quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

MOZART


MOZART
Autor: Nilton Bustamante

O caixão na parte de trás da carroça, com jeito de algum valor, corta o lamaçal. Atrás ninguém mais, além de uma ou duas pessoas. Seguem o trajeto fúnebre. Surge um cão de andar solene coloca suas patas nas águas que transformaram a terra em molde disforme e desfila... O barulho é agudo, cortante, das rodas, dos eixos, dos pesos dos sofrimentos, ou da indiferença, o que fazer, o que fazer?

Os ecos das risadas, as bebidas desregradas, o esmero das roupas de gala, os salões e seus inconfessáveis segredos à luz das velas, são apenas opiniões que nada mais valem. O prodígio, o encantamento das plateias, agora não mais. Tudo passa, tudo passou. E a música, e a música? Ah, Mozart, porque ainda brinca com a morte se escondendo da vida?

Abre-se a vala, nada de novo, somente mais um vazio. O esforço, o caixão quase que largado, quase que jogado, mais um corpo, mais alguém sem opinião pro fundo da escuridão.

Chora os anjos, mais ninguém.

Mozart, menino crescido, gênio perdido, quem sabe agora aprende que tudo é efêmero. Faça sua prece, abrace alguma luz, rege agora o seu réquiem...

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Requiem K.626 - 5. Rex tremendae (chous) - W. A. Mozart
https://www.youtube.com/watch?v=0hUmWctPPu0

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