sábado, 21 de maio de 2011

LOUVA-A-DEUS NO QUARTO DA MENINA


LOUVA-A-DEUS NO QUARTO DA MENINA
 autor: Nilton Bustamante

Quando as matas eram de seu reino reis e rainhas, o sereno caia leve, caia manso, vinha lindo respeitando os verdes que eram tantos e tantos que não poderiam caber nos melhores sonhos dos pincéis dos homens.

Quando as matas foram escassez e rinhas sem reino, o sereno foi morto, foi seco, veio espanto, sabotando os verdes que foram tantos e tantos que não poderiam caber em nenhum dos pincéis que os homens pudessem um dia criar.

Quando tudo era triste, quando não mais havia sereno, quando tudo era desencanto, quando não mais havia humano jeito uma inesperada lágrima, pesada em molhado sentimento vindo de longe, muito longe, muito além das mil galáxias, pra lá das poeiras silenciosas do Cosmo, despencando de um olho estrela, que não aguentou tanto penar, tanto pesar, tantas desesperanças secas − secas vidas, secos sonhos verdes, secas harmonias em tortas agonias, matas sucumbidas, derrubadas, humilhadas, escravizadas e mortas pelos deuses motosserras −, eis que a sentida lágrima ao cair sobre o solo árido planetário transformou-se em prece, transformou-se em louvor, entrega; em sua metamorfose terrestre  manifestou-se em louva-a-deus. Presente à Humanidade, forma alienígena que viria frequentar matas, campos, periferias e jardins, ensinar que para essas últimas matas não poderia mais envenená-las com pesticidas e afins; que ele, louva-a-deus seria o ensino do equilíbrio biológico, e tanta seria sua serventia e entrega, que daria sua própria cabeça de macho pra demonstrar a seriedade de sua missão: Decapitado e com seu corpo atuando para terminar na fêmea a fecundação, sinalizando que a vida é maior, ensinando que todos precisam fazer seus sacrifícios e rezar, rezar feito louva-a-deus vindo das alturas, uma lágrima despencada, parida de um olho estrela que de tanto horror pelo que viu neste pequenino grão perto de sucumbir em areia, agora, sonha em voltar a ser melhor solo, terra.

Quando a menina viu o louva-a-deus em seu quarto, pensou ela ser a causa a janela aberta; não percebeu que foi de seus olhos a mesma lágrima, a mesma oração.


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Schubert
http://www.youtube.com/watch?v=GkX4MyDeIqI&

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