sábado, 27 de julho de 2013


DESPEDIDA
 autor: Nilton Bustamante

Chegou o momento.
Chegou o dia empurrado pelo calendário, que eu não queria ver.
Chegou o dia do juízo final. A nossa união terá salvação?
A cada dia menos, mais eu era empurrado para você; abraçava-a cercado pelo desespero.
Tudo o que quero agora é dizer o que calei; mas o tempo...

Quantas coisas deixei de eternizar em nossa relação; quantas coisas deixei de acrescentar pelo descaso, pelo descuido, pelo orgulho, pelo ciúme descabido; quantas inquietudes...

Será que os amantes não percebem? Depende deles se carma, se luz.
Olho para nós através da janela do tempo e fluem imagens de amor convertidas em pequenos fragmentos.

Começo a sentir saudades.

Já que estamos nus, corpo e alma, antes que se vá, deixe-me mapear suas pequeninas pintas, salpicos da natureza. No amanhã quero matar as saudades percorrendo com o pensamento todas estas trilhas.

Ainda há tempo para mais um gozo, mais um prazer. Este somiê vem tão a calhar, trono para nossas estripulias.
Como farei sem a posse, sem o uso deste psicotrópico que se tornou o seu corpo?
Abraça-me lentamente para prender-mo-nos nas boas correntes que o amor produz; germinar a boa dor da saudade que ora já me toma completamente.

Você está tão calada, como nunca foi...

Dê-me sua mão, e diga que não vai mudar em nada... Minta, mas diga que não. Mas, o que estou pedindo? Congelá-la no tempo?
Muitos pedem para serem congelados, após a visita da morte infalível, com a esperança da ciência, no futuro, encontre a cura para os seus males.
Qual o antídoto, meus Santos, para curar a separação?
Vê? Seu navio  a aguarda para atravessar os mares, para terras que eu não sei.

Dói, dói, dói.

Espere um pouco mais, quero chorar em seu colo; quero meus olhos embaçados para nada mais ver.

Não receie pela viagem, apesar de tudo, eu orei àquela estrela mais próxima trazida pelo lusco-fusco; ela guiará seu navio que já a chama, urrando, lembrando choro...

Em completo silêncio autista, eu no cais ela no convés, construímos pontes entre nossos olhares. Enviamos os últimos beijos de amor, altívagos.
E assim foi, o aceno final para o nosso desencontro, nossa despedida.

Lentamente, para aumentar a agonia, o navio sumia levando seu corpo na linha do horizonte, até tornar-se miragem; e para minha surpresa, sua alma,  mãos dadas às minhas, dedos entrelaçados, acompanhou-me em contrária direção...



Nenhum comentário:

Postar um comentário