sexta-feira, 29 de outubro de 2010

LAMENTO DE AMOR


LAMENTO DE AMOR
  Autor: Nilton Bustamante

Oh, mulher, sai à janela de azulejos azuis
e veja o canto que te espera!

Ouça esta minha voz de lamentosa esperança!
Quase um gemido, quase um pedido.
Quase um chorado fado...

Oh, mulher, vem à sacada e saiba o que abriga imensa lua,
que abraça e alcança o meu peito que ora é de homem,
ora é juvenil,
ora nem mesmo sei de tanta dor,
tantos desejos...

Oh, mulher não te deites sem dar-me teu morno e doce jeito,
que tenho fome de amor!
Não te deites sem antes levar à tua cama mansa,
os meus pedidos de falas baixas e agitados tormentos.
Ai, como isso tudo me atormenta, me atormenta...
e sempre peço bis.

Saiba, oh, mulher de pele mascada e macia,
sou também herdeiro desta terra
que faz aos montes almas sentimentais,
partem a cada manhã forjadas em bares pelas noites...
Sou herdeiro desta terra que faz brotar desde sempre,
aos montes, as gentes que vão além-mar todas às manhãs
feito tartaruguinhas nas areias das praias
vencendo a primeira luta, a casca do ovo,
rumo às desafiantes águas salgadas para voltarem às noites
marcadas pelas estrelas,
pelas saudades,
pelos abraços repletos do calor das lutas
e entregas gentis.

Saiba, oh, amada minha,
talhada em formosa tentação e alma de mulher,
que me vê de cima, sou escravo do lirismo,
sentindo graça a andar por Lisboa,
bonde amarelo e branco sob o céu azul.
Ainda sinto a poesia que há pelas serras
em que os olhares se perdem na imensidão.
Trago em mim para entregar-te, oh, mulher amada,
um tanto desta saudade,
um tanto deste longe,
um tanto desta aventura,
um tanto deste coração que ora é altar,
ora é errante nau,
ora é certeza no olhar,
ora é amor que sangra por tudo, por todos,
ama, ama muito e não sabe nem mesmo bem o porquê,
mas sempre esse querer,
sempre esse querer voltar...

Oh, mulher, que de tão sonhada,
tornaste a melhor das terras a conquistar,
a melhor braçada para não me afogar,
abra-me um sorriso teu,
algum vestígio
que eu tenha motivos para das lidas da vida
ter um único sentido,
vencer e voltar,
e não me arrepender.

Oh, mulher,
não vê que aqui não é apenas um homem
com o coração que sangra vinho,
que faz da noite algum mistério,
faz infindáveis buscas pela mais bela mulher?
Aqui, meu amor,
sou teu à tua procura, esta desejada e amada ternura
pelo ser que me desperta pelos dias,
pelas madrugadas...

Não vê que aqui, neste meu peito,
desfila o folclore das terras nossas?
O sal das peles das nossas gentes de todas as épocas?
A fúria em todas as camas dos amantes
nos campos das delicadas primaveras e abraços apertados,
abençoados e agitados invernos?

Não vê, oh, musa das noites dos meus versos
que me faz fechar os olhos e sentir algo além?

Não vê que a sacada desde Julieta é apenas a nave,
vai-nos levar e sumir noite adentro,
como fora os navios dos nossos ancestrais cortando as águas
rumo ao estrangeiro,
onde tudo estava por vir, tudo por descobrir?

Oh, mulher,
jogue-me teu lenço com um beijo longo teu,
para secar minhas lágrimas,
trazer pros meus ares teu perfume,
para alongar as noites minhas, pois, antes de morrer com fé, prefiro, imensamente, viver,
viver por tudo que me faz versar à noite,
nestas águas escuras que suspiram, incansáveis,
lamentosa
e duvidosa esperança...

Oh, mulher
sai à janela de azulejos azuis e ouça este meu fado,
que parece triste,
mas não é um lamento qualquer,
é lamento de amor...



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Gisela João
http://www.youtube.com/watch?v=KntKPfAq3j0





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