terça-feira, 6 de abril de 2010

SINFONIETTA

SINFONIETTA
Nilton Bustamante

A dança das notas musicais. Minha alma de corpo presente na mesma sinfonia, no mesmo delírio.

A acústica do teatro fazia passear os sons... A sonoridade atenta à batuta que regia as possibilidades dos detalhes.
A platéia absorvida. Uns paralisados, outros acompanhavam com discrição mexendo os dedos. Não eram mais dedos, sim batutas frenéticas. Interagiam.

O diálogo entre os instrumentos era fascinante.
Como leigo, tive toda a liberdade para imaginar a construção dos argumentos musicais.

Em dado momento, os Violinos Spalla, Primeiros-violinos, em notas alongadas, crescentes, contrapunham-se aos Segundos-violinos, Violas e Violoncelos com suas notas rítmicas, curtas, curtíssimas, como se fossem, na natureza, gases de elementos diferentes, que se condensavam num duelo vibrante, anunciando uma tempestade impiedosa. Quando na escuridão mórbida, ameaçadora, no ápice, o dilúvio era esperado em queda livre, inesperadamente, ao fundo, um único som metálico, delicado, como de um pássaro distraído pelo fascínio do próprio canto, vai ao encontro das trevas eletrificadas, mas para surpresa minha, ao pensar que era o fim do frágil, ele se agiganta, torna-se maior e inibe a fúria da tempestade que o deixa passar incólume. Cria-se uma trégua para o lírico. A soprano louva a cena com estrondosa e divina inspiração. Ah! a soprano, deusa erudita, não se comportava como uma mortal no palco. Voava pela acústica. E não era só sua voz, era seu suor, seu calor vital. Transmutar o prazer visual e audível que eu sentia emocionado ao assistir a peça lírica, em chamas de apelo sexual foi uma conseqüência. Sonhei mil maneiras de entregar um ramalhete de rosas vermelhas, de ardente paixão pela soprano. Imaginei-me fazendo amor com ela, no palco, ali, enquanto ela vencia seus limites humanos.Queria sentir também o êxtase de sua interpretação, do divino.

Suas cordas vocais me amarraram de tal maneira que não mais seria homem livre.

Agora um “schiavo”.

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