terça-feira, 14 de abril de 2015

PARA FECHARMOS OS OLHOS

     Arthur Tress, Office Workers


PARA FECHARMOS OS OLHOS
Autor: Nilton Bustamante
Ah, você sabe bem que sou emoldurado de carne, sangue e paixão
Que não sou, não consigo, nem um pouco, ser alma só, ou só pele
Sou do avesso para quem olha e me cobra o que não posso oferecer,
Nem ao menos a paz − tenho muitas guerras,
Tenho contradições

E as palavras, ah, as palavras, não me deixam o vazio
Me suspendem no pau de sebo para ser prenda de mim mesmo
E se não soubesse
Pensaria que as alturas eram somente para as vertigens
Mas são para a salvação do voo
Da possibilidade de acreditar ser mais leve que o próprio ar,
Que o próprio pensamento
E quem sabe, em algum descuido... amar

Ser vadio a tal ponto de ter todo o tempo do mundo para fazer poesia
Se arriscar, deitar-se em branco papel
E colocar o que chamam coração e suas cores
No mesmo voo, na mesma vertigem, em tudo que nesse mundo possa ser
Contradição

Mas, olho nos olhos
Até a raiz das vidas que ficaram passadas
E quero que o amor esquecido, a gentileza envelhecida
Sejam agora novas manhãs
Dessas que fazem o sorriso sorrir
Dessas que enternecem o gesto
O toque
O retoque
Para se sentir diferente, atraente
Para se olhar no espelho e ver o bonito que se quer mostrar
E tudo tão perdidamente ingênuo
Que não haverá culpas
Não haverá vendas nem permutas
Os sentimentos serão por eles mesmos o que tiver que ser

Hoje, quis falar para você que meu coração bateu um pouco mais forte
Acelerou um compasso a mais,
Desafinado, talvez cansado,
Que ainda clama
Que ainda queima, arde, e pede para fecharmos os olhos
E deixar nascer o beijo
Como quem vem ao mundo
Em salgadas lágrimas, talvez o medo, talvez as sensações desconhecidas
E entregar-se para tudo o que for chamado VIDA!


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Alberto Nepomuceno – Suíte Antiga - Ária
https://www.youtube.com/watch?v=UeAfKwIUocw
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