quinta-feira, 29 de julho de 2010

SEU OLHAR


SEU OLHAR
autor: Nilton Bustamante

Seu olhar não é apenas a maneira dos olhos observarem o perto e o longe... Seu olhar tem algo que vem, que vem, que vem talvez da força das cachoeiras saltando coragem no frio dos abismos. Tem algo que vem da braçada enfrentando a correnteza que insiste um destino só; algo da flecha no peito que chora a dor do gozo do amor; do mel às vezes doce, às vezes amargo da flor colhida pela manhã; do fogo que se espalha, que foge ao controle comendo a mata do corpo até o último pelo, até o último apelo, do grito de cada boca ancestral, explosão em uma só voz de todos os gozos que vinga a morte dos desejos e traz a vida que voa novidade simples, na fila da imaginação, da estação, farol fechado, idas e vindas, quando se espera encontrar suave esperança, novo porvir, tudo que se quer alcançar... O amor, enfim!

Seu olhar deixa nua qualquer mentira crua, ingênua, infantil, de tal maneira que a vergonha nem adianta trazer o manto e querer cobrir tudo − será em vão −, nem quando o interminável perdão clama a fé, pede mais uma vez por sua vez...

Seu olhar, seu olhar me silencia, me faz lágrimas emocionadas que ameaçam cair pelos cantos para não chamarem atenção, porque não quero, não quero, não quero que você saiba que me tornei liberto da prisão a qual eu tinha o tempo todo a chave em minhas mãos − todo ex-prisioneiro tem vergonha de sua vida pregressa − e, ah, esse desejo, essa certeza me acompanham desde então. Como pode ser esse mistério, esse vendaval dentro de mim, eu sentado na beira da lua minguante, vendo do alto a sombra de tantos e tantos corações apaixonados? – cadê o seu? − Eu não consigo mais ficar sem, não consigo, não consigo, não consigo ficar sem me desmanchar dentro do seu olhar... E me largar na força das cachoeiras, saltando mais que coragem, essa baita saudade, no frio dos abismos, nos caminhos sem endereços. A minha vontade é tanta, é tamanha de te abraçar, de te amar, que essa flecha atravessada no peito é apenas para me lembrar que eu amo tanto, tanto, tanto... Você!

O amor é algo tão sublime, algo tão extraordinário, tão surpreendente, tão encorajador, que se deveria fazer todos os dias homenagens, esperar a quem se ama no portão só pra dizer que se ama, pra se dar boas-vindas, pra se abraçar, dizer que a espera foi torturante, e que agora – o encontro – é sol, é noite, é da vida, presente pra ser aberto, tirar os laços, rasgar embrulhos e papéis, desfazer nós, tirar os sapatos, e viver e curtir sempre, sempre, sempre nós dois.

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Los Hermanos - último romance
https://www.youtube.com/watch?v=hvbuYbwrpxc


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