terça-feira, 31 de maio de 2016

ALIANÇAS SEM NOMES



ALIANÇAS SEM NOMES
Autor: Nilton Bustamante

A menina esticando o chiclete entre os dedos e a mordida indecisa
nas domingueiras do Palmeiras,
ensaiando os próximos passos, os próximos compassos
que a vida permitia
entre os estragos de cada grito, de cada desfeita doméstica
nas quedas do castelo de cartas de baralho tentando ser um lar...

A vontade de sumir e de ficar.
O amor que não se decidia em a todos entender
ou de acusar
os desencontros do carinho e certa solidão.

As duras batidas na bigorna da vida
fez da menina quase de alma dura,
mas que se derretia feito manteiga em chama silenciosa.
Era preciso mostrar-se forte para ser pele grossa
e suave, na primeira distração, como a brisa invisível em busca de liberdade,
a vontade de viver, quem sabe, algo de outra cor, algo mais bonito,
longe dos mesmos conflitos, longe das novelas da tevê...

Quando masculinas mãos fizeram a grosseria
percorrer o corpo da menina,
não souberam a delicadeza do coração,
foram alvos de portas dos carros batendo, fogo pelas ventas cuspindo decepção.
Quem quis ser corpo sem alma
ficou a ver pelos meios-fios navios sem graça, não zarpam nem viajam, não vão pra lugar algum,
pois a menina parecia ser toda mulher, havia crescido, mas no íntimo um quê de sonho,
algo da delicadeza que pedia,
quem sabe implorasse pelo olhar a mais linda viagem,
outras formas de encontros, algo além da pele, outras formas de se tocar e sentir...

A menina com o riso fácil não se confundia,
franqueza nas palavras e nos gestos,
não deixava barato o que não era certo,
a alma já possuía desde muito outra disciplina, outra noção
do justo, do acerto, e do correto,
soubera desde cedo o valor e a diferença do sim e do não,
pagou o preço quando foi preciso,
mas não se arrepende nem se arrependeu
do que a língua não engoliu e falou.

Amou,
foi feliz, acreditou no que quis,
foi cinderela, foi gato e sapato,
mas, na hora de decidir soube o que era o melhor para seu coração,
e o seu coração lhe falou na altura e no tom o que precisou, deveria decidir-se,
escolher-se era o melhor das escolhas, pois, afinal, a felicidade não está no outro, está em si mesma.

Chorou,
quando teve que chorar,
esmurrou o ar quando teve que soltar suas feras.
E a vida?, bem a vida continuou...

Nesses mapas das existências, as conjugações de todas as constelações, de todas as estrelas das poesias,
o amigo (que escondia em si o papel de poeta) aventurou-se, tímido, nos verdes dos olhares da menina,
− havia ela dezesseis primaveras−,
perto-longe ele ficou esperando, esperando, esperando,
quem sabe, a vida mostrar-se-ia quando a melhor das horas.

E o tempo passou, muito tempo...

Abriu-se novamente o coração da moça, quando na Lua tornou-se musa, e da canção
a poesia mais sentida do afortunado poeta.
Vieram as duas melhores estrofes, os filhos! E o céu ficou ainda mais bonito!

E o poeta deixou de prestar atenção no tempo, −há mais o que fazer, há outras importâncias−,
aventurar-se, tímido, nos verdes dos olhares da mulher, cabelos ondulados, feito ondas,
rios de prata, e a cada passo da dança da vida, algo do amor...

Há tanto por dizer, tanto por sentir...

A musa e o poeta, quando se uniram,
não gravaram seus nomes nas alianças, mesmo agora, trinta e três anos depois,
pois, sempre souberam o nome de quem um e outro mais amou.

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Johnny Mathis, Evie
https://www.youtube.com/watch?v=63Luo3TXw54

sábado, 14 de maio de 2016

(fragmentos) Asas com asas by Nilton Bustamante)


Asas com asas
  Autor:  Nilton Bustamante

Acho que me visto de madrugadas,
fones de ouvidos,
coração de raios neons e pulo som abaixo,
me deixo alcançar pelas tristezas de algumas espalmadas mãos
que desejam desejam desejam desejam um simples toque de quem diga que, sim,
você está aqui, estou te vendo!

Ficar triste às vezes, é o primeiro degrau para tocar a felicidade.

Então toca toca toca... tudo o que desejar, das coisas mais simples...
até encostar asas com asas e seguir por aí.

Que amanhã será minha vez de espalmar minhas mãos...









O VOAR


O VOAR

Autor: Nilton Bustamante

A cama está em pé, recusa meu sono; e em pé durmo a vontade de alcançar a guitarra,
tocar lindo como beijar os cabelos coloridos dos sonhos meus...

Eu sei que sei...

Fecho os meus olhos e o coração dispara,
alcançar primeiro o que me chega depois; mas, sim, o amor não espera, grita, esperneia e pula do tapete

− que o chão é alto muito alto, alto demais
quando se deseja o desejo −,

amar curvas desgarradas pelas ruas vazias, andando madrugada, fingindo que se sabe fumar, fingindo que se vai encontrar,
qualquer momento, subway, underground, meus porões, tudo que ficou a sete chaves.

Hoje estou assim, um som de 2008, The Verve nos fones de ouvidos, e a imaginação suando pingos de liberdade!

Eu sei que sei... o voar.




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The Verve - Appalachian Springs