domingo, 3 de junho de 2012


DESPERTAR
 Autor: Nilton Bustamante

Nesta manhã eu poderia ao abrir meus olhos ter acordado sem o peso de meu corpo. Eu poderia ter despertado da noite do sono e me sentir diferente, em outro lugar, em outra condição... Se a vida piscasse seus olhos, que alguns chamam de “morte”, e nesse ínfimo instante do intervalo, “passagem”, e procurasse eu me restabelecer e firmar minha visão para me situar melhor, talvez ficaria para trás mil abraços que não me esforcei ou não quis dar, e um outro tanto de dar de mãos com a força da tolerância que não apertei ou não quis dar; talvez eu verificasse que não cuidei do meu corpo físico como deveria, que negligenciei com a saúde da minha mente, e meu campo mental não houvesse nem flores, nem coloridas cores...

Talvez verificasse quantas trincheiras de dogmas e desculpas me escondi, quantas armadilhas distribui para outros caírem para os meus inconfessáveis propósitos. Talvez procurasse meu pai, minha mãe, minha mulher, meus filhos e os amasse de verdade, talvez procurasse meus conhecidos amigos e vizinhos e lidasse com todos com alguma dignidade e respeito, talvez me recolhesse e orasse por todos quanto ficaram nas filas dos inimigos e contrários e um a um do meu peito vibrasse algo de bom para novos caminhos, novas pontes, e tudo entre nós se facilitasse...

Talvez eu tiraria a mira do meu umbigo e apontasse minha fronte para o alto, ou levasse minha visão para dentro de uma flor e conseguisse ir para o além do além dos céus e procurasse com simplicidade o amor de Deus, sem barganhar, sem pedir, mas, pensando bem, para não perder o costume, provavelmente pediria sim mais um desejo, esse agora de que o Amor se instalasse de vez no peito da humanidade e um só coração pulsasse em paz no ritmo da bendita vida e nos ensinasse que não é preciso perder a individualidade para se expressar o plural da felicidade!

Eu poderia ao abrir meus olhos ter acordado sem o peso de minha consciência. Eu poderia ter despertado da noite do véu do esquecimento que meu espírito passa planetário, e ter percebido que não desperdicei meu tempo das oportunidades, que por companhia ficasse apenas a leve saudade e a compreensão que tudo nessa vida terrena é mesmo piscar de olhos, menos a Eternidade!

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