quinta-feira, 29 de setembro de 2011

TEMPOS DE RECONCILIAÇÃO


(desdobramento em 29-09-2011)


TEMPOS DE RECONCILIAÇÃO
  “autor”:   Nilton Bustamante

A noite se faz em todo lugar.

Quem sabe o sol um dia?

Estou eu com roupas dos tempos antigos, Idade Medieval.

Caminho prestando atenção, percorro o olhar por todo o cenário desconhecido por mim (pelo menos não me lembro de nada igual).

No meu íntimo sei que há perigo constante. A pior das guerras é quando não se sabe, quando não se vê, quando não se descobre o “inimigo”. Algo chama muito a minha atenção: todo pássaro do lugar possui sua sombra espessa, negrume em forma de morcego. Matéria e sombra não se harmonizam. Percebo as intenções nada benévolas desse lugar.

Subitamente começo a levitar para ver melhor a região, o que vai além das árvores, além dos muros, além dos telhados. Volto a colocar meus pés no chão. Várias pessoas cercam-me com seus olhares curiosos. Elas, da mesma maneira dos pássaros possuem sombras em formas de morcegos. Chegam aos poucos ao meu encontro. Cada vez mais e mais. Percebo as intenções sorrateiras, tomo de um cavalo e uma grande espada é levantada pelo meu punho sem sentir o seu peso. Uma intuição, uma vontade, um chamado, me faz seguir destemido para o interior daquelas terras à medida que faço continuamente a oração à Nossa Mãe Maria Santíssima: “Ave Maria!”, e os céus me tomam por inteiro neste momento. À medida que oro percebo que as palavras são bem diferentes daquelas habituais da prece que conheço nos dias de hoje. E as contínuas preces saem de minha alma com devoção e amor.

Sinto-me mais ainda fortalecido. Cavalgo de espada em punho ao alto que simboliza para mim a “proteção”, minha proteção para me encorajar e de certa forma inibir a turba que vai abrindo caminho. Lanço as palavras-fluídos sobre as frontes desses seres ao redor. E o que era ira, acalma-se. O que era perigo, apazigua-se.

Chego a um lugar de mulheres pelo caminho. Todas são mães. E com as preces e exclamando “Ave, Maria” há conversões instantâneas, não de mudança de preferência religiosa, porém muito mais significativo, há mudanças de sentimentos em direção do sublime, em direção do amor, e uma a uma segue em direção de Nossa Mãe. Porém, uma senhora não consegue ir, não consegue atender ao chamado. Procuro entender o porquê, num piscar de olhos, sou levado à filha daquela mulher. Desponta uma jovem chorosa saindo de sua morada, com pequena trouxa às mãos. Exclamo para mim mesmo: “Que moça mais linda!”. Um dos semblantes mais lindos que já havia visto. Seus olhos de um azul inexplicável, cabelos longos com aspectos sedosos e túnica suave. Uma voz vibra em meu íntimo, soube então que aquela mãe recusara o papel materno por causa da filha ter a opção sexual contrária da maioria, comungava o lesbianismo. Aproximo da jovem e pergunto-lhe, mentalmente: “O que está fazendo, para aonde vai?”. Responde-me ela, da mesma forma: “estou saindo, indo embora”. Retruco: “Para qualquer lugar que escolher, como poderá sair de você mesma?”. A moça para, permanece inerte, quando a mãe a tudo assiste. Em direção da senhora vibro: “Minha irmã, como poderá seguir em direção da “Mãe de todas as mães” se em seu coração não trazer sua própria filha que ora está deserdada de seu amor?” Um silêncio, profundo silêncio estabelece-se entre todos, como se estivéssemos cada qual em seus próprios confessionários... De súbito, a senhora estende sua mão à filha e uma luz faz-se estrada e elas seguem por essa nova ponte bendita de paz, tolerância e antes de tudo de amor.


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Autor da imagem:  Kukowski 
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