sexta-feira, 29 de outubro de 2010

RETRATOS



RETRATOS
autor: Nilton Bustamante

O que surge de dentro é retrato.
A busca do sentido é o espetáculo,
Após ler o escrito as letras que se desfazem, perdem o sentido.
Cumpriram o que tinham que cumprir.

Se alguém soubesse, se acompanhasse, talvez entendesse o que eu não entendo.
Somos reatores atômicos fora de controle, deixamos a morte em nuvens violetas.
O que mais queremos nós com a língua bipartida; a verdade em uma ponta, e na outra?
Com uma mão o aceno de boas-vindas, com a outra a contradição?
Tentamos voar com a imaginação, mas não somos anjos. Somos o que somos.
Escondemo-nos com a face o que já esquecemos...

O que aparece pela frente é cenário, o que surge de dentro é retrato.
Eu, quando pequeno, via embranquecer um pessegueiro, meu poleiro,
Florada das flores mais lindas e delicadas que nunca mais esqueci. E naquela época eu já pensava
Que eu cresceria com o quintal dos meus avós dentro de mim. O cenário não é nada,
Pode mudar a qualquer momento, a qualquer distração do tempo; mas o retrato, esse, dentro de mim
Não se desfez, não se desfaz.

Preciso lamber sorvete de tangerina, caminhar macio, caminhar em paz, eu sei, eu sei...

E um outro alguém sabe também os mesmos retratos,
Da necessidade, da vontade de abrir as pernas e brincar de amarelinha,
Com um pé no céu e outro no inferno.
Rir-se de tudo, porque o que sentimos, mesmo sendo pro mundo, algo mudo,
Mesmo sendo pro mundo, algo surdo, está vivo dentro de nós, em letras derretidas,
Dias sem calendários, em um longo e sentido suspiro, inesquecível vontade nos lábios,
A vontade de beijar com falta de ar, a vontade de sorrir, a vontade de chorar,
O abraço pra se abraçar e não se desgrudar... O beijo de amor até vir se tornar... retratos.


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Christina Perri - A Thousand Years
https://www.youtube.com/watch?v=QgaTQ5-XfMM


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