domingo, 21 de dezembro de 2014

CULEX PIPIENS


CULEX PIPIENS
Autor: Nilton Bustamante
Culex pipiens, eis o nome científico do “violonista noturno”, o pernilongo!
Agora, falando quase chorando, isso não se faz, senhor Culex, não me deixar em paz dentro do meu próprio lar, e não só isso, dentro do meu sagrado quarto, no berço esplêndido do meu sono. Esse zumbido, esse zigue-zague, esse violino desafinado de quem está aprendendo a tocar e nunca consegue soltar uma nota, uma mísera nota afinada e faz todo mundo a começar a odiar qualquer tipo de melodia, ou música.
Eu juro que tento não lhe dar atenção, imaginar-me estátua distante, no profundo das geleiras, no alto das montanhas petrificadas de frio, onde nenhum violinista exista. Chego a delirar. Mas, é um quadro insólito, quando um ser humano no máximo da alucinação de prolongada tortura, perde o senso, perde a razão, e começa a perambular pelo quarto feito fantasma envolto no lençol, com um calor insuportável, deixando descobertos somente as duas narinas para não sufocar de vez, e um dos olhos para mirar e em cada mão o chinelo e revista para acertar esses músicos de terrível sinfonia e acabar de vez com o sofrimento, com essa exaustão.
Soube outro dia, que esse zumbido, essa esdrúxula sinfonia, vêm da alta frequência do bater de suas asas, mais de mil vezes por segundo, e com tanta capacidade motora, por que querer exibir-se bem diante do meu rosto, nos meus ouvidos? Ah, por favor, um pouco mais de humildade, um pouco mais “simancol” e vá desfilar feito esquadrilha da fumaça pros seus negos, mas perto de mim não, francamente não, e outra vez NÃO!!!
Ah, cabe aqui uma reparação: não é “o” violinista, é “a” violinista, pois quem pica é a fêmea, precisa de sangue antes de reproduzir-se. Ah, Dona Culex, vamos fazer uma trégua, vá fazer suas farras romanas em outras paragens, que tal Roma?, ou se preferir siga os exemplos de seus pares machos que vivem principalmente de néctar ou seivas vegetais... E por falar em Roma, dona Culex, não queira, a exemplo dos centuriões, cada qual vir com seus cem...
Dona Culex, avise as suas amigas “centuriões” que não venham hoje à noite e nem apareçam no meu quarto, pois preciso dormir, preciso de descanso, estou um caco, estou exausto, preciso assistir meus sonhos como outrora, senão terei que colocar uma placa na porta do local que já foi sagrado: Aqui jaz um sono em paz (21/dezembro/2014)!


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