sexta-feira, 13 de novembro de 2015

“AIS”


“AIS”
Autor: Nilton Bustamante 

Essas suas frases sempre se iniciando com “ai”,
− sei, eu não deveria dizer, não deveria, mas isso já é provocação, desaforo, é arrepio a quente e a frio –
me faz ouvir outras formas, outros sons,
como quem diz “ai” com rosa vermelha entre os dentes, 
geme ardente a dor e pede mais...

Essas suas frases sempre se iniciando com “ai”,
− sei, eu não deveria dizer, não deveria, mas isso já é alucinação, perdição, vinho na taça com sede se insinuando na boca que bebe, 
morde o suave que entumece e o que se aprofunda em rio –
me faz pensar outras formas, outros rasgos,
como quem pulsa e se esvai em “ais”, o tempo todo, seguidos “ais” 
desses que não saem dos ouvidos,
da cabeça, da seca garganta que engole o que quer esconder...

Talvez seja mesmo o vinho – sim, vamos culpar o vinho, fica mais fácil –
fechar os olhos, passar os dedos por onde a imaginação,
deitar-me no sofá e pelos lados, pelos entornos, 
recolhendo todos os seus “ais” e deixando um a um
feito gotas de gelo caírem sobre o quente e frio do meu corpo nu.

"Ai!"

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Asturias 
https://www.youtube.com/watch?v=Nx7vOb7GNBg  

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