segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O Socorro Em Outras Fronteiras


O Socorro Em Outras Fronteiras

(Nilton Bustamante, por desdobramento de alma) 01.fev.2016


Os preparativos eram para seguirmos em caravana fraterna, coisa já feita da mesma forma algumas vezes.

As preocupações similares para esse tipo de evento, nos envolviam.

Estávamos, minha mulher e eu, à procura do Kunta, irmão que toma para si a organização geral desses acontecimentos.

O ônibus, estacionado, à espera de alguns participantes. O vai e vem aumentava à medida que o tempo passava...

Quando, finalmente, encontramos o irmão Kunta. Comunicamos-lhe, mentalmente, que, dessa vez, iríamos com o nosso automóvel, encontraríamos o ônibus da caravana na parada de destino e que em seguida tomaríamos assento no coletivo e faríamos com o grupo o circuito de visitas fraternas, e ao final retornaríamos com o nosso auto, da mesma forma. Vindo a preocupação mesquinha do “mundo dos homens”, pensei: “mas se pagamos a viagem de ônibus e, agora, iremos com nosso veículo, então poderemos ter algum tipo de ressarcimento?”; mas, na sequência, respondi para mim mesmo que isso não importava. Deixaria as coisas correrem normalmente, sem mais me preocupar com isso.

O irmão Kunta, pegou um papel, desses papel-toalha, e anotou o mapa e endereço de um hotel da cidade do Rio de Janeiro. Ao ler, indaguei, intimamente: “Rio de Janeiro?!”, pois estávamos acostumados em nossas viagens anteriores irmos para Minas Gerais, visitar as cidades de Uberaba, Araxá, Sacramento, onde médiuns notáveis ficaram conhecidos por incansáveis trabalhos fraternos, livres de quaisquer interesses pessoais (Chico Xavier, Eurípides Barsanulfo, e outros) tendo como Norte, moral e espiritual, o mestre maior, Jesus Cristo.

O interessante é que, ao pensar no caminho que deveríamos fazer de automóvel, uma das paradas seria a cidade de Santos. Sabemos que, na prática, de São Paulo ao Rio de Janeiro, a cidade de Santos é fora de mão, aliás há outros caminhos mais diretos e rápidos.

O irmão Kunta orientou-me ainda que, quando encontrássemos o ônibus da viagem fraterna, deveríamos procurar as irmãs Santina, ou Silvana.

Sem problemas, pensei, conheço bem as duas.

Chegamos ao destino primeiro, por estarmos de automóvel.

Comecei a andar a pé pelo local, para conhecer e saber do que se passava por ali. Já não mais sabia de minha mulher. Apenas circulava. Dentro de mim, havia um chamado que me dizia que eu estava naquele lugar para agir, trabalhar com objetivos de fraternidade humana.

Muitas pessoas iam e vinham.

Havia uma igreja pelo caminho. Por ali fiquei. Alguém mentalizou-me que deveria auxiliar irmãozinhos, moradores de rua, entregues aos vícios.

Achei curioso, quando olhei para mim, e vi que estava com um blusão muito alvo, branquíssimo.

Não tardou e deparei-me com grupo de meninos, em atitudes ameaçadoras. Ao mesmo tempo que eram frágeis, eram perigosos. Concentrei-me em um menino, bem novo mesmo, sem camisa, magrinho, e tentei me aproximar. Fiz algum tipo de comunicação mental que, no primeiro momento senti que a criança ficou mexida por dentro, mas logo fugiu. Fui atrás. Encontrei-o em um corredor sem uso, ao lado da rua. Continuei a enviar-lhe mensagens fraterna; mas ele veio-me com algo de metal, perfurante, à mão.

Levado por uma força harmoniosa maior, disse-lhe, mentalmente, que eu estava ali para ser seu amigo, que ele poderia contar comigo. Não mais que de repente, ele desabou em um choramingar infantil, que sua mãe o havia abandonado, que a procurava sem sucesso algum e afirmava que ninguém se importava com ele. A solidão do menino era imensa, gritante.

Reafirmei que ele poderia confiar em mim, que agora seria diferente, quando aceitou o meu abraço.

Ficamos assim, abraçados, andando lentamente.

No profundo de minha alma, queria eu que o menino sentisse o calor que tanto desejava.

Foram momentos deliciosos, havia esperança.

Ao passarmos na calçada daquela igreja, ou algo que o valesse, havia uma espécie de mesa com bloquinhos de papel, onde se anotavam os nomes de pessoas que se ensejavam preces. Convidei o menino para colocarmos o nome da mãe dele, que ela, certamente, um dia viria ao seu encontro. Ele pegou uma caneta e começou a riscar algo, com dificuldade. Emocionado, com aquele momento tão especial, pedi-lhe para escrever também o seu próprio nome. Fiquei na boa torcida; pois sabia o quanto isso era importante. Mas da mesma maneira que há revoada, quando os pássaros se assustam com algo, todas aquelas crianças em estado de desamparo se evadiram, inclusive esse meu novo amigo. Ainda deu tempo de eu perguntar-lhe qual era o nome dele, quando respondeu-me: “Jairo... Jairo Verneck”. E já ao longe, ainda perguntei: “e qual o ano que você nasceu?”, fiquei sem resposta.

Fiquei procurando-o, com meu coração apertado.

Não queria falhar, desejava que ele soubesse que poderia contar comigo, que não estava sozinho no mundo...

Na parte baixa daquela região, eu o avistei em meio a muitas crianças, correndo.

Comecei a gritar o seu nome.

Eu estava desesperado para encontra-lo e abraça-lo, novamente.

Havia uma faixa larga de terreno, entre muros, de um lado era a “cidade”, onde ficavam as pessoas, se posso assim dizer, e a outra parte era o vale dos esvaídos, para onde a turba infantil se refugiava.

Gritava eu, mentalmente: “Jairo, espera aí”.

O menino parou, hesitou. Ao mesmo tempo que queria encontrar-me, era chamado pelos demais. Mesmo ao longe, eu “ouvi” os meninos dizerem em tom de divertimento: “O ‘espera aí’ está chegando”, referindo-se a mim.

Eu corria mais que podia, naquela faixa de terreno. O chão era muito difícil, notei que era antigo roseiral, destruído, e com muitos tocos de troncos e espinhos. Tomava cuidado para não me ferir, mas, convicto fui, o quanto podia, em direção ao menino que me olhava, parado; mas quando eu ainda no meio do caminho, o menino se foi de vez.

Imediatamente, despertei, aflito, no meu corpo material.

Orei (certamente com outros mais) para Jesus Cristo e Maria de Nazaré em favor do espírito do menino.

Agora, em meu íntimo, com um pouco mais de paz, sei o nome para ensejar outras preces nos bloquinhos de papel, nas urnas de orações...
                                                                                                                                                    

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