sábado, 24 de setembro de 2011

QUO VADIS?


QUO VADIS?
por Nilton Bustamante (em desdobramento de alma)

Seguia eu em minha noite, em meu escuro. Os obstáculos constantes, difíceis. Seguia sem ao menos saber o porquê?
Encontrei alguém se opondo a mim. A sua presença era um estorvo, vibração difícil, chuva em tempestade, vento em furacão. Em tudo nele me irritava.
Não queria estar ali, muito menos com essa desagradável companhia. E tateando por onde tinha que passar, prosseguir, essa outra pessoa me seguia contracenando nesse espetáculo nonsense.

Pensei, tenho que ter um pouco de paciência caso queira ir para um outro lugar. 

Sair daqui. Não adianta correr senão posso cair e me machucar. E, com minha bagagem pesada, me arrastava, então outro pensamento, o pensamento de jogar o que me pesava... E lá estava o meu assombração particular acompanhando-me, eu tentando ignorá-lo o tempo todo.

Já um pouco mais leve, a caminhada pouco mais facilitada me animou. Mas, ainda tudo muito difícil.

Em dado momento, meu sentido de direção ficou mais apurado e percebi que eu seguia para dentro de algo. Descia, aos poucos, com receio de não conseguir.

O inesperado, esses incidentes que nos tiram os pés do chão, aconteceu. Aquela minha “sombra” seguia em mesma direção que eu, entendi assim que ele estava com a mesma vontade de sair dali, chegar em algum outro lugar, estávamos em situação igual, quando deparei-me com uma falha geológica: de um lado um plano e de outro a continuidade igual sendo separados por uma fenda. E agora?, pensei. 

Não vai dar mais pra seguir. Depois de tanto andar, de tanto escorregar pelas dificuldades, me ralar todo, chegar aqui e me dar por vencido, ficar nesse lugar horrível? A minha “sombra” parada, analisava tanto quanto eu como fazer para atravessar. Quando nos olhamos e, aparentemente, a mesma ideia nos conectou pela ponte entre pensamentos: quem sabe um e outro, nesse momento, só nesse momento, possamos ser úteis a um propósito único e nos ajudarmos vencer essa dificuldade, esse obstáculo? Com muito cuidado fui colocando meus pés nas saliências possíveis enquanto a minha “sombra” me sustentava segurando uma de minhas mãos e pulso. Quando consegui colocar finalmente os pés em plano firme, dei meus ombros como apoio para que esse viajante da noite sem respostas também conseguisse descer em segurança.

Algo muito estranho aconteceu nessa hora.

Fiquei com menos irritação, me senti um pouco melhor, com menos medo, menos receio e até agradeci intimamente pela sorte de ser acompanhado por aquela “sombra”. Meus passos seguiram mais aliviados. Depois de muito andar, pensando e me perguntando como pude eu chegar a me simpatizar com aquela “sombra” que antes abominava a sua presença?  E qual o propósito disso tudo?

Afinal, onde eu estava? Para onde eu estava indo?

Deparei-me com um portal extraordinariamente jorrando luz. Uma voz professoral começou a responder minhas mil e uma perguntas. Vibrou-me que eu estava o tempo todo caminhando pelo meu espírito, indo ao sentido do núcleo, da menor partícula, a centelha, a centelha divina onde tudo começou para mim. Meu princípio. O núcleo concentrado de energia divina, a energia de Deus. Eu precisava conhecer-me, saber quem sou, e que eu não era fruto do pecado original, mas da virtude do amor original. O meu sofrimento não era congênito e hereditário, caso contrário o Grande Princípio Divino não seria nem divino nem justo. Eu era – sou e serei – a conseqüência dos meus pensamentos, sentimentos e atos. E ao passo que fui descartando tanto quanto possível o peso do egoísmo, vaidade, orgulho e experimentando o néctar da paciência e do bem-querer do meu próximo, tudo foi ficando mais fácil e claro, o entendimento mais amplo. O coração mais leve – finalizou aquela voz em vibração íntima.

Nesse instante dei por mim que a minha “sombra”, aquele que tanto repudiava estava ali o tempo todo me ajudando a me conhecer, a me fortalecer e acompanhando-me na jornada do encontro do meu íntimo. Ele era meu professor me ajudando a exercitar o que havia de ser fortalecido em mim, o que ainda necessitava ser melhor trabalhado, aperfeiçoado e entendido.

Toda sombra é enviada pela luz do sol para nos acompanhar para um propósito bendito, para nos fazer companhia, não seguirmos em solidão.

Encontrei em minha essência a centelha divina, meu elo que me une eternamente ao Criador. E à minha “sombra”, meu “semelhante”, minha eterna gratidão, não conseguiria eu sozinho chegar até aqui e a muito mais que me espera.

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Et in Terra Pax (Gloria RV 589) - Antonio Vivaldi
https://www.youtube.com/watch?v=WX83BSR0mug&


N. A.: desdobramento em 24 setembro 2011.

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