ALGO PRA NÃO ESQUECER

ALGO PRA NÃO ESQUECER
        Nilton Bustamante

A calma arrumando o dia, deixando algo mais delicado

Outra forma de sentir a grama verde nos pés macios   
O verde envergado pelo ar que se arrisca em brisa, leve vento

Mulher descalças encara meus pés tão protegidos, por mim tão esquecidos
Ri, não se importa, tira o que se pode tirar e entra nas águas macias,
O corpo como se pode ficar

Maço de flores, muitas flores pelos cantos, por todo lado,
Cores que se possa ter, que se possa oferecer
O fundo do mar piscina, piscina mar,
Recebe nossos pés

Apenas o riso - ninguém avisou -, água fria pode nos fazer acordar,

O que não queremos, por agora não, ainda não
Olhar no olhar, outra vez mar, outra vez sem o ar
Sabe-se lá o que mais, o que pensar

Uma flor na palma das mãos levanta vôo, segue
Na direção que o beijo soprou
Um encontro, encontro de amor

Um cigarro na boca que não é minha
A fumaça é até bonita, independência ou morte, mas, agora, não importa
É apenas um cigarro, algo querendo roçar os lábios, à boca

Na máquina velha, os mesmos tipos, as mesmas letras,
Agora novos poemas, novas poesias
Algo que não sentia, não escrevia, não, não...

Um bilhete, um recado
Algo pra não esquecer

Luzes poucas, já é noite, e a noite não espera, reclama
Olhar no olhar, outra vez mar, outra vez sem o ar
Sabe-se lá o que mais, o que pensar

Encostando o que não é mais corpo,
Sonho sobre sonho
Um brinco caído, lembra o chão, dura realidade
Que não se pode ignorar
Os lábios pedindo, o silêncio, o resvalar

A maior das entregas, o beijo...
Beijar é consentimento, portal de todos os abraços,
De todas as vontades

Pelo caminho os rastros, saudades...

Um bilhete, um recado
Algo pra não esquecer
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