terça-feira, 9 de março de 2010

SINAGOGA E PAZ NA TERRA AOS HOMENS QUE SONHAM




SINAGOGA E PAZ NA TERRA AOS HOMENS QUE SONHAM
por Nilton Bustamante (em desdobramento da alma)

Saio do meu corpo como uma criança que encontra a porta aberta e avança.
Caminho como caminha qualquer um outro, feito quem encontra o céu aberto e se lança em mais um sonho.

Um céu sobre a cabeça, portal pedaço tingido de azul em cujas escuridões que chegam a cada dia se veste de imensurável manto com sentidos brilhos estrelares; apaziguam, enfeitam cenários dos olhares que se erguem por descuido, ou procura; paixão, ou desespero...

Não há família, não há vizinhos, não há histórias, não há memórias.

Não sou menino, não sou jovem, não sou velho, não tenho idade alguma. Apenas minha alma se desdobra em sonho.

Um passo após o outro, e mais um, e mais um outro, mais um silêncio, ligando-se, estrada sem placas, sem palavras, vai-se não sei pra aonde. Encontro o vácuo de minha alma vazia. Dá-se pra ver até as mais longínquas fronteiras de mim mesmo. Até onde chega a parte de mim que já habitei − cantos e recantos que um dia pisei, desertei e larguei ao esquecimento.

Não havia nada então que chamasse minha atenção.

Insisto na caminhada.

Os meus passos em firme direção, com a bússola que eu não leio, que eu não vejo e nem sei... Sigo fora de minha alma, encontro entre tantos desertos, outros tantos caminhantes, outros cavaleiros andantes que também experimentam o silêncio em única direção. Eu os sigo até perceber que são todos judeus; dirigem-se para uma circunferência no solo, um buraco. E um a um somem por uma escada helicoidal; forma geométrica que facilita a descida de todos para o fundo. Chego bem perto, paro, observo atento, vejo com os olhos não acostumados com nada igual, que neste local abaixo, encontra-se uma Sinagoga. Morada e abrigo de fé para estes homens do mundo que partiram e que não sabiam o caminho − tanto quanto eu .

Uma voz me sopra: “não desconfiam que já transitam na pátria celestial. Foram recolhidos para onde a fé de cada um convergia, essa fé feito candeeiro em mãos que buscam caminhos melhores"

− Menorá com a presença de Deus a iluminar as visões, levando luz e espiritualidade, levando centelhas da sabedoria ao mundo dos olhos humanos, tanto quanto possam suportar −.

E a mesma voz, continua: “Todos aqui estão amparados; são filhos que seguem na chama da confiança e esperança aos braços abertos do Pai.”

− Instala-me, neste instante, paz e leveza que nunca nenhum sereno das madrugadas antes me trouxera, nunca havia sentido nada assim, nada dessa forma −.

Será que acordei?

Olho e me vejo em meu coração. E no mais sincero diálogo, pergunto-me se ainda realmente tento, todos os dias, voltar pro meu corpo um tanto melhor, um tanto mais atento ao limpar os pés antes de adentrar à própria casa?

E ouço o que é sincero em mim, vêm outras perguntas...

Será que estou como aquele, que ainda rústico, tenta fazer o fogo com o sacrifício das pedras atritadas umas às outras, no esforço do trabalho das faíscas, para quem sabe o fogo, para quem sabe a chama, para quem sabe a expressão sentida da prece daquele que trabalha e se prepara para o verdadeiro amor?

Oh, Pai, quantas páginas já brotaram em meu Livro da Vida tomadas de impurezas e que o tudo a pesar será por tudo a reparar no Planeta das Flores, onde, pelo Vosso Amor, a paz dos perfumes, formas e cores esperam e recebem os aflitos desordenados com consciências em peso esmagador?

Eu me consumo nas buscas em que não encontro a saída dos caminhos. Ainda insisto ser construtor dos meus labirintos.

Sofro a dualidade que me parte ao meio, como a lenha rachada em partes iguais jogadas ao fogo; uma parte de mim meu íntimo ouve os hinos das alturas, noutra sou como os recifes incrustados de parasitas formas-pensamentos que me habitam, são minhas crias; levo perigos submersos constantes...

Quando em meu íntimo conseguirei ressoar a anunciação dos anjos?

Espero que em mim, por onde eu passar, nesses meus dias áridos, consiga sonhar a realização do servir e amar. Quem sabe um dia, eu possa ouvir: "Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bonae voluntatis"?! (Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade)!

E sinceramente, em vez de ser solo, quero, nessa bendita hora, ser minúscula e íntima parte de um coro universal em cânticos de amor, verdadeiro e sentido amor pelo Pai, Nosso Senhor! Esse Pai universal que semeia estrelas, enquanto solenes produzimos lixo de todo tipo e desordem. Faz-nos brisa, enquanto lançamos bombas, matamos a Terra, e semeamos furacões. Dá-nos refrescantes sombras de árvores, enquanto fazemos dias tristes, quando aos sorrisos das crianças levamos decepções. Presenteia-nos com todas as Artes, quando preferimos levar vidas brutais e sorrateiras. Dá-nos famílias, enquanto dividimos, fazemos partilhas com ganância e vaidades. Estabelece-nos todas chances e oportunidades, enquanto matamos rios e árvores. Faz que alcancemos planetas-naves-escolas em jornadas universais, enquanto nós mesmos nos aprisionamos em dramas seculares, culpando a tudo e a todos. O Pai envia-nos os tempos dos tempos, todos os ciclos para nascermos, morrermos, renascermos eternos para os de boa vontade bem-dizer as obras, as próprias obras, enquanto maltrapilhos morais fazemos pouco caso com arrogância e inveja do avanço e preparo meritório dos nossos iguais...

Eu Lhe agradeço Pai, mesmo com minha mísera e parca visão. Oh, sublime sensação de ver a semente de princípio divino interagir com outro meio acolhedor, brotar no grande esforço do rompimento da inércia e avançar em direção à luz e servir com o fruto, com o bendito fruto, o fruto do esforço, da reforma íntima, o fruto do Amor.

Paz na Terra aos homens que sonham, sonham um mundo melhor a brotar dentro de si!

E quanto menos pude me atentar, despertei em meu corpo carnal, para receber uma nova manhã!


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VIVALDI
Gloria - 2 – Et in terra pax :
http://www.youtube.com/watch?v=iqj9BFfL1jQ&








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