quarta-feira, 25 de julho de 2012



CORAÇÃO DE VIDRO
  Autor: Nilton Bustamante

Há uma rosa vermelha sobre a mesa.
A mesa é de vidro.
A rosa está mergulhada no vaso sobre a mesa.
A mesa é transparente. O vaso é de vidro.
O vermelho da rosa parece veludo, sobre a mesa parece fazer sentido.
O vermelho parece sangue, parece vida. O vermelho é de vidro.
Meus ouvidos ouvem Bach, Suíte nº 1 in G para violoncelo, fico no palco, no centro vazio.
O mundo é gerado, é gerido, o meu parto parte meu coração, é dolorido, choro e sorrio pro mundo, nasce a poesia pra não me deixar só, pra eu não ficar acanhado nessa nesga de sol, nesse espaço que o tempo esqueceu e a música lembrou.
Meus cabelos são compridos, banham-se em prata, raios da lua que buscam madrugadas. Pareço poeta, mas meu coração é de homem: enquanto um é salvação, o outro é perdição. E eu com um pé lá, outro acolá, as pernas se abrindo, se abrindo, o desequilíbrio vindo, o infinito caindo sobre mim, vou me segurando aguardando o tombo, aguardando o voo, ouvindo a canção.

Há uma rosa vermelha sobre a mesa.

Não é pedra, nem caminho. É miragem, imaginação de minha alma sem sair do lugar, sem se incomodar com a ideia que ao homem não é dado voar. Sem se importar que ao homem o coração sofra, sinta dor, e não é dado chorar...

Meu coração é de vidro, vaso transparente, há uma semente, uma mergulhada rosa, rosa vermelha fazendo sentido, parida feito presente pro meu parto dolorido, nessa nesga de sol, nesse espaço que o tempo esqueceu e a música lembrou... Que há poesia, que há amor.

Há uma rosa vermelha sobre a mesa.

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BACH _ Mischa Maisky


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