segunda-feira, 31 de maio de 2010

TROVA DO CABOCLO


TROVA DO CABOCLO
Nilton Bustamante


U galu nem chegô a cantá
I u terreru cumeçô a si agitá
Era u grandi dia du coronezinhu casá
Cum a linda Sinhazinha Dagmá

Cum grandi cuntentamentu du pessoá
Toda fazenda ficô especiá
Limpinha, pintadinha, bandeirinha em todo lugá
U coronezinhu ia casá cum a Sinhazinha Dagmá

Quem cumandava tudu era Dona Rosinha
Quarenta anus servindu a fazenda Sabiá
Menina di tudu já trabaiava até não se aguentá
Na vassora, nu fugão, lavandu ropa cum buneca di chitá

Us cunvidadu foi chegandu gritandu vivá!
Us rojão nu ar fazia pá, pá, pá!
A meninada curria pra lá e prá cá
U coronezinho ia casá cum a Sinhazinha Dagmá

U velhu coroné na miór bota foi festejá
Deu tapinha nas bunda das moça du lugá
A Sinhá du coroné descansava numa vala da Sabiá
Num ia vê seu fio casá cum a Sinhazinha Dagmá

Veiu us carru fazendu baruiu sem pará di buziná
Era us amigu du coronezinhu lá da Capitá
Di tudu mangava, chamava nóis di capiá
Eles inté ficarum di oio na linda Sinhazinha Dagmá

U coronezinhu caiu na zombereia pra agradá
Cumeçô da boa Dona Rosinha distratá
Chamô di bruxa véia, pru povu gargalhá
A pobre cuitada cumeçô inté chorá

A linda Sinhazinha Dagmá veiu desaprová
Deixe Sinhazinha, agora eu queru falá
Dona Rosinha avexada pidiu pru coronezinhu pará
Todu aquele povu logu cumeçô ajuntá

Coronezinhu eu não merecia essa desfeita
Bebezinhu nu meu peitu ocê veiu mamá
Dona Sinhá fraca da saúde, anu inteiru foi se cuidá
Ocê num se alembra, eu que te ensinei a andá

Uma verdade, uma justiça, tenhu que desabafá
U coroné seu pai até gente mando matá
Foi meu namoradu Zé, tocaiadu lá nu Arraiá
U coroné safadu, na bruta, cunseguiu me estrupá

Pensô que fez fio na minha barriga
Mas eu já tava prenha du meu Zé du Arraiá
Dona Sinhá sabendu di tudu doente foi se tratá
Adepois qui u fio nasceu, Dona Sinhá foi obrigada a adotá

Cuidei com amor di mãe sem ocê imaginá
Pois Dona Sinhá di desgostu na vala da Sabiá foi morá
Ocê sabe muito bem quantas coisas tive que aguentá
U poder do coroné ninguém podia desafiá

Não tinha mais rojão fazendo pá, pá, pá
Tudo tava queto no lugá
U véio coroné caiu sentadu sem pode falá
Era só pra ter o casamento do coronezinhu cum a Dagmá

I, pra terminá, Dona Rosinha foi imbora sem ismolá
U véio coroné i u coronezinhu cumeçarum a brigá
U povu levô as comida na sacola pra não disperdiçá
I a linda Sinhazinha Dagmá foi cum us moçu pra Capitá.

sábado, 29 de maio de 2010

BALÕES PENSAMENTOS



BALÕES PENSAMENTOS
Autor: Nilton Bustamante

Se você puder deixar o coração livre
Assim sem se preocupar
Mesmo por um instante viajar ao som de uma canção
Será algo pra não esquecer...

Deixar cada boa imagem ser um balão
Pra poder voar, flutuar
Ver de cima onde tudo fica mais colorido, mais bonito

Se você puder fazer uma trégua
Seja você quem for, seja o que jurou,
Tira esse peso, deixe o desejo sentir o que já implorou

Solte o que ficou sem espaço, o que não teve tempo
Em seu relógio,
Flutue leve, se solte inteiramente
Se acharem que você está diferente, que está maluca, então sorria,
Ande só de meias de mil cores por aí
Cantando se tiver vontade
Dançando se vier saudades,
Só não deixe pra lá a vontade de levar nas mãos seus balões brancos, verdes, amarelos, vermelhos e azuis...

Deixe tudo mais bonito, você vai ver que aquele medo vai desaparecer, outras pessoas virão atrás
Feito vagões felizes em dia de sol, trem descendo a serra, porque a vida foi feita pra sermos felizes

Ligue agora para alguém querido, diz que está contente, que está feliz
E quer dividir seu abraço, seu coração, seus balões brancos, verdes, amarelos, vermelhos e azuis...

A vida é viagem, e toda viagem você sabe bem, o que fica é apenas a emoção
O que fica é apenas a emoção de cada balão que deixamos em cada estação...




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Canção LINDÍSSIMA, vale a pena ouvir até o final.
Guinevere ( Rick Wakeman )
https://www.youtube.com/watch?v=0Nz-ihhb9ms


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quarta-feira, 26 de maio de 2010

" AMARELINHA "



"AMARELINHA"
autor: Nilton Bustamante

Um pé cá, outro acolá
Num momento aqui, noutro sei lá!

Começa menina, acaba mulher,
Diz que o jogo é mesmo assim, "amarelinha"
Começa com um beijo e como termina... hummm?!

Sigo tua dança, brinco teu jogo,
Juntos chegamos e sumimos no céu...
Quando parece que viramos santos
Começa-se tudo novo:
Primeiro um beijo, depois...

Diz que o jogo é mesmo assim,
Começa com um beijo, quem sabe amor

Sabe-se lá?
Sabe-se lá?

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Alice Fredenham singing 'My Funny Valentine'
https://www.youtube.com/watch?v=IChJ6eO3k48


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terça-feira, 25 de maio de 2010

NOSSA ESTRELA



NOSSA ESTRELA
Nilton Bustamante

não precisamos dizer
não precisamos escrever num diário qualquer
porque os nossos olhares já delatam tudo; destruímos um ao outro, destruímos tudo e a nós mesmos... A cada dia tudo termina pra dar lugar ao novo que surge com novas forças, novos universos... O mel e o fel de ontem, hoje terão outras receitas. Vamos juntando nossos pedacinhos pra construírmos algo que possamos um dia nos reconhecer.

Que bom que está sendo eu com você!

Que bom que estamos construíndo juntos, aos pouquinhos a nossa estrela.

COMO SE EU PUDESSE


COMO SE EU PUDESSE
Nilton Bustamante


É algo tão extraordinário, é como se eu pudesse pegar emprestado por um instante, piscar de olhos, o coração de Deus e colocar no lugar do meu e passasse a sentir o
que realmente significa o Amor...

DESCOBERTA


DESCOBERTA
Nilton Bustamante


Abre o campo, expõe o coração, não deixa que nada se esconda.
Traz pra perto o que não pode ficar distante...

Sentir o coração encostar em outro, faz um bem danado!
Temos que aproveitar essa descoberta incrível: o abraço!
...

CERTOS OLHARES


CERTOS OLHARES
Nilton Bustamante

Dizem que os olhos
São as janelas d’alma
E eu penso em muitos olhares:
Olhar das lentes
Olhar de boneca
Olhar de quem já foi gente
Olhar no olhar
Olhar navalha
Olhar canalha
Olhar torturado
Olhar apertado
Olhar de quem já não sente
Olhar que se desvia
Olhar fantoche
Olhar que esconde lágrimas
Olhar de quem trabalhou
Olhar de quem não ganhou
Olhar de quem secou
Olhar fechado
Olhar vazio
Olhar parado
Janela d’alma
Janela d’alma


Olhar colorido
Olhar preto e branco
Olhar sem cor
Olhar medroso
Olhar ganancioso
Olhar delator
Olhar falso
Olhar maquiavélico
Olhar infame
Olhar distante
Olhar compassivo
Olhar absorto
Olhar amigo
Olhar vivo
Olhar inimigo
Olhar perdido
Olhar lânguido
Olhar entristecido
Olhar irado
Olhar inflamado
Olhar de reprovação
Janela d’alma
Janela d’alma


Olhar sublime
Olhar orgulhoso
Olhar vaidoso
Olhar cruzado
Olhar esquecido
Olhar inteligente
Olhar que segue
Olhar que persegue
Olhar que pede
Olhar intrigado
Olhar trincado
Olhar vitrificado
Olhar infantil
Olhar malandro
Olhar drogado
Olhar que assiste
Olhar que insiste
Olhar que desiste
Olhar flagrado
Olhar complexado
Olhar culpado
Janela d’alma
Janela d’alma


Olhar que pesquisa
Olhar que admira
Olhar que vislumbra
Olhar ressecado
Olhar lacrimoso
Olhar sorridente
Olhar que brilha
Olhar cúmplice
Olhar que hipnotiza
Olhar que sabe
Olhar que ignora
Olhar que esnoba
Olhar que fulmina
Olhar de nostalgia
Olhar que inspira
Olhar de fome
Olhar que consome
Olhar tique nervoso
Olhar gelado
Olhar quente
Olhar indecente
Janela d’alma
Janela d’alma


Olhar que ensina
Olhar que cala
Olhar que maltrata
Olhar “olho gordo”
Olhar de “faca”
“Mau olhado”
Olhar que perturba
Olhar que acalma
Olhar que prende
Olhar de luar
Olhar de mar
Olhar de se apaixonar
Olhar que mente
Olhar demente
Olhar da mente
Olhar jovem
Olhar senil
Olhar de quem nunca viu
Olhar de quem sabe
Olhar de quem acha que sabe
Olhar de quem não quer saber
Janela d’alma
Janela d’alma


Olhar de quem se prostituiu
Olhar de quem se iludiu
Olhar de quem pariu
Olhar primavera
Olhar inverno
Olhar sem estação
Olhar órfão
Olhar sem futuro
Olhar que espreita
Olhar sentimental
Olhar sem sentido
Olhar curinga
Olhar invejoso
Olhar caridoso
Olhar ciumento
Olhar de águia
Olhar na mira
Olhar da morte
Olhar de “peixe-morto”
Olhar de amor
Olhar de cio
Janela d’alma
Janela d’alma


Quando você, ainda distante,
Caminha para mim, seu olhar
É que primeiro a me tocar
Vira-me do avesso
Sem poder respirar
Minha alma a se extasiar
Ah! Este seu olhar incandescente
De desejos de quem ama
Quero crer:
Janela d’alma
Janela d’alma

segunda-feira, 24 de maio de 2010

DOROTÉIA

DOROTÉIA
Nilton Bustamante


Hoje estou assim, todo madrugada.

Dom Quixote querendo sua Dorotéia abrindo o coração, o sorriso e o que mais desejar.

Mostra o caminho longe de moinhos e dragões. Afinal, é madrugada, e as madrugadas são para se amar, se desejar. Seja hoje Dorotéia, ah, não importa o nome, não importa a hora, não importa a forma, se a noite é longa como suas pernas. Ah, eu sei, eu lhe cobicei, eu lhe medi. Seja donzela trêmula não de medo, mas de desejos. Desejos do momento da entrega, porque nada é melhor que a batalha da entrega, festejando a paz, desejando o amor.

Ah, Dorotéia, este sereno da madrugada empina seus bicos como empino meu cavalo de briosa linhagem. Deixa aquecê-la com meu hálito de sorte, com minha fome de homem pela mulher desejada... Ah, não quero dormir, não quero, ah, não quero, não quero... Como dormir, se há tanto por se fazer?

Mostra-me seu ninho, me aconchegue nos seus pêlos tão bem cuidados, porque você nessa madrugada, nessa noite, terá todos os nomes de todas as amantes da história, pra encobrir nosso segredo; será Dorotéia. Mas sua alma será somente a sua na minha, como indica seu nome, dominadora e voluntariosa e eu, arrepiado como seus seios, sendo eu brinquedo, seu cavalo. É madrugada... segue meus rastros.

domingo, 23 de maio de 2010

OUTDOOR

OUTDOOR
Nilton Bustamante

Distraído, quase trombo com alguém, na calçada.
Em exercício de reconhecimento espacial do ambiente, piscar de olhos, deparo-me com um homem, sessenta anos na aparência talvez, absorto, boquiaberto, ao mirar sem palavras o outdoor bem diante de nós.
A curiosidade é companheira que não pede licença, e leva meu olhar, como homem biônico, ao detectar com toda atenção de espião o que se apresenta nessa placa ao ar livre. É a figura da atriz global, Suzana Vieira, em sorriso convidativo — sua marca registrada —, em corpo inteiro. Claro, vendia algum anúncio, mas seu sorriso é estrada que merece toda atenção e que não me deixa ler os letreiros.
Deixo os dois para trás, sigo minha caminhada, olho mais uma vez e o homem continua estático, sabe-se lá o que imagina. Sigo distraído novamente. Ao atravessar a rua — estrelas dos céus!, brado —, quem eu vejo? Não acredito. Regulo minhas pupilas, procuro nitidez. Devo estar sonhando. Nada mais, nada menos, que a Suzana Vieira, que sorri ao passar por mim. E eu, ali, sem entender nada, mais um boquiaberto. Será que estão filmando algo sobre o outdoor? — penso, rapidamente.
Em golpe de sorte, nem acredito, ela se volta e diz algo. Não entendo.
Pacientemente ela repete: — Nunca viu uma estrela de perto, não?
Embarco nesse glamour que está ao menos em minha cabeça e disparo: — Assim com esse brilho, não. Deixou-me ofuscado. Agora preciso que você dê-me sua mão para eu atravessar a rua. Ela ri gostosamente. E não é que ela me atende? Pega-me nas mãos -Será que a diferença de idade nos atrai?- Logo que isso acontece toca o seu celular. E o som nas alturas uma voz masculina, tremendamente apaixonada, no cio, começa a declarar as mais íntimas intenções. Ela, a Suzana, fica em transe, hipnótica. Junta seu corpo ao meu enquanto ouve o comando da voz imperativa. — Quero que feche os olhos e entreabra seus lábios gostosos e ponha-os juntos aos meus... Ela o atende incondicional e põe seus lábios nos meus. Eu ficando sem fôlego. E assim, a cada comando, ela o atende em mim. E eu, excitado cada vez mais, abraçado, quero dizer, colado em sua cintura, junto aos nossos calores, também com meus ouvidos aguçados, próximos ao celular generoso.
E a voz insiste: — Eu sei que seus seios estão estufados, suados... posso sentir meus dedos bem devagar pelo seu decote; sinta o escorregar ousado de minhas mãos curiosas para ver o que descobrem... Quando dou por mim, vejo os seios dela de fato estufados, escorrendo gotículas de desejos, e os meus dedos sumindo sob o decote, contornando seus mamilos, ora suave, ora rudemente. E ela aos suspiros...
Nossa, agora sou eu quem está atendendo essa voz maluca? E cada vez mais, ficávamos querendo saber qual é o próximo comando dessa voz. Será um vouyer descarado, esse filho da boa mãe? Nem me dou conta que estamos num canto da calçada, via pública, sujeitos aos olhares públicos. Mas, o que importa nessas horas?
Nossas saliências e vãos combinam-se sem cerimônias, ensaiando ritmo lento, com forte pressão, para não chamar a atenção, como se isso fosse possível. Ao mordiscar seu pescoço com a jugular pedindo devassidão, e nossas mãos se encontrando no baixo equador, em movimentos comuns desses momentos, beirando irracionalidade, levo tremendo susto. Estou enroscado em várias ondas, como uma presa fácil em teia de aranha voraz. Começo a me desvencilhar e puxar esses cordões e claramente os vejo ligados à mente do homem há pouco conhecido.
Acabo por gargalhar.
Eu estava o tempo todo, enroscado nas ondas mentais do homem boquiaberto, diante do outdoor, em seus delírios secretos, em companhia da Suzana Vieira, imaginária.
E eu ali, caído de tanto rir, preso nessa armadilha, acordo com cara de idiota.

DELIRIUM


DELIRIUM
Nilton Bustamante

Em pleno sol do meio-dia
Subiu
um frio pela minha espinha

Assim que a vi
Sofri o delírio de Dalí

Ouvi Beatles cantando samba do Cartola
Emocionei-me em plena avenida

Todos carros passando por mim
E eu nem aí


- Minha Lady Godiva em pêlos cavalgava, desfilava
Diante dos meus olhos
Eu por inteiro como nunca
Me senti
-



Roubei a flor mais bonita dos castelos de Sevilha
Dediquei ao amor
Imaginei nossos beijos em pleno sol do meio-dia
Eu todo
delirium
fazendo de nós dois os amantes
Como nunca houve antes



Em pleno sol do meio-dia,
Assim que a vi, docemente... enlouqueci
...

sábado, 22 de maio de 2010

A LASCA DA MADEIRA



(mensagem de fé e esperança...)

A LASCA DA MADEIRA
autor: Nilton Bustamante

Cinzento o céu. O azul se foi. Um vento insistia na busca de um agasalho. Os homens da aldeia: olhar pesado pelos caminhos de pedra. Eram tantas e tantos, para lugar nenhum.

Mulheres bordavam colorido na beirada dos portões. No fundo, fariam qualquer coisa para respirar outros ares, outros olhares...

Por toda parte o vazio. Por toda parte algo sonhando esperança.

Maria Cândida – Maria, como todas as Marias do mundo, homenagem àquela que foi mãe da criança bendita, como é bendita toda inocência, que cresceu na pele de presidiário, de perseguido, de confundido, de amado, de aguardado, de o filho Dele, de libertador, que do alto da cruz podia ver a Deus, e umedeceu o manto materno com soluços de dor, de gotas de sangue, desespero, compreensão e amor. Naufragou no mar salgado dos olhos de Maria, Maria! Maria! Como de todas as outras Marias do mundo que enterraram seus filhos no mar Morto das injustiças e brutalidades –, não conseguia bordar. Invejava aquelas que sustinham no colo o tecido branco, como um tapete à espera de cada trama para formar uma história. Ao contrário das outras moças, Maria Cândida não permanecia nas escadas do portão, não tinha coragem de seguir outros olhos, não se permitia sorrir, deixar-se ver. Não deitava, estendia-se como manta da própria cama. Era impossibilitada de andar ou sentar-se. Em sua cama um crucifixo, presente da tia, guardiã da igreja do lugar, com a orientação de rezar todas as contas.

Seus pais pesavam mais que os outros da aldeia antiga, de pedras, cercada em boa parte pelo mar, mar lusitano.

O céu já não tinha cor. O azul se foi. Sem indícios de melhoria.

A corrosão só não atacava a herança do orgulho da raça.

A fé unia aquele povo.

Maria Cândida, a que não andava, ouvidos abertos, aguçava os sentidos. Soube que para a aldeia da vizinha ilha, uma grande multidão convergia. Conversão de fé. Espalhou-se por todos os recantos que no alto do monte Piedade havia um Cruzeiro. Não um qualquer; esse milagroso. Como tudo aquilo que sinaliza salvação, recebia exércitos de soldados deserdados pela vida inglória. Carregavam sobre os ombros a falta de tudo: de dinheiro, de saúde, de moradia, de emprego, de paz... Ouviam-se maravilhas. Um pouco de razão, um pouco de ilusão, um pouco de profanação; de tudo um pouco. Mas o que importa se há esperança?

Maria Cândida, que era manta, brilhou em seus olhos algo que não conhecia. Queria ir para diante da cruz milagrosa. Quem sabe o que poderia acontecer? Pediu, implorou que a levassem. Logo a realidade falou mais alto. Não seria possível transportá-la, difícil viagem. Embarcações rudimentares de pescadores eram o meio. Conformada como todas as mantas alisadas para causar boa impressão, pediu à sua mãe, também Maria, para ir até ao Cruzeiro. Trouxesse dele, lasca que fosse, um pouco daquele milagre, um pouco daquela esperança, para suprir o vazio que sempre carregou sobre os seus ombros que de tão pesado ia ao fundo da própria alma. De tão pesado, não conseguia andar, ou sentar-se. Só manta.

Sua mãe, Maria, logo cedo, partiu entre pedras, via crucis, entre águas, entre desesperos e sonhos; chegou ao destino. Gritos, insanidade, de homens e mulheres. Não entendia o que se passava. Histeria coletiva. Logo, pegando um homem pelos colarinhos, pôde entender. Alguém, durante a noite, ateara fogo no madeiro da cruz. Desesperada, largou o homem e correu, chorando, até ao Cruzeiro. Nem cinzas ficaram. O vento levou, borrando a rua. Maria ficou ali parada. Sua filha não lhe saía da cabeça. Sentia o fracasso se agigantando. Alucinada, culpava-se mais uma vez. Via imagens terríveis em sua mente: pregava sua própria filha, estendida, na cama-cárcere. Retornando, ainda no porto, viu chegar a embarcação. O que dizer, o que fazer, quando chegar diante da filha? Mão delicada pousou em seu ombro. Assustada, olhou para trás e viu uma mulher, senhora. Roupas estranhas. Estrangeira, talvez. Antes mesmo que perguntasse algo, a senhora olhou-a com firmeza, foi até o barco ancorado, trouxe uma lasca, quase imperceptível, e entregou-lhe. Que loucura é essa? pensou. Como lendo seus pensamentos, a inesperada senhora respondeu-lhe: – Você não veio com uma missão para esta localidade? Não pediu sua filha, lasca que fosse, de um pouco do milagre, um pouco da esperança, então? Na primeira distração do olhar de Maria, a súbita senhora se foi. Perguntou às pessoas ao redor, não souberam responder, não restando outra alternativa que tomar a embarcação.

Maria Cândida, em crise de ansiedade, logo gritou num fôlego só ao avistar sua mãe:

– O que trouxe para mim? Trouxe o que eu pedi? Como era o Cruzeiro?

Maria, a mãe, nada pôde falar. Garganta apertada. Abriu a mão e entregou a lasca de madeira à filha.

A moça pôs-se a orar, orar, orar... De repente, parou e disparou:

– Então é isso, mamãe? Que ideia luminosa. É a lasca do Cruzeiro milagreiro? Muito, mas muito obrigada, mamãe querida. Eu sabia que podia confiar na senhora. Foi o melhor presente da minha vida – completou com contentamento.

Sua mãe, sem coragem, nada respondeu.

Os dias foram se passando, as preces persistindo. Nada de novo aos olhos da mãe.

Numa manhã, o azul voltou. Maria Cândida pediu para colocar sua cama no portão de sua casa, coisa que nunca fizera. Pediu, ainda, pano branco e linhas coloridas. Começou a bordar. Quem diria, começou a bordar.

Quando Maria, mãe, olhou para a rua, viu aquela senhora do porto chegar sorrindo. Sem que Maria Cândida percebesse qualquer coisa, Maria aproximou-se, ríspida:

– Como pude oferecer tamanha mentira? Fazer minha filha acreditar que essa era a lasca da cruz milagrosa, quando era, sim, a de um barco?

Sem mudar o semblante de alegria, a senhora respondeu:

– A fé, minha boa filha, tem um tanto de sublime, um tanto da simplicidade. A fé é operada pela ignorância na busca do extraordinário, mas extraordinário mesmo é a própria fé, a confiança em algo que a percepção da razão e conhecimento conquistado não conseguem alcançar ou empreender. Quem consegue explicar a fé? Quem pode dizer como a fé opera? Podemos dizer, sim, o que salva é a fé e não o "pau da barca" ou da cruz. Veja como está feliz sua filha. Ela, agora, com sensibilidade, borda seus talentos e sonhos, fixando-os no pano em que antes só tinha o branco do tudo a fazer. A propósito, eu não retirei lasca do barco, como pensa, retirei da cruz que suspendeu meu filho na dor do mundo. Meu filho... – falando baixo, com ternura – que saudades do menininho em meus braços no ar quente das ventas dos animais. Do menino que corria nas elevações perto de casa, falando sozinho. Do menino que ajudava ao pai em seu ofício. Do meu menino inocente, como são todas as outras inocências infantis, que cresceu na pele de presidiário, de perseguido, de confundido, de amado, de aguardado, de o filho Dele, de libertador, que do alto da cruz podia ver a Deus; umedeceu o meu manto materno com soluços de dor, gotas de sangue, desespero, compreensão e amor, o meu menino. Naufragou no mar salgado dos meus olhos, assim como de outras mães que enterraram a seus filhos no mar Morto das injustiças e brutalidade. Ainda, as religiões, ah, as religiões... fizeram-no, meu menino, crucifixo, preso arrastando as contas, como arrastam os condenados os seus grilhões.

Maria, pasma, nada a dizer, ajoelhou-se e chorou.

– Mamãe, por que chora? – perguntou a nova bordadeira.

Ao levantar os olhos, Maria, espantada e emocionada, somente enxergou sua filha. Aproximou-se e perguntou-lhe, sinceramente:

– Filha, você está feliz, mesmo não podendo andar? Será que você devia mesmo se apoiar numa simples lasca de madeira?

– Eu sei, mamãe, que é uma simples lasca, mas cada um precisa de sua "lasca de madeira" para continuar acreditando em algo que vale a pena para viver, para se apoiar, para despertar a fé. Eu sei, eu sei, é verdade, não estou andando, mas consegui algo melhor, consegui bordar...


N. A.: Homenagem àqueles que conquistaram a vontade de viver...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

FALAR DE PORTUGAL



FALAR DE PORTUGAL

autor: Nilton Bustamante

Como dizer chega de saudades
Se levo em meu peito minha idade,
Com um tanto das vivências, com um tanto das urgências
Que me fizeram deixar para trás o meu querido Portugal?

Como dizer chega de saudades
Se levo em mim ecos de um abismo
Não me deixam esquecer o lamento das gaitas, das guitarras
E do fado; e por demais a sentida reza da fé de minha gente

Sinto o aroma, sinto o cheiro,
Tal presença, forma, gosto e jeito
Suave perfume dos pratos sobre a mesa em brancas rendas
Santificando o alimento e a certeza que por aí nada há igual

Falar de Portugal só é possível com lágrimas nos olhos
Amar essa terra é perder a noção do perto e do longe
É lembrar-se da Mãe querida que ficou no porto vendo o filho zarpar além-mar
Imaginar-se abrindo o abraço se possível abraçar, se possível amar pouco mais

Essa incerteza do quanto mais
Quanto mais tem-se que lutar pra ter o recesso da guerra vil
Pra voltar a passar as mãos sobre a terra que pariu a alma lusitana
Que é de cravo, que é de 25 de abril

Não me levem a mal esse meu jeito
É que meu coração foi mesmo feito em outro tempo
Tempo que famílias partiam como podiam, como sabiam, aos poucos, aos pedaços
Partiam para novas terras por tudo a desbravar, onde não se era permitido duvidar

Não me levem a mal esse meu jeito
É que levo dentro desse meu sofrido peito, um amor
Um amor que não se esquece, aumenta, mesmo nos dias de tristeza e frio; aquece
Esse amor que não se esquece, o amor por minha terra e por minha gente; é prece




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Rafael Fraga: Canto de Amor (Carlos Paredes)
https://www.youtube.com/watch?v=Z8cZJ9uR1XU  

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CUATRO CAMINOS



CUATRO CAMINOS
Nilton Bustamante

Não tem sola de sapato que dê jeito
Não tem, não tem
Nem cavalares e nem muares com seus cascos
Nem mesmo os meus ainda não ousaram seguir cuatro caminos

Cuatro caminos
Apenas quatro caminhos
‘Granada, tierra soñada por mi’, meu primeiro sonho
Os meus pensamentos foram-se leves, planaram pelos seus ares
Em seus montes, em suas alturas, minhas vertigens...

Cuatro caminos
Apenas quatro caminhos
Montmartre, seus cafés coloridos tingem Paris, meu segundo sonho
Minha saudade de nunca ter ido é pedaço tirado dentro de mim
Acho suas escadarias, me deixam alto, me deixam baixo...

Cuatro caminos
Minha liberdade, fungadas de todos os partos que tive que parir
Soltar os rebentos, entre todos os tormentos, a doce ilusão de voar
Terra de Espanha entre os dentes, Paris que nunca não esqueci

Agora busco outros dois: tua alma e teu corpo, meus melhores sonhos
Cuatro caminos, apenas quatro caminhos...

A GUERRA DAS BORBOLETAS


A GUERRA DAS BORBOLETA
autor: Nilton Bustamante

– Pega aquela azul! – grita em corrido som, um menino magricela e descalço.

Crianças explodiam em gritos sem a preocupação do silêncio. Não se importavam com o mundo. Aliás, o mundo para elas resumia-se naquele entusiasmo misturado pela aventura de serem competentes em suas caçadas, com as redes às mãos...
Num comércio pernicioso, homens que perderam a noção planetária (se é que algum dia possuíram) recrutavam crianças pelas habitações nas periferias das matas para caçarem borboletas. Usavam da destreza e da miséria dos inocentes.
Os pedidos chegavam de várias partes do país e do exterior. Os intermediários lucravam e não disfarçavam. A "doutrinação" feita pelos esquálidos ao pequeno exército era de tal maneira, que todos acreditavam ser tudo muito natural.

A natureza gemia com mais estes atentados.

E neste som de lamúria fez acordar um dos espíritos da floresta.

Atento passou a acompanhar os voos coloridos daqueles pequenos seres em "disparadas" entre redes hostis. Angustiado borboleteava, sem asas, ao lado das delicadas mariposas em torcida rasgada para fuga... Os pequenos insetos de pura singeleza adentravam cada vez mais à mata, na tentativa da preservação da espécie.

Algo precisava ser feito. Chegou-se ao insuportável. Pior que o dano na primitiva natureza, era a corrosão na natureza humana daquelas crianças em formação.
O espírito guardião teve a inspiração de polinizar os sonhos daqueles caçadores mirins. Todas as noites, visitava um a um. Deixava o pólen dos bons conselhos.
Percebia o espírito guardião, que ainda havia tempo para a salvação não só das borboletas, mas dos pequenos irmãos. Tudo estava conjugado.

Numa dessas missões de "polinização", deparou-se com uma flor mal cuidada. Sua experiência na natureza sabia que poderia ser uma linda flor para o seu meio, se recebesse melhor atenção. Passou a "borboletear" os pensamentos do pequeno magricela que possuía pequenas manchas nos braços.
Certa vez o missionário, representante das boas causas, apresentou-se em sonho ao pequenino.

– Olá, pequeno caçador.

– Você me conhece? – perguntou admirado, o menino.

– Sim, claro. Suas caçadas são conhecidas.

– Bem, isso mesmo, eu caço borboletas – o menino abriu um sorriso de satisfação.

– Sei, e para quê? – contornando o assunto o bom espírito.

– Ah! Para ganhar dinheiro. Os homens lá da cidade vêm para encomendar as borboletas, as cores...

– E o que você sente ao fazer esse trabalho?

– Eu gosto muito. Chego a ver em vez das borboletas, notas de dinheiro batendo asas. Prontas para pegá-las – respondeu tranquilamente, o pequeno.

Uma dor de decepção invadiu o instrutor das luzes.

Pensou nos homens que se tornaram cegos ao ponto de não distinguirem árvores, rios, animais, plantas, pessoas; somente o dinheiro que podem ganhar. Nada mais.
É o tiro assassino, é o fogo, é o mercúrio, é a erosão, é a poluição.
Devastação. Morte.

– Venha comigo, quero mostrar-lhe algo – ordenou ao menino.

Foi levado na presença de um homem, artista famoso, que fazia naquele momento um pedido de borboletas rosas, em extinção. Ao ser interpelado pelo espírito guardião, revoltou-se e respondeu secamente: – para que servem as borboletas?

– indicando sua enorme coleção que cobria toda a parede da sala principal da rica residência –.

Sem mais nada a fazer ali, o guardião das borboletas e o menino retornaram, em silêncio, planando sobre a mata mais alta.

O menino notou que seu interlocutor tinha manchas nos braços, semelhantes às suas.

De súbito, abriu-se um clarão com um sem-fim de "insetos lepidópteros noturnos, crepusculares", borboletas, borboletas mil. Cores vistosas: amarelas, pretas, mescladas, brancas, azuis, transparentes; tonalidades do pincel divino. Um espetáculo regido por Deus. Podia-se dizer que o cenário era um sonho, mas um sonho com poucas borboletas rosas.

Notando a presença dos dois visitantes, logo os cercaram em delicada recepção de boas-vindas.

O menino boquiaberto recebeu "hóspedes" que se alternavam em pequenos pousos em suas mãos, cabeça, nariz... Foi levado para visitar as ninfas (crisálidas), conhecer todo o processo de criação e transformação. Aprendeu sobre a importância delas na polinização, fecundação, e continuidade da vida na natureza e seus ciclos.

De repente, as borboletas começaram a morrer aos milhares, presas em troféus da morte feitos de acrílicos, quadros, gavetas com alfinetes... Em velocidade terrível, em dimensão outra, as flores não recebiam os grãos de pólen, e também pereciam; não havendo mais flores, deixaram de existir várias espécies de pássaros; deixando de existir os pássaros, uma grande quantidade de insetos cresceu incontrolavelmente e começou a devorar a floresta; não havendo mais a floresta, os rios secaram, os peixes morreram... Os homens padeciam esses horrores, e ao lembrar-se de sua família, logo viu que ela também não mais existia, nem pais, nem irmãos. Aqueles mesmos homens que faziam as encomendas dos tipos de borboletas para seus comércios, estavam secos, com suas notas de dinheiro nas mãos, em suas bocas. Caíam mortos. O dinheiro não mais havia significado ou importância. Entre os desgraçados, o artista famoso junto ao rodapé da parede que ostentava sua coleção. Ambos secos.

O menino magricela, aterrorizado, ainda teve tempo para perceber que as manchas na pele de seu amigo florestal, como as suas próprias, tornaram-se mais acentuadas.

Ao acordar, num sobressalto o pequeno "viajante" pulou da cama. Correu em direção do alçapão das borboletas da caçada de outros dias. Levou-o para fora de casa e libertou as coloridas mariposas que voavam atordoadas, mas livres.

Um grande alívio ao vê-las sumindo entre a mata. E seus pais vivos preparando o café da manhã...

No sono seguinte, recebeu um conhecido de última hora: o guardião das borboletas, que indagou ao menino:

– O que você ganhou ao soltar as borboletas?

– Consciência – respondeu o menino magricela, também se sentindo livre.
E assim, o guardião das borboletas pôde dormir o sono das crianças.

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terça-feira, 18 de maio de 2010

UM DIA EU ACORDEI


UM DIA EU ACORDEI
Nilton Bustamante

Um dia eu acordei e percebi que antes não estava dormindo. Percebi que passei muito tempo achando possuir a noção exata de minha vida. Não sabia onde estava, tudo parecia ser novidade.

Um dia eu acordei e não me reconheci. Acordei e percebi que havia muitas ferramentas e pouca obra. Acordei e vi que meus sofrimentos eram placas cancerosas de egoísmo, vaidade, orgulho... Foi um misto de tristeza e decepção ao entender que sempre esteve em minhas mãos vitória ou derrota, alegria ou tristeza...

Um dia eu acordei e me mostraram que eu estive torto na maior parte do tempo. Acordei e vi que eu não era sozinho no mundo; que o mundo não estava para me servir. Acordei e vi diante de mim um corpo inerte, morto, se decompondo; era o meu.

Um dia eu acordei e vi algumas pessoas orando. Uns oravam com sincero fervor, outros só pediam para si. Acordei e percebi que eu estava vivo, eternamente vivo, por muito a servir, por muito a amar. Acordei e passei a plantar flores na minha alma árida, preparando-me para outras mais.

Um dia eu acordei e percebi que a vida faz mais sentido no plural, no coletivo... Acordei e o copo quebrado, o amor desfeito, o objeto enferrujado, não mais me incomodavam.

Um dia eu acordei para dormir na manjedoura, falar nas sinagogas, morrer na cruz, e viver Deus.

sábado, 15 de maio de 2010

DEUS É AMOR




DEUS É AMOR
autor: Nilton Bustamante
Eu sinto, eu sei
Que é mesmo pequeno o que faço, o que sinto
Sei que na tela desse céu repleto de estrelas
Nem sombra sou, talvez algum pensamento que vibrou...
Eu sinto, eu sei
Os caminhos que meus passos ensaiam seguir
Mesmo assim eu insisto no palco com plateia
Imaginária, as falas vazias e solitárias
Para me vaiar, para me incentivar
Para chamar a minha pouca atenção
Eu não posso ser Judas
Meu traidor, não posso me vender
40 pecados e ter que me arrepender mais uma vez
A Eternidade é muito tempo para sofrer sem-fim
Não posso me cansar no caminho
Não posso ficar caído sem as forças
Não posso desistir de mim
Preciso seguir
Não devo, não posso repetir as mesmas quedas
− Cair em abismos dentro abismos e não encontrar o fundo é triste
E muito mais triste é não esticar a mão para se agarrar em algo
Que seja esperança, que seja acreditar em nova manhã −
Meu espírito destaca-se, apela, abraça corpo inerte
Boia náufrago em tempestade
Parto acompanhado sempre por quem é-me fiel
E minhas reclamações deixam-me lágrimas que me cegam
Não me deixam ver nem agradecer
A oportunidade para evoluir, crescer...
Estou muito ocupado comigo mesmo
Estou muito egoísta das minhas dores
Dos meus medos, meus segredos que não me deixam direito
Estão em meu livro para eu saber, para não esquecer, se corrigir...
Peguei as filas dos bilhões iguais a mim
Entrei os portais-úteros-maternos afins
Tantas vezes que nem sei mais, preferi esquecer pra ser mais fácil
Eu não posso mais, não quero mais sofrer por me abandonar...
Eu sinto, eu sei
As preces sinceras que lembre o amor
Mesmo vindas de coração tão impuro que é o meu
São flores-perfumes enfeitando os campos do Pai Pacificador
Eu sinto, eu sei
Vontade de chorar é o medo de enfrentar
É pedido de tempo no jogo, tentar pensar
O que se pode fazer, preciso das minhas forças que esqueci
Preciso de confiança, talvez menos da fé
Minha ampulheta está quase sem areia
Preciso decidir-me certo, a cada decisão a bifurcação da direção a seguir
Não quero a ansiedade, nem dó,
Não quero o orgulho, nem vaidade,
Não quero o ciúmes, falsos perfumes,
Não quero o nervosismo, nem ingratidão
Solidão é nada fazer por si, nem por outrem
É o vazio que se cai, cai, cai, sem encontrar o fim...
À escada de Jacó, um degrau de cada vez,
Pois a pedra ainda está bruta, precisa lapidar
Preciso das minhas buscas, preciso da centelha virar chama
Tenho que servir melhor, sentir melhor o que é viver o pleno
Que todos vêm e vão por esses mundos pela mesma forma
O sentido é único, irrefutável e imutável:
Voltar à morada como volta pombo correio largado bem ao longe de casa
Voltar ao abraço de Deus, que a todos ama, que tudo preparou
Esse segundo final, antes de ser sofrimento
É apenas o segundo que Deus nos doa
Esse segundo chamado Esperança
Sempre a Esperança à nossa disposição, para servir em ato de transição...
Eu sinto, eu sei
Que é mesmo pequeno o que faço, o que sinto
Sei que na tela desse céu repleto de estrelas
Nem sombra sou, talvez algum pensamento que vibrou...
Eu sinto, eu sei
Deus em mim é Amor, é Amor...


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The best classical music: Mozart, Beethoven, Bach, Chopin
https://www.youtube.com/watch?v=jgpJVI3tDbY
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EU QUERO O TEU AMOR

EU QUERO O TEU AMOR
Nilton Bustamante

Sou com o vento correnteza, vou sem rumo vou sem nada
Debaixo desse céu azul ser estrada
Estrela sozinha alumiando, tenho pouco pra falar
Levo meu olhar pra longe,quem eu quero buscar

Vou colhendo noites longas, e seguindo meus dias curtos,
Não há mais tempo pra se enganar
Vida é pra semear amor, ser porteira sem tranca
Para quem quiser partir, pra quem quiser entrar

Sempre haverá tempo pra encontrar
Sempre haverá tempo para se amar
Eu quero o teu amor, o teu amor...

Eu que desejo tanto meu bem querer não adiantou
O sofrimento me perseguir
Nem insistir ficar dentro de mim

Vou com o vento na certeza, estrela nesse céu azul
Vou alumiando minha busca
A minha busca desse louco amor

No céu feito pra se sonhar, tempo não é forma, não é tamanho
Apenas uma lembrança que ficamos feito Sol em busca da Lua
Lua em busca do Sol

Sempre haverá tempo pra encontrar
Sempre haverá tempo para se amar
Eu quero o teu amor, o teu amor...

terça-feira, 11 de maio de 2010

PONTAS DOS DEDOS


PONTAS DOS DEDOS
Nilton Bustamante

Hoje não será necessário nenhuma palavra
Hoje falarão por nós as pontas dos dedos

Levarão os segredos
Que não guardamos