quarta-feira, 23 de junho de 2010

BICICLETA E MADRUGADA



BICICLETA E MADRUGADA
autor: Nilton Bustamante

Ando de bicicleta pela madrugada, olho o céu e imagino... você.

O que será por detrás da cortina escura repleta de noite onde sua alma escondida atua? Tento tanto tanto tanto espiar pelo seu olhar. Mas como fazer? Não, não é tão simples assim... pelo menos pra mim. Chego a fazer parte desse silêncio, vulto se equilibrando nesse delicado momento que tento entender e quem sabe encontrar a entrada
por felicidade esquecer-me de buscar a saída?... Quando o que não é possível se distrai, encosto meus dedos nas estrelas, que de tão próximas me deixam experimentar o frio que cai em fino brilho no espaço negro, negro, negro. Eu não posso mais com esse açoite, esse frio sem você. Corta fundo, sangra e a poesia não ajuda, apenas machuca ainda mais e mais.

O tempo voa como pluma livre, enfeite qualquer, detalhe esquecido pela menina que quis ser moça, moça que quis ser mulher para fugir das labaredas e dos dragões. Essa menina, essa mulher, foge, foge, foge o mais que pode. Só não larga o sonho e a vontade de ser amada por quem possa mostrar mais do que mãos arrancando seios e coração aos pedaços...

Posso imaginar pelos cantos, por baixo do tapete, alguns beijos, alguns sonhos esquecidos... Mas, não vejo você por detrás da cortina. Não consigo, não consigo...

Sinto que ainda em você há esperança quando passo diante de sua janela e vejo o vaso de flor a espera do sol. Um sol sem nome, que apenas faça acompanhar a trajetória da vida pra valer a pena pra essa menina, essa mulher que é mesmo flor debruçada na janela
– disfarçadamente pra ser notada , querendo sentir um pouco de calor, à espera da luz de outros olhos para mostrar suas cores, perfumes e miados... Até os prisioneiros têm o direito de alguns minutos para se encontrar com o sol! .

Estar assim tão só, às vezes é opção; às vezes, decepção e outras, distração.

Nessa madrugada em que os corpos dormem e as almas fogem talvez você esteja vendo o mesmo céu, as mesmas estrelas, o mesmo brilho que cai do espaço, altar da noite, sentindo o mesmo ar, o mesmo frio. O que será por detrás da cortina escura repleta de noite onde sua alma escondida atua?
e não diz.

O que eu sinto não dorme cedo.

Hoje somos segredos na noite fria, somos passeio, somos apenas vultos se equilibrando em delicado momento... Hoje somos bicicleta e madrugada.


Nenhum comentário:

Postar um comentário