quinta-feira, 28 de julho de 2011

COMETER CRIMES, PEDIDO DE SOCORRO

                                   "Zoinho, menino de rua, enfrenta os policiais!"


COMETER CRIMES, PEDIDO DE SOCORRO
autor: Nilton Bustamante

Lendo Paul Ferrini, leva-se a concluir que o ser que é humano ao cometer um crime, é pedido inconsciente de socorro.

Ao tornar-se criminoso, em ato de guerra ao mundo, fazendo uso de todas as formas de agressão, remonta de seu interior o mal que julga ser vítima, traz à tona, traz ao mundo exterior a reprodução – a seu modo – de todo o seu sofrimento para que a sua figura de “vítima” enfim esteja diante dos olhos do mundo.

Quando a Justiça dos homens lhe condena os crimes, ele, o criminoso, intimamente, acredita (sem o saber claramente) que está-se condenando aquele mal, aquele seu sofrimento que é igual, estão lhe fazendo justiça também ao que lhe pesa os recônditos da alma que ninguém via, ninguém sabia, ou não queria saber.

A dor lançada é a dor antes recebida.

Por associação, alegra-se ao imaginar que há o “reconhecimento” da sociedade de que ele realmente é vítima, é sofredor. No fundo, no íntimo, o ser que se é humano ao cometer um crime, deseja que o mundo peça-lhe perdão. Quem faz o mal, já se coloca em condição de que sempre o “outro” se redima; chama para si atenção, consideração, carinho, por sorte, amor. Mas, quantos não se satisfazem nesse vício, no sadismo de querer que o “outro” também sinta, saiba, o mesmo, a mesma dor, o mesmo amargor, o mesmo sofrer?

É bom lembrar que “criminoso” somos nós, os homens, de forma mais ampla, que no dia-a-dia falseiam, mentem, agridem, traem, viciam e viciam-se, semeiam intrigas, rancores, matam, ferem, roubam os bens e sonhos...

Sem procurarmos os “culpados”, sem querer saber se o criminoso é o resultado de si mesmo, o seu próprio carrasco, algoz de autoflagelação, ou se é apenas vítimas que penam nas mãos dos intolerantes de almas rudes que instigam os piores sentimentos, ou são somente pessoas com índoles más em ação, ou ainda de tudo um pouco... O que vale é compreender que o ser que é humano, também é deus, e que em seu destino, leva-se o tempo que levar, poderá – e deverá– Amar divinamente.

E Paul Ferrini nos leva a mais: “Você é juiz. Você é o júri. Você é o réu.” (Eis, a consciência.).

“Você vê aquilo que escolhe ver, pois toda percepção é uma escolha. E quando você parar de impor seus significados àquilo que se vê, sua visão espiritual se abrirá livre de julgamentos.”

“As fofocas, os ataques verbais mostram os próprios sentimentos de vergonha e de rejeição emocional.”

“Projetamos nossas culpas nos outros, por isso odiamos.”

Feliz daquele que não precisa perdoar, nada lhe provoca, nem lhe agride, pois compreende a tudo e a todos e a si mesmo.

A cada ato a responsabilidade e suas consequências.

A Lei de Causa e Efeito é princípio imutável universal. É uma forma educadora. Mas, lembramos que todo e qualquer sistema que somente pune, não reeduca. “Somente aquele que está sofrendo agride os outros (mesmo de maneira sutil).” Já que habitamos num Educandário a céu aberto, um hospital planetário com mentes viciadas e organismos doentios, é o dever de todo aquele que busca oferecer o melhor de si, ainda que timidamente, substanciar o equilíbrio, a harmonia, a cura de si e a cura das doenças sociais e espirituais que afligem a Humanidade, conceder sem restrição ao mundo (ao micro e ao macro) o mais puro e melhor sorriso que se possa sorrir, o melhor gesto de cordialidade que se possa conceber, a melhor vibração mental de paz, gentileza, tolerância e amor em prece sincera de esperança e apaziguamento, ainda que em doses homeopáticas, ajudará, assim, que nasça o brilho de um novo amanhecer nos corações que antes eram somente noites traiçoeiras de vinganças, de desesperos e tempestades de incertezas de sentimentos próximos aos instintos.

O estrago do homem é mais, é maior, que a do menino, mas educa-se a criança malcriada, mal conduzida, mal servida de amor e estimula-se ao bom caminho nas escolas da vida com ênfase nas qualidades morais. Ofereça-se a preparação educacional e melhores condições ao exercício do trabalho que dignifica e revigora, surgirá assim o adulto repleto, completo, para servir com amor, religiosidade, espiritualidade, interligadas a tudo que pulsa vida, sem mais precisar chamar atenção para si, já vencido o próprio egotismo.

Lembremos o que nos ensina o grande poeta português, Guerra Junqueiro: “Educai a criança”...

EDUCAI A CRIANÇA
(Guerra Junqueiro)

Um coração de criança
É uma urna de amor, de inocência e esperança.
É um jasmim em botão de imácula pureza
Perfumando o jardim do Amor e da Beleza.
É uma flor aromal.Uma Ave pequenina,
Que nos recorda a luz puríssima, inicial
Da morada divina!

Mas a alma infantil, como leiva de terra.
Guarda, cria e produz aquilo que ela encerra!
Coração original, terra pura e inocente
Que desenvolve em si a boa e má semente.
Se lhe deres o Amor que salva e regenera,
A esperança no Céu que se resigna e espera,
Os exemplos do Bem que esclarece e ilumina,
Os archotes da Fé que sonha e raciocina.


A lição do Evangelho em atos de bondade,
Os perfumes liriais da flor da Caridade.
A verdade, a Luz e o Amor - a trilogia
Que compõe no Universo os hinos da Harmonia
Vê-la-eis produzir dessas espigas d'ouro
De um dos trigais de abril imensamente louro.

Se lhe derdes, porém, as sementes do vício
Tereis o pantanal, a chaga, o meretrício,
A ferida social que sangra, que supura,
Os venenos letais da Dor e da Amargura!

Em vez do sol que aclara uma vida sublime,
Vereis a lava hostil que favorece o crime.

Educai, educai o coração da infância,
Roubai-o da torpeza do mal e da ignorância.
Plantai no coração dos pobres pequeninos
As árvores do Bem cheias de dons divinos...

Elevai-os na Terra aos píncaros da Luz,
Com os exemplos de Amor da vida de Jesus!

O coração da criança
É um sacrário de amor, de inocência e esperança.

Ponde nesse sacrário a hóstia que transude
A chama da Verdade e a chama da Virtude
E tereis praticado o ensino do Senhor
Que fará deste mundo um roseiral de Amor!

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Guerra Junqueiro


(Poema psicografado pelo médium Chico Xavier em 14 de julho de 1933, em Pedro Leopoldo. Dedicado a Júlio Leitão.)



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                       Guerra Junqueiro                                                           

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