sexta-feira, 31 de agosto de 2012


 
NUDEZ DA ESCURIDÃO
     Autor: Nilton Bustamante

Canhão de luz dispara o seu foco sobre mim nesse mundo escuro.
Além de mim o vazio...
Além de mim o escuro do que eu não sei.

Canhão de luz dispara o seu foco sobre mim, me deixe nu.
Deixa à mostra tudo que eu atraí, tirei do mundo e larguei por aí...
Torna-me alvo nesse palco, nessa cela, nessa roda que gira em volta de mim.

Não consigo ver esses rostos no escuro que riem, vaiam
Entre suspiros de indiferença, indignação...
Nessa luz que me faz dia, sou carrossel vendo tudo o que se passou em mim.

Nem vergonha, nem surpresa,
Nada que eu já não soubesse,
Nada que eu já não me indignasse,
Eu sei ser ator de mil papéis, pra cada hora, cada local,
Sou atroz, sou normal.

O que será de mim?
O que será de nós?

As bocas que foram beijos são maldição,
As línguas que se encontraram são traição.
Essa luz, essa escuridão,
O que está dentro, o que está fora, enquanto tudo roda, gira, não para...

O que será de mim?
O que será de nós?

Esse deserto, essa vastidão sem caminho, sem paciência, sem estrelas...
Cada vez mais veloz as células nascendo, morrendo, desfazendo o tempo...
Eu pensei que seria capaz, que tudo seria sempre igual,
Enquanto as filas pedem pressa, enquanto a loucura parece normal.

Pensei que eu era, que eu era pra sempre,
Acabei nessa cela, nessa roda,
Nesse palco sozinho, falando sobre o que fui e o que sou,
Minhas tintas tingindo a escuridão, o que não consigo ver...
Até quando luz,
Até quando escuridão?
 
O que será de mim?
O que será de nós?


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