segunda-feira, 5 de abril de 2010

TRANSA


TRANSA

autor: Nilton Bustamante

Há quem deseja a própria mulher com tantas camadas, com tantas peles por cima, que de outro jeito já não acha graça, já não se excita...

Precisa do disfarce, vitrine sex shop: enfermeirinha safadinha, mulher gato, mulher cachorrinha, mulher melancia, mulher morango, mulher todas as frutas, bombeira, secretária executiva, vadia beira de cais, adolescente crescidinha, tiazinha, mangá menina meias três-quartos e saia curta plissada xadrez, amazonas pernas arcadas, empregadinha-qualquer-salário-sem-calcinha-e-sem-carteira-assinada, gueixa, bonequinha de luxo, polaca, francesinha, artista-qualquer-uma-talvez...

Quem sabe se não tivesse tão preocupado em encontrar algo entre mil fatias, mil pedaços, pudesse encontrar a própria mulher amada por inteiro.

Há quem necessite do disfarce o tempo todo para se ter coragem, a coragem que o medo evita e não deixa o homem crescer, nem a sexualidade amadurecer...

A melhor fantasia é ser quem somos, mostrar-se sem receios,
e ainda melhor é decidir-se por quem nos apaixonamos!

Pode ser o medo rondando, o receio de se estacionar no gélido desinteresse da rotina, ou apenas querer sentir outros gostos, outros perfumes... Pode ser a desastrosa e viciante fila de fantasias esperando a vez para subirem na cama – quando já não sabem mais de outra maneira –, pois, nesse caso, perderam-se a coragem e o interesse da essência do real; só funcionam atrás de máscaras. No entanto – penso – , o que há de mais instigante, de maior apelo, voos mais libertários do que se aventurar cada qual com seu par nos desconhecidos universos de um e de outro?

Nesses campos, onde estar nu não quer dizer estar sem roupa, a melhor busca, a melhor piração, o melhor que se pode experimentar, é ser totalmente livre na exposição de si próprio e se aventurar no outro com a fantasia de si mesmo!

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