ERA PRÓ-MUROS

ERA PRÓ-MUROS

Nilton Bustamante

Do que é feito realmente um 'muro'?

Muro divisório, muro ideológico, muro econômico, muro social, político...?

Cada tijolo, cada dureza, terá a resistência do egoísmo (das classes dominantes - estatais, ou não; coletivo ou individual -, será parte do muro).

O homem está na Era Pró-Muros e mais muros... E as respostas e as histórias, matérias de sábios observadores sustentam as desculpas e as culpas que sempre serão muitas, serão tantas, que me passa o pavor em descobrir quantos muros, quantas celas, também, minha alma brota ou brotou...

Os desdobramentos são qualquer invisível, que nos faz sofrer e viver algo que nem sabemos, mas é real e angustiante pela nossa inércia em acreditar na ilusão que 'separar' o melhor lugar que há, o melhor ar, a melhor conta bancária, o melhor pedaço do mundo, a melhor enganação, a melhor opinião, a melhor religião, cumprindo, então, a decisão da nossa vontade e inteligência, quando na realidade, somos escravos do medo e da ignorância.

Eu vivo dentro de muros. Só me encontro, só me acho, cercado.

Há tantos muros que nos prendem, e não percebemos.

Cresci, vi, aprendi, que o mundo é mesmo assim: labirinto de muros. Todos os tipos. Dos elétricos que separam corpos, aos guetos que separam esperanças; dos sambas e dos minuetos; da primeira classe, ao dos sem direito a classe alguma; dos tanques e dos tratores que despejam lares no meio da rua; das mesas fartas e dos miseráveis; dos casamentos com as pompas pagas, aos pagãos; das pelicas número certo, aos pés sujos nos lixões; das salas de jantar vazias, aos pratos nas mãos diante dos televisores vazios; das conversas sem rumo algum, ao silêncio das culpas que sangram feito feridas e solidões; da esperteza de ocasião, ao se fazer de estátua para não ir pra guerra; da criança que habita dentro do adulto ainda pedindo algo, ao esnobe e educação pelo chão; da prece pro santo para cuidar de si, e mais outra pra dúvidas, nem desculpas, nem sermão; falar de amenidades, porque política, religião, são muros altos que pode dar muito trabalho pra mudar de lado, e isso pode não ser muito bom pra atender a quem de nós faz sua opinião...

São tantos muros, entre lares, entre consciências, entre gentes, entre mentes, entre bocas cheias de dentes, bocas repletas de hálitos sofríveis e estômagos vazios, entre corações, entre vidas e estações, e relações negligentes... Muros das peles e das raças...

Tenho muros crescidos sobre muros, por toda parte em mim, muros e mais muros e as minhas lamentações...