segunda-feira, 11 de julho de 2011

BRISAS QUE SOPRAM


BRISAS QUE SOPRAM
   Nilton Bustamante

 
O avião está no ar, está no ar o avião. A bussola marca previamente o destino, onde se quer chegar.
Todos os cuidados vistos e revistos, tudo o que for preciso para a boa condução da aeronave, do vôo chegar bem no lugar.
E o vôo segue conforme os planos, nada que perturbe, nada que chame a atenção. Tudo segue igual a tantos outros vôos.
Pequenas brisas...

 
A vida está no ar, está no ar a vida. A decisão marca previamente o destino, onde se quer chegar.
Todos os cuidados vistos e revistos, tudo o que for preciso para a boa condução da relação, da vida chegar bem no lugar. E a vida segue conforme os planos, nada que perturbe, nada que chame a atenção. Tudo segue igual a tantas outras vidas.
Pequenas brisas...

 
Pequenas brisas sopram em direção da lateral do avião. Para quem olha, a bussola continua na mesma marcação. Nada mudou, onde se quer chegar. Mas o imperceptível também atua. Não é somente tempestade que deve receber atenção, preocupação, mas as pequenas brisas, as pequenas mudanças, também. Ao longo da viagem, pouco a pouco, pequenas brisas surgem e arrastam pra lateral o avião, pouca coisa, nada que cause pânico, nada que cause maiores turbulências, nada que chame a atenção e a rota vai sendo outra, vai abrindo distância, a distância entre paralelas rotas (uma é a rota que se traçou nos planos de vôo, outra é a rota real sujeita a muitas ações, até as mais sutis), vai aumentando, aumentando, aumentando, pouco a pouco, ainda que na bussola continue marcando a mesma direção... E quanto mais se demora para se aperceber e tomar a atitude das correções mais o desastre se vislumbra, se agiganta, com a possibilidade do combustível não ser suficiente e precisará ter a sorte de haver outra pista, outro campo, qualquer lugar que se dê pra receber a aeronave desorientada. É uma experiência sempre tensa e com possibilidade de não acabar bem. Faltou experiência, preocupação, atenção de quem pilotava, de quem destinava o vôo para o lugar desejado. Não corrigiu o que era para se corrigir, não acertou o prumo, por negligência ou comodidade só se fixou na bussola que marca a direção, mas só direção não é suficiente. O vento, pequena brisa que for, se não der a atenção devida pode colocar tudo a perder, empurrar pro lado o destino que se desejou.

 
A vida segue viagem e sempre vem as pequenas brisas, os pequenos empurrões que podem deslocar a rota, mesmo para quem olha e vê que tudo está na mesma direção. Mas, estar na mesma direção não é suficiente. É preciso muito mais, mais atenção, mais cuidados, mais gentilezas e certezas no trato com o vôo que se está levando, se não se desviou mínima coisa que for, pois ao longo do tempo, ao longo da viagem pode se ir muito, muito, muito longe do que se quis, do que se traçou, do que se desejou, e poderá não haver ânimo, coragem, nem competência e forças para colocar a própria vida e a vida de quem confiou ao mesmo vôo a salvo.

Não é somente tempestade que deve receber atenção, preocupação, mas as pequenas brisas, as pequenas mudanças, também.

O vento, pequena brisa que for, se não der a atenção devida pode colocar tudo a perder, empurrar pro lado o destino que se desejou.

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