...

Em gesto de recolhimento, pediremos ao Pai Jardineiro que nos inspire em sermos bons alimentos, que não sejamos indigestos, nem sejamos por demais causadores de malefícios alheios.

Queiram ou não, a qualidade de nossas ofertas é expressão de nossas raízes. Queiram ou não, nos alimentamos uns dos outros, das essências.

...

domingo, 27 de junho de 2010

SOLIDÃO



SOLIDÃO Nilton Bustamante


Solidão:
ausência de seres humanos dentro de si; essa distância entre a própria essência e a vida que se leva.
Solidão,
em peregrinação pela alma, visitando os lados mais extremos, até onde se pode chegar.
Solidão,
em cada ponto visitado deixa seu rastro para logo partir sem dizer adeus, sem se importar.
Solidão,
instala-se feito população ribeirinha do Alto Xingu acenando para a única embarcação que leva e traz gêneros de primeira necessidade – sonhos de uma vida melhor. O barco vai e a saudade vem numa absurda equivalência.
Solidão,
esta viagem, esta bandeira, saída do porto, da porção habitada da alma, vai desbravando na desesperada aventura de encontrar algo que, no fundo, não se quer encontrar.
Solidão, essa gripe que não se deixa ir pra não se ficar sem atenção... inda mais só.

PÁSSARO FERIDO



PÁSSARO FERIDO
autor: Nilton Bustamante

Pássaro ferido, junta teu pó e cubra de tuas próprias cinzas todo teu ser, e voa. Uma luz pode vir de longe, pode alcançar tua morte, desfazer por sorte tua dor.
Voa, então, alcança a constelação.
Voa, então, sente a contemplação.

Oh, pássaro sentido, em teus olhos já brilharam o amor, agora não querem falar; o medo e o rancor dos tempos difíceis para tua compreensão pesam egoísmo em orgulho agressor.

Oh, pássaro ferido! Abre teu peito, ergue tuas asas, lança-te sobre o precipício, lança-te no vazio, não te entregues. Antes ficar sem as telhas, sem abrigo, amargar os temporais e olhar pro céu aberto, livre pro voo e acelerar o coração outra vez diante do desafio do que está por vir... Não engane teu espelho dizendo que não te apaixonas por seres exigente. Não percebes que não é o medo de voar, mas sim o fascínio do medo de não manteres o voo em completo domínio?

Oh, pássaro ferido, não tenhas tanto receios. Voa noite, voa luz, voa o amor, porque o frio nada mais é que a lembrança do abraço quente. Teus lábios solitários, mesmo se distraindo com outros tantos, não sentem o gozo que sentiram um dia, mesmo burlando todas as leis, na redenção de todas as sentinelas, na entrega da alma que te fez ninho no corpo febril.

Oh, pássaro que não mais pia, já não canta, não fala doce, não toca tuas melodias que já foram lindas por quem pode recomeçar o paraíso em tuas chamas. Tanto medo, por quê? Abra tua janela, abra teus horizontes e que tu vejas a estrela na grande espera. Que tu vejas que sou eu, outro pássaro ferido, juntando meu pó, cobrindo minhas cinzas e voando pro teu encontro, pro teu abraço, pra lembrar a revelação que fomos nós, que somos nós, pássaros feridos, morrendo todas as vezes, de amor...


quarta-feira, 23 de junho de 2010

BICICLETA E MADRUGADA



BICICLETA E MADRUGADA
autor: Nilton Bustamante

Ando de bicicleta pela madrugada, olho o céu e imagino... você.

O que será por detrás da cortina escura repleta de noite onde sua alma escondida atua? Tento tanto tanto tanto espiar pelo seu olhar. Mas como fazer? Não, não é tão simples assim... pelo menos pra mim. Chego a fazer parte desse silêncio, vulto se equilibrando nesse delicado momento que tento entender e quem sabe encontrar a entrada
por felicidade esquecer-me de buscar a saída?... Quando o que não é possível se distrai, encosto meus dedos nas estrelas, que de tão próximas me deixam experimentar o frio que cai em fino brilho no espaço negro, negro, negro. Eu não posso mais com esse açoite, esse frio sem você. Corta fundo, sangra e a poesia não ajuda, apenas machuca ainda mais e mais.

O tempo voa como pluma livre, enfeite qualquer, detalhe esquecido pela menina que quis ser moça, moça que quis ser mulher para fugir das labaredas e dos dragões. Essa menina, essa mulher, foge, foge, foge o mais que pode. Só não larga o sonho e a vontade de ser amada por quem possa mostrar mais do que mãos arrancando seios e coração aos pedaços...

Posso imaginar pelos cantos, por baixo do tapete, alguns beijos, alguns sonhos esquecidos... Mas, não vejo você por detrás da cortina. Não consigo, não consigo...

Sinto que ainda em você há esperança quando passo diante de sua janela e vejo o vaso de flor a espera do sol. Um sol sem nome, que apenas faça acompanhar a trajetória da vida pra valer a pena pra essa menina, essa mulher que é mesmo flor debruçada na janela
– disfarçadamente pra ser notada , querendo sentir um pouco de calor, à espera da luz de outros olhos para mostrar suas cores, perfumes e miados... Até os prisioneiros têm o direito de alguns minutos para se encontrar com o sol! .

Estar assim tão só, às vezes é opção; às vezes, decepção e outras, distração.

Nessa madrugada em que os corpos dormem e as almas fogem talvez você esteja vendo o mesmo céu, as mesmas estrelas, o mesmo brilho que cai do espaço, altar da noite, sentindo o mesmo ar, o mesmo frio. O que será por detrás da cortina escura repleta de noite onde sua alma escondida atua?
e não diz.

O que eu sinto não dorme cedo.

Hoje somos segredos na noite fria, somos passeio, somos apenas vultos se equilibrando em delicado momento... Hoje somos bicicleta e madrugada.


INITIARE (vivido por mim em desdobramento)


INITIARE
  Nilton Bustamante


Vi minha liberdade ser arrebatada grosseiramente. Não tive tempo nem para entender o que estava acontecendo.
Vi-me sendo levado para um lugar desconhecido. Passei tantas fronteiras até ser largado a esmo, sem rumo, sem nada e no nada.
Fui despojado de minhas roupas, dos meus bens, da minha família, dos meus amigos, do meu conforto, dos meus domínios. Estava completamente só, no meu “eu”.


Ao sentir aquele desamparo, comecei instintivamente a caminhar.


Eu tinha que voltar para meu mundo, meu universo, meu porto seguro, minha história. Sentia-me um pombo-correio largado à distância.
Desnudo, não sei como, fui coberto por um pedaço de pano que se transformara num semimanto.
Dia após dia (sabe-se lá quantos?) andei por um caminho que não terminava e nem chegava a lugar algum.
Depois de muito caminhar, notei alguns movimentos. Quando dei por mim, estava perfilado à beira de uma estrada, com veículos passando. Havia, também, outros andarilhos. Passavam por mim sem parar, sempre em frente e em silêncio.


A partir deste momento coisas incríveis foram acontecendo:


Depois de ser “seqüestrado”, largado no nada, seminu e já completamente sujo, fétido, com cabelos e barbas de aspectos grotescos, continuei andando sem, contudo, pedir qualquer tipo de ajuda. Sim, não pedi ajuda alguma. Simplesmente meus olhares cruzavam com outros olhares curiosos vindos das pessoas, de dentro dos automóveis. E eles seguiam em frente e eu também.
Tomado de forte sentimento de autopiedade pensava: será que essas pessoas não percebem o meu estado? Meu sofrimento? O quanto já passei?


E com veemência aflorou a discriminação: 


Será que essas pessoas não observam que não sou igual a estes andarilhos? A estes mendigos? Que sou diferente? Se ao menos soubessem quantos carros possuí, das casas onde habitei, das coisas que sei, das histórias que vivi...
Não suportava mais aquela indiferença.
O tempo foi passando e quando meu orgulho foi deixado de lado aproximei-me de um automóvel, provocando quase um desastre: a mulher que o conduzia fechou os vidros rapidamente e, trocando de faixa viária, fez outros veículos frearem bruscamente. Diante de tanta confusão recuei, sem poder dizer uma só palavra, uma só sílaba e continuei a andar apressadamente sem mais parar. Atônito, comecei a notar o grande número de andarilhos à margem da estrada, à margem da vida, à margem das pessoas estabelecidas. Quais histórias carregam dentro de si?
Lembro-me que cheguei a uma cidade pacata, porém muito arrumada e limpa.
Chamou-me a atenção o fato de os moradores serem todos anciãos, rigorosamente asseados e organizados para o fim da vida carnal.
Nunca estive tão quieto, tão calado, tanto tempo sem conversar.
Nunca me senti tão pobre, tão desprezado.
Que sensação horrível ao me aproximar de alguém e ser imediatamente evitado... Contato zero.
Aí eu parei de andar. Comecei a refletir.
Lembrei-me que outro dia, orando, pedi a Deus que me proporcionasse algum meio para me conhecer melhor. Queria ter consciência do que ainda de falho habitava o meu íntimo?


Oh! Pai, agora percebo...


Preciso despojar-me dos meus bens, das minhas roupas, dos meus diplomas, das minhas conquistas, do meu corpo e verificar o que realmente sobra do meu ser, da minha essência.
Preciso repensar minha posição perante a vida.
Nesse novo plano de realidade, como tela de cinema a qual fui introduzido, vi-me na indiferença das pessoas que conduziam seus automóveis. Vi-me egoísta desejando autopiedade. Vi-me discriminando outros iguais, apesar de me encontrar em nível terrível de pobreza espiritual.
Minha alma deve estar limpa, organizada, asseada como aqueles anciãos aguardando o momento da passagem.
Obrigado, meu Pai, por permitir que eu trilhasse a estrada do meu próprio espírito.


E assim, percebe o homem que é um pombo-correio largado pelos campos de Deus; o homem ao retornar, verifica que ele e sua obra exposta ao mundo são a própria mensagem.


...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

ASAS




ASAS
 Autor: Nilton Bustamante

 Houve um tempo em que eu não sabia
 Que asas eram pra voar
 Eu tinha as minhas e brincava arrastada
 Ajoelhada ria sozinha

 Houve um tempo em que eu até podia
 Andar sobre o muro
 E ver o mundo todo até onde conseguia
 Até o dia virar noite
 Meu vestido de rainha era apenas pano
 Engano que me dei
 Sem ninguém perceber que eu era só
 Até a noite virar dia

 E o sonhos viam soltos, vinham tortos
 Me torciam na cama
 Ria baixinho pra ninguém saber era só
 Até distrair, adormecer

 E eu voava lindo, voava alto e não sabia
 Que asas eram pra voar
 Pensava que era só em meus sonhos

 Eu tinha asas e brincava arrastada...
 Até distrair, acordar
 . 




 ....


 Condor (Oswaldo Montenegro)
http://www.youtube.com/watch?v=KLZITm19Vvk








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GAIVOTA


GAIVOTA
Nilton Bustamante

Ai que linda e branca gaivota
Voa, vai sem olhar para trás, corta pensamentos em mil penas
Vai por mim além-mar,
Vai em mil ondas, volta em pedaços mil,
Vai gaivota e volta mulher; vou-me homem e volto imaginação

Ai que linda e verde onda – são teus olhos? -
Vem, me abraça, recolhe mil e um pedaços que sou eu
Vem, traga-me em tuas marés, traga-me que me resta
Vai gaivota, não esquece de voltar canção

Ai menina linda mulher
Agora silencia, pára o tempo porque não é mais preciso
Cantar, vou-me pelo ar
Vou-me e volto sonhar

Vai voa gaivota que eu volto abandono,
Porque tudo em nós é mesmo fantasia, mesmo coração...

Ai que linda e branca gaivota
Vai, voa e volta mulher
Vai, voa e volta canção

TOQUE-ME


TOQUE-ME
Autor: Nilton Bustamante

Toque-me... Ahãnnn, eu sei como é isso... com você.

É sempre assim, é um sentir-se apaixonado.

Olhar dentro dos seus olhos, sentir vindo de sua alma o arrepio que me invade trazendo mensagens secretas de amor.

Eu decoro seu rosto, suas marcas, suas veias, sua delícia é medida que não consigo medir o todo. Tem sempre mais... Pensou que eu não percebia? Pensou que eu não sabia desse seu sorriso contornando o melhor do mundo, dessas suas pintas constelação e seu colo que me faz gemer feito marinheiro que chega ao cais e se agarra no que mais deseja de uma mulher?

Eu fico aqui, madrugada, ouvindo meu coração se queixar, lamentar sua falta... Olho pela janela e vejo o avião passar alto, muito alto, quase imperceptível, pequeno ruído que lembra viagem, lembra encontro, me vejo na janela, lado de fora, sentado na asa, pegando carona, vento gelado no rosto, e corpo todo quente; olho doce o horizonte, cada vez mais perto, perto, até tornar-se belo, belo horizonte do encontro.

Toque-me, porque eu preciso, eu necessito dos seus dedos diminuindo nossas distâncias, fazendo o caminho de amor. Você deixou-se em suas palavras que insistem, me acompanham por aí. Tantas coisas que não me deixam dormir. Eu pensei que era poeta, que podia suportar. Eu estava enganado, não estou aguentando com tanto de você em mim... Tanto assim.


Toque-me... Com seu sorriso, com suas juras, ternuras iguais de menina apaixonada. Abra seu coração para eu entrar de vez, porque eu quero ficar aí dentro, conversando coisas que lembram fantasias de quem acredita no amor, dessas nossas conversas que levam horas, dias, semanas, meses, anos; pois tudo volta no minuto, no segundo, no instante momento dos olhares-encontros, disfarçados sorrisos e impulsos que nos levam pular um no colo do outro, rodopiarmos feitos piões bobos, deixando o mundo girar, girar, girar... até rirmos das tonturas, das vertigens que nos deixam as pernas bambas, sem forças para nos sustentar.

Toque-me, mais uma vez, isto tudo me deixa tonto, eu quero me apaixonar cada vez mais. Asas de pratas, entre montanhas, nossos encontros em aeroportos particulares, nossa liberdade em segredos quase descobertos... Você chora de amor, eu sei. Eu ouvi, eu vi, eu senti. Uma alegria triste, uma tristeza alegre. Então venha, deite-se em meu corpo e se cubra de carinho, porque você é minha namorada, minha mulher amada, que anda comigo pelas madrugadas, tardes, e todas as manhãs... Deite-se no tapete da sala, e voe brincando de odalisca, beijada pelo mercador de sonhos e desejos. Ah, odalisca, que imagem mais adorável, ver repousar em seus seios escravos dos beijos meus, pequena seda azul com linhas espaçadas, prateadas, sem pinturas nas faces, sem disfarces nos olhos, algo desafiador, de quem confia, de quem sabe do seu poder, o poder de me virar ao avesso e não me deixar mais encontrar o meu centro, nem o certo, nem o errado; nem teto, nem chão.


Toque-me... abrindo suas pernas, porque mesmo elas, estão entregues, estão pedindo, se abrindo, se abrindo, até doer, até... Ah, você sabe bem, nem preciso dizer.

Vem meu amor, faça comigo o que bem entender, o que bem desejar, porque eu já não me pertenço mais. Antes eu era somente uma fala, depois de você sou mil línguas, outras sonoridades, outros tons, outras vertentes, outras dimensões, vencendo e chegando às outras fronteiras de outras gentes que fizeram de seus céus algo que há somente amor...

Você entende tudo sem se esforçar, sem se enganar, ah, meu amor, toque-me com seu olhar, com suas promessas, com suas pressas, com seus dengos, todos esses agora são meus melhores tormentos. Toque-me porque eu preciso saber se estou mesmo vivendo essa vida, eu preciso saber se estou mesmo neste planeta em que sumiram todas as guerras, todos os medos, todas as asperezas, todas as avarezas, as incertezas.

Sabe, meu amor, eu preciso, eu preciso, eu preciso do toque seu, para me despertar, para saber se estou em sonho ou se estou em choque. Ah, essa doce vantagem de quem ama simples, deixar-se ir pelas correntezas, pelos rodamoinhos do coração, nos deixa assim com uma vibração diferente, uma confiança no melhor da vida,  abre todos os caminhos, explica todas as questões, faz as pazes com o tempo, começamos a prestar atenção nas letras das canções...

Mas, não, não espero descanso, não espero sossego, nem águas mansas, não espero calmarias, somente espero que a vida me encante e nada mais.



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Al Green- Rainin' In My Heart
http://www.youtube.com/watch?v=fPxp5BRhKWM

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domingo, 20 de junho de 2010

MÚSICA DE AMOR


MÚSICA DE AMOR
Nilton Bustamante


Suas notas são músicas em cada ponto do céu nesta noite escura
Essas estrelas me acompanham pelas madrugadas em que eu for
E eu me lembro de você, me lembro do amor...

Suas notas bem que poderiam cantar meu nome
Ser sua namorada, ser essa mulher madrugada
Que busca sonhar pensando estar acordada...

Bem que seus abraços poderiam mais me visitar
Sem eu com jeitinho acomodar meu corpo
Em volta do seu, sem ninguém perceber que sou sempre eu...

Ah, amor, você deve saber que a mulher amada
Tem a alma sentida, é mesmo tola e tão delicada
Um encostar de mãos, seus dedos arrumando meus cabelos,
Toques de amor, notas musicais que quero cantar, que eu quero sentir...

Ah, amor, a qualquer hora do dia já é madrugada
Você é minha música em cada ponto do céu em noite escura
Antes seus beijos distraídos e olhares perdidos pudessem me encontrar
Para eu morrer pouco mais de amor...

Bem que seus abraços poderiam mais vezes me visitar
Sem eu com jeitinho acomodar meu corpo
Pensando estar acordada, pensando ser essa sua mulher madrugada
Que por um instante sem-fim, sem tamanho, acreditou que acordou
E o sonho de amor mesmo assim continuou...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ESPERANÇAS E MEDOS


ESPERANÇAS E MEDOS
Autor: Nilton Bustamante

Hoje eu não consigo dormir
Penso em você como quem ama
e não quer esquecer

Me encastelo pra me proteger
Mas sempre fica algo
Pra lembrança ficar me olhando com os olhos seus

Eu sei meu sangue misturou ao seu
Minha alma cresceu, e quando floresce a flor é você

Queria sair agora vendaval de mil megatóns
Andar sonhando por aí,
aonde se é possível ir

Não posso esperar nada além
Nenhum caminho, nenhum carinho,
nenhum pensamento
Que me avise que o amor está chegando, próxima esquina
Que você está vindo
Ouvindo
Meu coração chamando o seu nome
baixinho pra você ouvir

Mas, é que hoje é um daqueles dias que são noites
E eu preciso que você saiba...

Tenho esperanças e medos
Hoje eu não consigo dormir



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Clube da Esquina II - Flávio Venturini
https://www.youtube.com/watch?v=4RWMzcRgYsc



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segunda-feira, 14 de junho de 2010

EU PEDI AO MEU CORAÇÃO


Etta James - I'd Rather Go Blind
 http://www.youtube.com/watch?v=YApNirMC9gM&NR=1


EU PEDI AO MEU CORAÇÃONilton Bustamante

Eu pedi ao meu coração, tantas e tantas vezesNão me atendeuPedi que esquecesse, não deixasse você entrar 
Fazendo o que quer de mim...Não adiantou
Pode acreditar, eu pedi tanto, tanto, tanto...O que posso fazer se eu também vejo você por todo lado, por todos os meus mil cantos?Chego entender meu coração, ele não tem culpaÉ esse amor que vem, que sangra, machuca...E me deixa viver
Minha desculpa, minha fuga é sua fotografia,Frases escritas contornam carinhos, falam de amorFico tão assim, entregue; tão assim, nem sei dizer; essa coisa, a emoção de vocêO tempo todo assim
Pra dizer que amo é tão pouco, tão nada
Não sabemos o que fazemos com nós dois...Não sabemos o que fazer um com outro,
Em meio a tanto agito consigo ouvir o silêncio,Consigo sentir você ao meu lado, sem eu poder fazer nada, nada, nada...
Eu chego ouvir meu coração dizer: te amo, te amo tanto assim...Fico maluco, o telefone com seus números de amor, Fecho meus olhosSó pro meu coração ouvir sua voz dentro de mim...

sábado, 12 de junho de 2010

Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain



Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain
Nilton Bustamante
Um vinho embarca num gole, uma taça prêmio à vida. Uma coragem que o sangue traz quente, o andar pisando leve, flutua, alamedas de Paris. Atravessa a ponte, águas do rio seguem novos caminhos velhos, pombos voam para a paisagem ser mais bonita, pra não esquecer...

Olhos negros apontam o que o tempo não mais vê. Homem cego na calçada à espera dos braços dados e a inesperada vertigem que as almas querem sentir...
A rua sem os riscos, quando o medo quer perder. Mil vitrines de sons que os ouvidos trazem velocidade de trem em estrada de ferro de criança, trem carrossel que não se perde e vai subindo e descendo montanhas e serras, passando reto em todas as estações, pra não esperar nunca mais...


A moça chanel, olhos negros, flutua em nuvens, traz o ímpeto e o calor que a bengala toca leve, as águas escorrendo pelas sarjetas indiferentes, leva o homem cabelos brancos flutuando nas mesmas nuvens, o mesmo vento nos cabelos, sente a vida no toque mágico da escuridão. A liberdade é um sol que queima suave no rosto na subida das escadas...


Amélie Polain ri da juventude, beija a velhice, cavalo sem corpo no alto do prédio não precisa de cela, nem galope, o galope será ela, Amélie pro homem velho, que dispara passando ao lado do casal que reprisa as flores, a entrega, querendo sentir talvez a mesma emoção que um dia os corações despertaram; um doce, uma faca cortando com carinho a fruta, um caminho, vertiginoso destino, o cachorro sorrindo igual à criança, de olho nos frangos girando assados... Desejos e vontades.


As pessoas de tanto enxergar as mesmas cenas, os mesmos quadros, ficam cegas, não mais vêem... A moça chanel segue seu destino, deixa o homem, corre livre escadas acima, trota e some pelos seus campos, os mesmos campos que estão diante de nós, e, quase sempre ficamos parados nas estações esperando, esperando, esperando... braços dados à espera da vertigem que nossas almas querem sentir mas não diz.


OS SETE SUBSÓIS


OS SETE SUBSÓIS
autor: Nilton Bustamante

Uma lenda, uma história, não se sabe bem ao certo.

Dizem que no distante cinturão formado pelas sete montanhas de Lisarb que percorre imensuráveis distâncias, no Novo Mundo, havia ambientes que os olhos dos homens contemporâneos enraizados na tecnologia material não poderiam acreditar ou mesmo compreender: para cada uma das sete montanhas um subsol causando fortíssima interferência de magnífica de cor.

Cada montanha, de maneira ímpar, era tingida por radiações de uma das seguintes cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. Os habitantes daquelas montanhas estavam organizados em comunidades tribais que a tudo enxergavam na mesma pigmentação que os influenciava desde os primórdios.

Apesar de saberem, pelos contos, da existência de outras montanhas e tribos, nunca se atreveram a traspassar os domínios conhecidos, por medo e ignorância, pois estavam em estado latente de guerra; assim não houve encontros ou batalhas. Entre todas as tribos corria em comum, nos ensinamentos dos anciães, que o modo como viviam era consequência de um grande e generalizado rompimento e que estavam condenados pelos erros longínquos dos seus ancestrais, os quais, através da luta contra o domínio da grande noite, perderam a confiança do Pai da Luz que os tinham como aliados. Guerrearam-se na busca da predominância de uma cor em particular.

Nessa grande disputa apaixonada desfizeram a harmonia da composição divina.

Como conseqüência desastrosa da desarmonia vibratória, o Grande Sol fragmentou-se, regredindo em sete subsóis. Os seres provocadores desse retrocesso foram reunidos pela mesma simpatia e divididos em sete grandes grupos; foram viver em tribos separadas umas das outras, já cada qual com um subsol que irradiava a cor que eles escolheram.

Amargaram a irresponsabilidade do desequilíbrio.

Após milênios, essas sete tribos, das sete montanhas, dos sete subsóis, ficaram imaginando, simultaneamente, como outrora devia ser? O que poderia ser feito para ser como no princípio?

Como era ver e sentir as outras cores que os anciães tanto falavam?

O Pai da Luz, vendo todo aquele sofrimento e atraso, chamou um seu aliado, talvez o maior deles, que sabia fluir pelos sonhos, pelo impossível, pelo improvável, pelos céus, pelas terras, pelos mares, por todo o Firmamento e por todos os corações; continha na essência o elo, a união de todas as cores: O amor!

Foi-lhe proposta uma missão, uma viagem: a difícil travessia pelas sete montanhas de Lisarb. E assim procedeu o aliado; começou a caminhar, conviver com aquelas tribos.

Esforçou-se pelos caminhos mais difíceis e fez contato com cada sentimento, com cada entendimento, com cada ser, com cada cor...

Todos ficaram encantados, pois daquele ser visitante único jorrava uma luz diferente, não predominava nenhuma cor em litígio, porém todas as cores unidas.

− Como isso era possível? − perguntavam entre eles.

Este aliado do Pai de todas as cores trouxera a luz da paz, da humildade e da união; fez ver a cada uma das sete tribos que suas cores eleitas somente fariam sentido se voltassem a se unir na grande composição regida pelo Pai da Luz contra a grande noite.

Depois de estabelecido por completo o entendimento, os sete subsóis elevaram-se formando novamente um único e Grande Sol, passando a ser o farol do universo. E as sete tribos foram recolhidas, pois já haviam completado o aprendizado. Porém deixaram à região de Lisarb pronta para receber no futuro outras comunidades que poderão destacar todas as cores, agora em harmonia, evidenciando as mais belas realizações da criação.

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