quinta-feira, 22 de abril de 2010

DEUX


DEUX
Autor: Nilton Bustamante
Camille, ah, Camille Claudel!
Ah, como chorei, lágrimas jorradas em soluços, lavras de vulcão, soluçantes erupções. Chorei sendo eu, em fértil imaginação, as rebentas formas nuas saídas com vida das pedras, dos metais, nascituros mutantes, pulsares latentes de pungentes estátuas santas e vãs.
Sempre assim, cintura e ancas comprimidas, esforço dos músculos.
Sempre assim, na busca de encontrar a mão amada, quase lá, quase tocada, camada de ar, sopro de brisa entre o espaço vazio, quase sentindo o calor dos amantes... A poesia em gestos, a entrega, harmonia das linhas mentais no equilíbrio em novas coreografias, fantasias, descobertas; a loucura amiga, companheira invisível, sensível tudo vê, tudo sabe, e se cala. O inusitado, o instável, saltam, derrubam o que havia no tênue perfil de um pensamento de paz, de um pensamento de luzes apagadas, quarto madrugada, ateliê da mente que não para, não para de reclamar criação, solução...
Ah, Camille, eu sei, eu senti, eu sinto ainda o mesmo que você: a busca do encaixe perfeito.
Ah, Camille, tudo que seu coração produziu é tão contemporâneo ao meu. Ficamos de joelhos, vendo o amor a um triz, a uma fatia de ar, a um risco de brisa de distância, e o alcance desejado, sonhado, buscado, ficam pra próxima coreografia que a vida desenhar...
Ah, Camille, eu não quero ser gravado de forma vã em lápide fria sem antes amar o amor que tanto busco; ah, Camille, antes, pudesse eu, ser tirado das pedras e dos metais, e alcançar de vez o que essa loucura ainda insiste em me fazer acreditar, assim, Camille, como foi com você, buscando, buscando, Rodin...




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"Camille Claudelle" Agnieszka
www.youtube.com/watch?v=fPixZq9JJuI (Camille Claudel)
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