sexta-feira, 30 de abril de 2010

ACONTECEU


ACONTECEU
Nilton Bustamante


Na geladeira o recado
Em sua foto
Beijo colado
No desejo em mais um outro mês

De mãos dadas por aí
Camisetas surradas
Blue jeans rasgadas
Ruas sem nomes, estrelas e fadas


Hoje será em minha casa
Ou será na sua
Adormecer em abraços
Esquecer de amanhecer?


O que será de nós?
Talvez é melhor nada dizer
Talvez é melhor não saber


Voltamos a ser jovens
Sem querer
...

COMO QUEM ESPERA


COMO QUEM ESPERA
Nilton Bustamante

Como quem espera a terra romper-se com a força que vem das profundezas da semente, germinar, brotar, seguir caminho em direção ao sol.

Como quem espera na estação e embarca seu coração no primeiro vagão, próximo trem.

Como quem espera e segue por seguir, porque ir em frente é preciso, ainda que sem mapa, ainda que sem provisões, previsões, talvez pela estrada a sorte de estrelas em noite de solitárias constelações.

Como quem espera e semeia o beijo, fora de controle, fora das atas, dos acordos, dos interesses, dos patrimônios, nas varandas dos enamorados sem disfarces, sem promessas ou véus...

Como quem espera o segredo dos altares
Os desejos vindos pelas ondas dos ares...

No túnel em vez das luzes, o escuro das letras imaginárias, imagens solitárias.
Espero, espero, espero...

DIAS FRIOS


DIAS FRIOS
Nilton Bustamante

Eu andei pela neve, e as pegadas foram encobertas pelo tempo ruim...

Eu andei pela neve, e eu já não sabia mais por onde havia andado...

Eu andei pela neve, e sua alma não me viu, nem percebeu que lhe procurei...


Você ficou triste, pensou estar só o tempo todo, mas não foi bem assim, eu andei pela neve atrás de você, lhe procurando, lhe desejando... O tempo todo foi assim, assim.

Cortei a própria pata machucada para seguir em frente, porque a busca era maior, era mais forte que a própria morte, mais forte que a dor.

Eu andei pela neve, mas, sei, que o sol está acima de tudo isso, acima do meu coração está você...


AS VISÕES DA CEGUEIRA




AS VISÕES DA CEGUEIRA autor: Nilton Bustamante Hoje meu filho vai a campo. É o seu primeiro dia na rua. Não está só. Sua orientadora, da LARAMARA - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, e a bengala branca serão seus olhos; sua visão. Meu filho é deficiente visual; não enxerga nada. Fico de longe. Acompanho tudo. Meu coração está entalado na garganta. Eu percebo sua insegurança. − Cuidado, meu filho, o buraco à sua direita na calçada − grito dentro de mim, num sobressalto. Seus passos desorientados procuram novas rotas, tentam chegar à Índia, China, América, Lua... Ficam logo depois da curva da próxima esquina. Uma mão segura a bengala e a outra busca apoio no ar, no espaço vazio; talvez para ele há algo concreto que o ajuda; certamente a mão de um anjo. A bengala movimenta-se para frente e para os lados, quase sincronizada. A orientadora vai um pouco atrás; séria, diria até pesada no andar, na fisionomia. Ele está indo rápido demais, observo. Outro dia ele me perguntou como era a cor azul? Levantei-o com meus braços erguidos em ângulo reto e corri pelo quintal de casa. Disse-lhe depois que a cor azul é a cor do céu, onde os pássaros voam sentindo a mesma sensação de frio na barriga como ele em meus braços a sustentá-lo no ar da liberdade. Hoje pela manhã, antes de vir ao Instituto, tenso, ele me confidenciou que precisava muito do “azul”. Oh! Meu Deus! Ele acaba de cair. Minha lágrima cai junto. Aquela imagem terrível, vendo meu filho no chão tentando se erguer, parte meu coração em milhões de pedaços. − Levante-se, meu filho, se não vamos ficar juntos caídos − outra vez grito em silêncio. Ele é perseverante. Sua imagem, sua fisionomia, fica ainda mais inocente, ainda mais frágil. Não sei como pude tirá-lo um dia do meu colo. Quando eu quero ficar com ele, só com ele e entrar em seu mundo converso com os olhos fechados, ou se noite apago as luzes e passo a “enxergar” as mesmas coisas, parece que o diálogo se torna fácil, pois compreendo melhor o que ele diz nesses momentos. E lá vai a bengala, sua espada, lutando contra a noite; o escuro que antecede a descoberta da luminosidade. Cada obstáculo desviado, cada passo avante, cada “touché” de sua bengala, um pouco mais de luz para seus olhinhos, diferentes dos meus. Agora ele está indo bem. Acalmo-me. Não caiu mais. A voz orientadora de sua instrutora ecoará em ondas para toda a vida, em seus “labirintos”; a mão de seu anjo o manterá equilibrado. Nas vezes em que caiu, meu filho aprendeu as diferenças entre ser confiante e em pé nos caminhos da vida ou se esparramando em obstáculos professores. Vejo seu cansaço provocado pelo esforço, mas percebo um ar de felicidade indisfarçável. É interessante conhecer as cores por “dentro”. Na escuridão, na ausência de luz, pode parecer imponderável. As cores não são só perceptíveis com o calor, ou ausência, que emitem. São mutantes. Vão criando vida e formas que dão ideia não da pigmentação, mas sim da “vida e movimento” que produzem. Semanas atrás, meu filho, anjo de Deus que agora “voa por instrumentos”, correu de mãos dadas com sua mãe e eu num campo plano e gramado. Corremos, corremos o mais que pudemos. Ríamos todos crianças livres e depois nos abraçamos num abraço triplo e assim permanecemos nos beijando felizes. Minha mulher pegou nas mãos de nosso filho e pousou-as em suas próprias faces e disse-lhe: − Percebe este calor? Esta agitação? Esta, meu filho, é a cor vermelha que está agora em nossas faces. E assim foi para cada cor, um exemplo cheio de vida e tato. Eles estão voltando, a instrutora, meu filho e seu anjo. Deram a volta ao quarteirão. Foi a primeira vez dele, desta maneira. Não são somente os olhos que conseguem ver, o meu coração de pai está vendo o meu pequeno que se agigantou pela sua vitória particular, silenciosa... − Eu estou vendo, estou vendo, meu filho está agora todo “azul”. . ________________________________________________ N. A.: esse texto nasceu após eu passar pelas ruas da Barra Funda, em São Paulo, onde, com o coração apertado, presenciei um menino, deficiente visual, aprendendo, com dificuldade, a andar pelas calçadas, com a orientação de sua instrutora da associação Laramara. Coloquei-me no lugar do pai daquela criança.

TANTA HISTÓRIA

TANTA HISTÓRIA
Nilton Bustamante

A gente conta tanta história
das nossas coisas
de como vai ser

A gente conta tanta coisa
imagina tudo passando
visão dupla, pra se querer

Quando mais o tempo corre
a gente se apavora
como vai ser, como vai ser?

Quando a palavra sai torta
corta, corta a língua
corta a alma, corta a palavra em fatias,
pedacinhos pro vento levar
dói, dói, dói...

Sopra o vento, sopra o beijo
solta o tempo pra se fugir
pra ir ser o que não se é
pois é, pois é...

A gente conta tanta história
monta tudo lindo, como se quer
e eu te quero tanto, tanto,
assim, assim, pra você ser de vez
minha mulher, minha mulher...

SOLSTÍCIO DE INVERNO



SOLSTÍCIO DE INVERNO
 autor: Nilton Bustamante
Pelos meus vitrais transpassam o divino e Vivaldi: "Et In Terra Pax Hominibus", toca minha alma.
Pelo meu Templo ecoam o que não se precisa explicar: "Réquiem”: “Benedictus”, “Lacrimosa”, “Rex Tremendae”, o toque de Mozart. Festejo o Solstício de Inverno. Farto-me no Banquete Ritualístico. A noite mais longa. A Luz quase ausente, melancolia, distanciamento, névoa que me abraça como abraçam as dores e o cansaço da vida; neve fria, imparcial, feito morte, faz seu papel, ciclo dos ciclos.
Queimo meus horrores.
As cinzas são sepultadas por mim. Por cima de tudo leve camada de terra faz a sua dimensão. Agora as cinzas jaz no cemitério das lembranças.
E um ramo de cipreste, sempre verde, faz lembrar que a vida ressurge, que a Eternidade é seiva divina. Inextinguível.
A paz é absoluta.
Transmuto-me em nota musical. Quem sabe minha pedra filosofal?
Ó elixir onde me esperas, onde por mim, onde em mim?
.´.


  Et in Terra Pax (Gloria RV 589) - Antonio Vivaldi


ABISMOS



ABISMOS
autor: Nilton Bustamante

Quando brigamos com medo
Abismos
Estão no lugar do amor
Gritamos para não nos ouvir
No vazio que ficamos

Gritamos quando no lugar
Somente a dor
Fala por nós
A pena que nos faz sofrer, esquecer
O que deixamos pra trás

Pra que brigar se há tanto
O que buscar,
Pra que brigar se há tanto
Tanto, tanto, pra se brincar
Pra vida ficar mais leve, suave brisa de amor?

Melhor sussurrar quando a noite vem
Rapina roubando, pegando
O que o corpo sente,
O que nega, mas entrega
No jogo, no fogo dos inocentes
Melhor se encontrar
Onde céu e mar
É um só lugar

Corações arranhados
Dilacerados pelo amor
Que esquentam
Que esfriam
E queimam desejos carentes a frio
Só precisam de nossas mãos fazendo a trégua
A entrega
Pra ficarmos beira do abismo
Balançando nossos pés, rir do perigo
Que não assusta mais, nunca mais...


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Nina Simone
http://www.youtube.com/watch?v=LLn3FT9BsRs


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A CAMINHO DOS TRINTA ABRAÇOS



A CAMINHO DOS TRINTA ABRAÇOS
autor: Nilton Bustamante
 
Sou Rute, as palavras saem doces,
Piso em céu de areia,
Toco estrelas pelo chão
Volto à noite e abraço doce a solidão
Converso com outras estrelas
Que de tão longe chegam ao escurecer
Meu coração frágil não suportaria outra cicatriz
A caminho dos trinta abraços, sou quase infeliz
 
Sou Raquel, as palavras saem fortes,
Piso em homens gentis,
Toco vontades em chamas
Volto ao amanhecer e abraço forte quem me chama
Converso com a fila de marinheiros
Que de tão longe mês a mês chegam passageiros
Meu coração suportaria qualquer papel de atriz
A caminho dos trinta abraços, sou toda verniz
 
Sou Rute, sou Raquel.
Uma vem de dia, outra ao anoitecer
Estamos plantadas em dedais feito ninho
Na mão do destino
Somos desiguais, possuímos delicadeza e espinhos
Uma não discute, outra é fel
Sou Rute, sou Raquel.
 
 
...
(música deslumbrante):
Klaus Nomi: The Cold Song (live)
https://www.youtube.com/watch?v=3hGpjsgquqw&amp
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MULHER MENINA, MENINA MULHER

foto/modelo: Juliana Biancato

MULHER MENINA, MENINA MULHER
Nilton Bustamante

Ah, andas pelos caminhos dos girassóis
Andas menina
Andas mulher
Já não sei quem é uma, quem é a outra

Ah, falas pelos cantos,
Falas menina
Falas mulher
Ouço sussurro, ouço gemido
Já não sei quem é uma, quem é a outra

Armas o queixo, levantas o olhar, ergues os seios
Pose de foto, brincas comigo
Pegas em minhas mãos
Pegas em meu corpo
Já não sei quem é uma, quem é a outra

Mochila sobre as costas
Vestido roxo, pernas à mostra,
E eu me apaixonei, já não sei, já não sei...
Se por uma, ou pela outra

SINFONIA DO ALTO



SINFONIA DO ALTO
autor: Nilton Bustamante

Acordar
E orar lábios em ouvidos
Que tudo seja melhor
De que já foi um dia

E que a palavra seja carinho, seja atenção,
Que nada guarde lembrança amarga
Que possa entristecer
Quando o arrependimento à porta bater
Do coração

O que importa é o Amor
Um dia será o único som
Do nosso planeta
Na grande sinfonia constelação
Que Deus há de reger, há de reger essa divina canção...

Anjo astronauta, diz pra mim
Qual o som do nosso planeta
Que você consegue ouvir?
Qual é o som da Terra?
É som da guerra?
Som das lágrimas?
Ou dos lábios os murmúrios de dor?

Anjo astronauta, diz pra mim
Se o planeta está desafinado na Sinfonia do Criador?

Diz pra mim
Qual é a soma de todos os sons de nosso planeta?
O quanto já estão entoando cânticos de esperança,
Sons inaudíveis das ferramentas da boa obra, da boa vontade,
Que só só Deus pode ouvir?

Anjo bom, Filho do Altíssimo, mensageiro do Nosso Senhor,
Eu sinto, eu sei, que estamos todos aprendendo a tocar a própria alma,
Estamos ainda conhecendo dessa afinação, essa evolução,
E chegará o dia que o universo vai parar por um instante, e todos ouvirão
A mais linda sinfonia, desse planeta azul dessa mais linda constelação!






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Jean Michel Jarre - Oxygen II
http://www.youtube.com/watch?v=hD4KMp22jBg



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DOMINAÇÃO

1º Lugar no VII Concurso de Poesias – Promoção O Malhete
ACADEMIA MAÇÔNICA DE LETRAS DE JUIZ DE FORA-MG
Novembro de 2.005


DOMINAÇÃO

Ir.’. Nilton Bustamante

América do Sul, América do pisado Sul.
Pisam em seu solo
Violentam o seu colo.
Correr
Correr sem parar
Correr descalço atrás do sonho esférico
Correr senão a fome, a miséria nos lembra...

América das guerras e guerrilhas
Haverá ideologia para o povo ser feliz?
Pisar Sul
O filho sul-americano para ser ilustre
Tem que lustrar, ser flanela deslizante nos vidros estrangeiros?
É o melhor que se pode fazer?
Descubra-se América para seus filhos.

Externam a América, no noticiário satélite:
A bala guerrilheira
A bala traficante
A bala com fome
A bala com ódio
A bala nada doce
Morte e morte.

No lado Sul da América
Se é coca, toma-se cola que cola
Coloca-se cocar
Come-se batata organizada,
Preparada no minuto certo,
Cortes certos,
Lucro certo, no bolso Norte, destino certo.

Ô verdadeiro índio (silvícola), América.
Ô crioulo, América.
Os primeiros vindos dos primeiros, América.
Nada possuem. Não há bolsos na nudez da miséria.
A peste já vem com os estrangeiros, tributo infame.
É a salvação? É o progresso?
Sim, é o crédito. É o crédito. Amém!

América, Sul da América, América do Sul,
Viva os seus tutores!
Nossos vivas ao tutor governista!
Ao tutor coronelista! Tutor jagunço!
Ao tutor guerrilheiro esquerdista, de direita, “hot-money!”
Tutor traficante! Tutor sindicalista!
Que bom o voluntariado. Viva! Viva!

Ô menino parasitário, barrigudo, pés esparramados no lixo, escuta!
Já preparou as bandeirinhas? Pôs pipa no ar? Vá festejar nossos heróis!
Ao governo, tudo!... Tudo!
À família quinhentista, tudo!... Tudo!
Ao general boina-sul, conta na Suíça, viva!... Viva!
Ao traficante cesta-básica, tudo!... Tudo!
Ao sindicato dos assalariados, patrocínio empresarial, greve!... Depende!

Êta, criança remelenta, quinto-mundo!
Tem que ter computador, “right”? É em prestação, aproveite.
Responda, então, Sul da América: Após tirarem-lhe o minério sul-americano,
Enterrarem os seus filhos nas minas sul-americanas,
Destruírem suas culturas sul-americanas,
Insiste em respirar a fumaça das queimadas dos seus pulmões, para quê?
O que vive ainda dentro de você? Algum filho seu pode responder-me?

América do Sul,
Seus heróis anônimos, mártires,
São em maior número que os Santos inaugurados pela Igreja.
Quantos mais para ressuscitar a Alma Latina?
A morte faz parte da vida e o assassinato, da insanidade.
Limpe os parasitas de seu organismo.
Seja livre de vez!

América das cordilheiras-a-pique
América dos prados e das matas.
América que se discute se seus charutos
São socialistas ou comunistas, se são bons ou maus.
Enquanto isso os capitalistas os fumam
Na roda do prazer, do poder.
E ao povo, as cinzas.

América do quadrante Sul
Terá mais sorte quando pararem de te salvar.
Até agora salvaram seus minérios, seus recursos naturais.
Vão-se comboios até as tampas:
São animais, raízes, folhas, flores, vidas...
Cuidam de sua riqueza com zelo
A pobreza continua intocada, imaculada. Cresce e cresce...

Ô menino! Corre peste, remelento.
Corre atrás da bola e esquece.
Ô menino terceiro-mundista!
Olhe no espelho do rosto do povo
E chore
E reze, e morra.
Mas antes, lembre-se: a prestação do computador, da coca, das batatas tecnológicas...

Ô menino mal-educado!
Reze para que em Marte não tenha futebol.
Reze pelo povo sul-marciano.
Os homens da grande cultura, do poder central,
Estão ensaiando botar os pés em Marte
Para salvar os marcianos terceiro-mundistas de suas riquezas,
É claro!

No grande vôo histórico, interplanetário,
No primeiro foguete já os primeiros tutores:
As igrejas,
Os banqueiros,
As multinacionais,
Os políticos serviçais, entreguistas,
Os traficantes, os guerrilheiros galácticos, os sindicatos...

Êta marcianinho remelento!
Ô peste, verde de fome!
Corra!
Voe!
Fuja da bola!
Não chore!
Ore! Se puder, salve-se!

Não vê, América, que há uma força discreta agindo a favor do mundo?
Não vê, América, que o Universo possui uma Proporção Divina
Que só pode ser por um Grande Arquiteto Do Universo
E que Entre Colunas o Sagrado une o que está acima e o que está abaixo?
Pois o que está Justo e Perfeito é pra ser absorvido e sentido,
E que o pedreiro é livre pra apreender e construir em seu peito
A nascente de um mundo melhor.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

EXERCÍCIO DE AMOROSIDADE


EXERCÍCIO DE AMOROSIDADE (em desdobramento da alma)
Autor: Nilton Bustamante

Certa vez, em sono profundo, fez-se o desdobramento da alma, e alguém vibrou-me mentalmente a seguinte orientação:

"Sempre antes de adormecer, vamos fechar os olhos, respirar lentamente, nos acalmar, e nos lembrar de cada acontecimento, de cada pessoa que tivemos um desentendimento, uma rusga, uma palavra torta, um sentimento menor... Uma a uma, vamos dar as mãos, perdoar e pedir perdão, sem, contudo, querer saber quem estava com a razão, pois no desequilíbrio das relações humanas a razão está bem longe. Vamos emanar de nossas almas sentimentos de amorosidade desejando uma a uma toda a felicidade, toda a luz, todo o sucesso, toda prosperidade e que Deus esteja em todos os passos de cada uma delas."

"Vamos abraçá-las fraternalmente e dizer até breve, e vencer o próprio orgulho ferido."

"Uma força maravilhosa irá tirar todos os 'pesos' e os rancores, iremos caminhar em espírito por caminhos melhores, mais evoluídos... Outras companhias amáveis vibrarão a nosso favor."

"E, quando nos encontrarmos com essas pessoas que nos reconciliamos na véspera, tudo será mais fácil, obteremos outros entendimentos, outras forças, e as diferenças serão consumadas agora pelo amor."

"Jesus Cristo, assim nos ensinou, perdoar sempre..."


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NOSSOS VOTOS


NOSSOS VOTOS
autor: Nilton Bustamante

A imaginação dão asas aos nossos pés.

Em qualquer direção que tomarmos, o tempo nos levará ao fim e ao princípio. O infinito é logo ali, aqui dentro de nós, de tudo e todos que pulsam vida... É assim.

Em nosso planeta Terra tudo é vida. O próprio planeta pulsa, pulsa a vida. Léon Denis a definiu numa sequência poética e naturalista: "A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem."

E muito devemos agradecer à essa viagem estelar, pés na poeira e cabeça ao sol, cada gota de suor, cada encontro com as ideias que vieram habitar-nos para logo mais darem lugar às outras em ciclos migratórios. O novo se faz velho, torna-se matéria decomposta, torna-se humos, ajuda a dar força e sentido à vida, ao que virá depois, ao que precisa sempre tanto, tanto de tudo que foi ontem para conseguir ser hoje, para haver amanhã.

Devemos ficar felizes quando conseguimos dar ombros aos comícios enfáticos das bocas que engolem ar e, invariavelmente, ficam a desejar, sempre, sempre, desfilando em plumas que lembram aos dos pavões machos: os pés sempre feios como se houvesse algo que contraria a encenação, algo a esconder.

O corpo físico é oceano, navegamos às vezes inteiros, em outras navegamos à deriva, navegamos, navegamos e vamos descobrindo novas porções, novas terras, em nossas íntimas dimensões. Somos cercados de mares, sertões, frutíferos pomares, perfumados jardins, ai de mim, ai de nós, ao que fizermos dessas venturas. Ai, dos lábios que formosos e pomposos se fizerem armadilhas, que em doces delírios levarem outras tantas aos redemoinhos de despropósitos sentidos. Que vendem, mas não entregam. Que afirmam, mas não sustentam. Que enganam pelo vício de enganar. Que conquistam somente pelo prazer de conquistar. Que vandalizam, que saqueiam almas e sentimentos de outrem.

Felizes dos lábios em mel que pronunciarem palavras amáveis, sem armadilhas, sem enganações, com purezas de sentidos e sentimentos, serão alimentos, néctares dos altares às virtudes... Felizes, eternamente felizes, que pronunciarem mantras de harmoniosas vibrações. Que serão mantos para almas desprovidas, nuas, necessitadas de tudo; que serão substanciosas provisões aos viajantes estelares, filhos do Início, que É antes de ser, que está divinamente intrínseco dentro, fora, acima, abaixo, antes e depois de tudo que pulsa Vida, tudo e todos que estão dentro ou fora do Universo, em todas e quaisquer dimensões e seus princípios inteligentes.

A ampulheta nos faz areia, e pelo funil do tempo, quando se faz necessário esses efeitos, voltamos a ser pó. Passamos por esse processo, para compreendermos o que foi um dia orgulho, vaidade, egoísmo e todas as outras decepções e lamentações apenas servirão para nos mostrar que nada fica sobre a terra, que todos os troféus, títulos e acúmulos da ilusão serão esquecidos por todos, menos pela corrosão, menos pelas traças e vermes, agentes em salutares ações professoras para o aprendizado da alma humana.

Os tempos nos trouxeram as grandes mentes, grandes mestres, humildes mensageiros; se nossas brisas estão no Oriente, no Ocidente, não importa, nada, ninguém foi, é ou será esquecido. Todos fazem parte de um imensurável Sentido. O Sentido de uma Mente maior, de um Sentimento Maior, de uma Ciência maior. E todas as ladainhas, e todas as nossas verdades, paixões e guerras, estados de dormências e alucinadas exaltações, de nada nos servirão, nada dessa natureza conseguirá se sustentar. O simples, o brotar da semente para germinar a vida em sete vezes sete mil frutos para outros tantos se multiplicarem, o nascer do dia, do sol, o nascer da noite, onde um tem que morrer, acabar, terminar para ao outro dar lugar, reciclar-se, será a poesia silenciosa de Deus a nos educar, a nos elucidar seus Mistérios. Mistérios estes que somente por nós se classificam assim, pois, nossas mentes ainda não comportam muito além da procura de quem somos, de onde viemos e para onde iremos...

Podemos nos considerar felizes, nesse estado evolutivo, pois já conseguimos perceber que tudo é movimento do Universo, absolutamente tudo do macro ao micro, do micro ao macro: água parada apodrece. Corpo inerte se atrofia e apodrece e não cumpre suas funções. Mentes paralisadas pela preguiça somente ficam em estado letárgico, deplorável. Sentimentos menores, adoecem almas. Podemos nos considerar felizes, pois qualquer ser humano de um ponto ao outro do planeta Terra, de qualquer civilização, já possui a centelha da percepção que há algo maior, uma força criadora, que concebeu a natureza, e de outras mais derivações. O homem, ainda que lentamente, já se posiciona melhor, nesse movimento de entender o Todo a partir da partícula. Mesmo que os homens ainda se instrumentalizam em dogmas causando divisões, chegará o tempo que farão opção somente ao AMOR, unificar-se-ão mentes e corações, dando assim sentido à existência, à busca, às novas Luzes não percebidas nem entendidas atualmente.

Que o tempo que marcamos com ferro, brasa, pressa, receios e feriados, seja apenas o tic-tac para nos lembrar que nosso corpo material está em contagem regressiva, e que logo mais, na próxima partida, em nossa viagem estelar pelas estações dos campos de Deus, quem sabe, teremos como bagagem algo que nos será realmente útil, eternamente útil. O bem-querer, as benfeitorias nas pontes que unem mentes e corações.

Nossos votos para todos nossos irmãos-planetários que sejam merecedores do que de melhor nosso Pai e todos os seus mensageiros da Boa-Nova enviam, incessantemente:

Amor, Luz e Paz!



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Space Coast - Topher Mohr and Alex Elena

https://www.youtube.com/watch?v=ziB7GW47mwg




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TUDO A MIL


TUDO A MIL
Nilton Bustamante

Vida vivida corrida
Tudo no momento, em um segundo
Assim é tormento
Não há espaço nem pro amor, nem pra paz

Vida vivida corrida
Isso não é certo, isso não se faz
Assim é vida louca
Em vez do beijo, respiração boca-a-boca

.'.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

DE TANTO AMOR


DE TANTO AMOR

Nilton Bustamante


A menina chorou

Abraçou o sentimento na carta que abriu

Soluçou algo que não entendia, não sabia

Que amava tanto, tanto assim


A menina chorou

O banco da praça que não sentou, nem

A cama que poderia mas não desarrumou

Não sabia ser tanto amor assim


Cantava Lennon

No carro indo por aí, o mundo era vazio

Sabia que algo forte, algo grande chegaria

Amor de novela, filme de cinema

Sabia ela que ia ser assim, poesia


Algo já dizia, pra menina que seu corpo

De mulher seria tomado, seria sugado

Por beijo tão delicado que não daria mais

Pra disfarçar, andar sem mostrar a alegria

De se sentir amada, desejada a tal ponto

Que os dias não seriam mais sonhos

Seriam o hálito quente da boca chamando

Dizendo seu nome, o nome da menina

Que ainda chora ao abrir a carta, de tanto

De tanto amor que seu corpo de mulher

desejou...


E de onde a carta fora escrita a menina

Tudo quis saber, ficou na mesma sombra,

Marcou a mesma árvore, brincou na mesma areia

E sobre os seios sugados por aquele beijo tão delicado

adormeceu...


TRAVESSIA


Madredeus – Ao Longe o Mar -   http://www.youtube.com/watch?v=lU6zbbjiefU


TRAVESSIA
 Nilton Bustamante

Travessia, deixando para trás lenços molhados pela dor do adeus.
De um porto a outro o abismo.

Travessia, deixando que o sonho de uma vida melhor fosse a única bússola.
As naus dos marginalizados pelas finanças, pelas famílias, pela política, pelos amores; a única saída.
O passatempo para poder-se viver, seria ousar na busca de um novo Sol.
Quantas almas salgaram os mares com suas tristezas; quantas almas ressecaram-se caladas, sem demonstrar.
Homens e mulheres buscavam um ideal para se prenderem, outros ficavam pelo caminho abraçados com a morte pestilenta. Às noites não necessitavam das estrelas para percorrer; já eram marcados a ferro, suor e lágrimas. A carta náutica, a rota, sangrava n’alma indicando o destino de cada um.

Nesta herança de valentia e fragilidade, buscas e esperanças, nos encontramos.
Caiu-me às mãos um mapa que tua alma desenhou. Sem latitudes e longitudes. Versos, muitos versos. Ocupei-me deles todos a percorrê-los com o mesmo cuidado dos nossos ancestrais argonautas, lusitanos. Eles, o sonho da nova Terra, eu, na busca do porto de tua alma.
As correntezas são muitas: Sensual, Insensatez, Sonho Impossível, Viver, Enigma, todos versos teus... Cada força natural destas nos leva a entender encontros, desencontros, vontades, desejos, alguns amores, alguns pudores. Versos, roteiro de tua alma.
A sentinela dos princípios não dorme, não se cansa, não se permite. Cai a lágrima em cima de veludos por não ter beijado a boca sonhada, de não ter misturado os suores em outros desejados. Salga a alma nesta sina marcada, secular.


Nesta ânsia, de vida revolta - só poeta - querer sentir o gosto de que fosses minha. Pensamento, passatempo... Um pouco do teu olhar, um pouco se houvesse encanto, um pouco de dor, um pouco de amor, um pouco do corpo pedindo... Um pouco de tudo, um pouco do teu mundo.
O papel já se desfazendo, a força da escrita permanecendo, permanecendo...
Leio mais uma vez estes versos, mapa tesouro, e perplexo fico. São tantas variantes e condições. A boa marinhagem nestas rotas se entreter, é ser antes de tudo poeta mais uma vez.
Ver com o coração, e deixar os olhos em paz.
Para chegar em tua alma nua nos raios de luar, prata e azul, somente poeta.
Para fazer-se pulsando desejos em tua pele, somente poeta.
Para ficar-se na proa, olhando a vida de frente, somente poeta.
Para ser teu, numa viagem, num suspiro, num soluço, num silêncio o beijo silêncio sem sentinelas, somente poeta.


Ir ao encontro da poesia, com mil olhares ancestrais, sonho de 500 anos, em nome de todos os casais que viveram em portos diferentes sem afeto, sem delicadeza, sem o perfume da suave nudez do amor. Ah, conspiração de mil vidas, de mil versos, mil vidas perdidas.

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