domingo, 27 de junho de 2010

PÁSSARO FERIDO



PÁSSARO FERIDO
autor: Nilton Bustamante

Pássaro ferido, junta teu pó e cubra de tuas próprias cinzas todo teu ser, e voa. Uma luz pode vir de longe, pode alcançar tua morte, desfazer por sorte tua dor.
Voa, então, alcança a constelação.
Voa, então, sente a contemplação.

Oh, pássaro sentido, em teus olhos já brilharam o amor, agora não querem falar; o medo e o rancor dos tempos difíceis para tua compreensão pesam egoísmo em orgulho agressor.

Oh, pássaro ferido! Abre teu peito, ergue tuas asas, lança-te sobre o precipício, lança-te no vazio, não te entregues. Antes ficar sem as telhas, sem abrigo, amargar os temporais e olhar pro céu aberto, livre pro voo e acelerar o coração outra vez diante do desafio do que está por vir... Não engane teu espelho dizendo que não te apaixonas por seres exigente. Não percebes que não é o medo de voar, mas sim o fascínio do medo de não manteres o voo em completo domínio?

Oh, pássaro ferido, não tenhas tanto receios. Voa noite, voa luz, voa o amor, porque o frio nada mais é que a lembrança do abraço quente. Teus lábios solitários, mesmo se distraindo com outros tantos, não sentem o gozo que sentiram um dia, mesmo burlando todas as leis, na redenção de todas as sentinelas, na entrega da alma que te fez ninho no corpo febril.

Oh, pássaro que não mais pia, já não canta, não fala doce, não toca tuas melodias que já foram lindas por quem pode recomeçar o paraíso em tuas chamas. Tanto medo, por quê? Abra tua janela, abra teus horizontes e que tu vejas a estrela na grande espera. Que tu vejas que sou eu, outro pássaro ferido, juntando meu pó, cobrindo minhas cinzas e voando pro teu encontro, pro teu abraço, pra lembrar a revelação que fomos nós, que somos nós, pássaros feridos, morrendo todas as vezes, de amor...


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