sábado, 5 de dezembro de 2015

DOCES TROVOADAS

DOCES TROVOADAS
Autor: Nilton Bustamante

Quero escrever, mas a tinta da imaginação não vem, não chega
Estou como quem correu tudo que precisava correr
Tudo que precisou respirar
Tudo de tudo
E se cansou, esgotou-se, sem força pra reagir resolveu olhar o infinito

Hoje aquela volúpia, aquela vontade de luta, cede lugar
Pro simples
Do pensamento medido a palmo, hoje o voo está baixo
Esmoreço vendo homens formigas batendo cabeças
Querendo vencer a qualquer preço, a qualquer custo,
Ganhar o brilho do brilho,
Outros olhares,
Mas de nada valem, nada servem
Se o coração pesar as pedras jogadas
E o beijo não saborear o hálito que a vida traz do amor

Quero escrever, mas a tinta da imaginação não vem, não chega
Antes qualquer opinião, não mais precisa ser aquela de sempre
Não mais precisa estampar o carimbo do tudo aprovado
Hoje é um dia daqueles que a trégua trouxe bandeira branca
Feita de pedaços dos lençóis, fronha e cobertor
Hoje é para se ficar sentado e rir do tempo
Rir da pressa
Rir das brigas, das intrigas, das cronometradas corridas,
Hoje é dia de rir de mim

Sou lixa grossa, nem sei se o que faço consegue deixar recado
Dentro do meu sapato
Pra não esquecer
Que não é pra calçar, não hoje, hoje é dia de andar descalços

Os brindes por aí,
As mesas de bar equilibrando o peso de tanta conversa, tanto papo,
Tapas, beijos, abraços,
Não me são suficientes pra me embriagar,
Não me são, hoje não o riso fácil pra nada, quero respeitar o riso alheio
O sorriso nos lábios que não são os meus
Merece meu minuto de silêncio,
Meu respeito,
Não por pena, não por querer ter igual, nem mesmo estou triste,
Apenas por escolher, por agora, luz
Que chamei por companhia,
Veio porvir nos cantos dos olhos meus
Pra, quem sabe, encontrar universo espaço, pedaço de sonho a mais
Ficar espaçonave dentro de mim

Quero escrever, mas a tinta da imaginação não vem, não chega
Eu me deito e espero que a noite seja, hoje sim, semente que voa
Seguida por meus olhos, seguindo o voo, desviando do sono,
Que a noite seja dia, seja toda doces trovoadas por mim

Valentina Lisitsa - Moonlight Sonata Op.27 No.2 Mov.1,2,3 (Beethoven)




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