domingo, 22 de janeiro de 2012



MINHA PRIMEIRA VEZ NA CASA ESPÍRITA
Autor:   Nilton Bustamante


Eu chorava por tudo, por nada. Era uma tristeza tanta e tamanha, que meu coração não conseguia secar. Avalanches de lágrimas despencavam sem avisar.
A emoção era exacerbada. O primeiro amor desfeito: incompreensão dos familiares parte a parte, dividiam, apartavam, decidiram pelo casal o que era melhor. A vida ficou com uma só cor, quase um cinza... E minhas idas e vindas, batendo em várias portas procurando uma estrada maior, espiritual, que me chamasse atenção, que me confortasse, só me acumulavam nesses momentos mais perguntas que respostas, mais indignação.


“Pelo amor, ou pela dor...” Um amigo, de recente amizade, vendo minha desestruturação psicológica, aflitiva, convidou-me para ir a uma reunião, onde as pessoas oravam, e sua mãe era ativa nesses encontros. E que falavam de Deus, Jesus... Senti a sinceridade do convite, aceitei. No dia marcado, uma sexta-feira – começava às 20h -, eu iria ao tal encontro, e para facilitar as coisas pra mim depois dormiria em sua residência, já que nessa época eu não possuía automóvel. Os pais desse meu amigo, muito agradáveis, convidativos me deixaram à vontade, com direito a lanche e suco. Fizeram de tudo para eu me sentir em “casa”.

Chegou o momento, nos dirigimos ao bairro de Itaquera, na cidade de São Paulo (essa casa espírita, inicialmente era no bairro do Belenzinho, há uns 40 anos). Era uma casa simples, construção ainda por terminar, iguais a tantas outras da vizinhança, de pessoas que trabalham semana inteira, e aos fins de semana sobem tijolo por tijolo, suor por suor, conseguir enfim a segurança de uma casa, a construção de um lar. Ao subir as escadas, um homem esperava ao alto, ao lado da porta que dava acesso à sua residência. Ele era forte, rosto marcante, mesmo sorrindo as boas-vindas transbordava seriedade. Foi-me apresentado como “senhor Rubens de Oliveira”. A sua senhora, uma mulher com traços de estrangeira, latino americana, ao lado observando a tudo em silêncio. Nesse instante, estanquei que nem um burro que nada o faz sair do lugar. Mil cenas vieram à minha mente: lembranças dos lugares que haviam me falado que era muito “bom”, etc. e tal, sendo que da última experiência, a enorme decepção ao entrar em uma casa, na sala com quadro de Jesus na parede, e as pessoas caídas ao chão, engolindo velas às dezenas, água-ardente, e sabe-se lá como seria a (in)digestão? Dentro de minha inocência, pensava eu “como podem aqui ajudar alguém se esses coitados se enrolam, se arrastam pelo chão fazendo uso de um cardápio desses? Estão precisando mais de ajuda do que eu...”, ao mesmo tempo em que eu olhava a todo momento a figura de Jesus no quadro. Minha cabeça ficou mais ainda em parafuso. Saí pior de quando lá cheguei, pensando se o Bem existia mesmo. E isso tudo explodindo em minha mente, eu ali estancado diante do homem que me convidava a entrar, que eu não precisava em nada recear. Mas, ao mesmo tempo eu perguntava pra mim mesmo: “e se aqui for igual àquele último lugar, pessoas se arrastando feito bichos, tambores e tudo mais? Eu não vou aguentar, não vou, tô no limite de mim mesmo.”

Por fim, aceitei a cortesia do convite, entrei. O senhor Rubens deixou-me à vontade. O ambiente era simples. Uma mesa retangular ao centro. Sobre a mesa uma jarra de água. As pessoas, praticamente  eram senhoras e senhores, iam tomando os seus lugares. Homens  e mulheres de lado opostos, na cabeceira o senhor Rubens, com sua camisa social, simples, branquíssima e abotoada até no colarinho e punhos. Fico com os olhos da carne e da alma sobressaltados. Não queria entrar mais em nenhuma roubada. Se fosse o caso eu iria sair de lá escadas abaixo, sem ninguém me impedir... Mas, logo percebi que algo ali era diferente de tudo o quanto já havia visto. Um clima de seriedade, de paz, de amor era quase palpável. O senhor Rubens, com nítida moral elevada, com sua voz firme, de trovão amigo, começa a fazer a prece inicial. Meu coração vibra algo de outra dimensão. Preces dirigidas a Deus – Princípio de todas as coisas, do Amor, da Luz e da Vida -, a Jesus Cristo - Mestre dos mestres, nosso Senhor -, Mãe Maria Santíssima – exemplo de abnegação, maternidade e amor -, e a outros seres da Espiritualidade Bendita eram verdadeiros cânticos sublimes, abriam caminhos para instruções, mensagens e orientações para todos ali, reunidos, encarnados e desencarnados. Línguas outras, línguas mortas, o hebraico e aramaico antigos discorriam quando necessários, para quem tinha ouvidos para ouvir e saber...

O conteúdo das mensagens, a “simplicidade” das ações, fizeram-me exclamar, finalmente, dentro de mim: “DEUS EXISTE!, O BEM EXISTE!”

As pessoas, desde quando adentraram ao recinto, eram silenciosas, atentas e se comportavam seriamente, determinadas a contribuir para a Egrégora radiante de Amor para expandir por tudo, por todos, por todo o planeta, por toda a humanidade, por onde houvesse necessidade e permissão do Pai. Não olvidavam que “Silêncio é Prece”.

No decorrer dos trabalhos daquela sessão, espíritos desencarnados que estavam em situação de sofrimento e desespero, eram ali trazidos com a permissão de Deus para cada qual passar pelo “filtro” que é o médium, dessa forma, até onde era permitido, desfazendo os miasmas espirituais, desmaterializando fluídos horrendos, pesados, que são consequências dos atos cometidos contra as Leis da Evolução e do Amor. E esses seres sofredores, irmãos nossos, sendo auxiliados pouco a pouco, despertavam de seus transes psíquicos, traumáticos, para outras atmosferas de serenidade; e tanto quanto possível, eram convidados a seguirem outro caminho, o caminho do Bem que os levaria aos campos de Deus para, em outra etapa, restituírem as suas forças e a harmonia do equilíbrio espiritual sempre com o auxílio de seres mais evoluídos, irmãos destacados pelo Altíssimo para o acompanhamento instrutivo de outras lições salutares à apreender...
Nenhum daqueles nossos irmãos “recolhidos” ficava sem ter auxílio e ENCAMINHAMENTO, de forma clara e absoluta. Todos que ali chegavam eram esclarecidos do quadro atual que se encontravam de forma individual e coletiva. E quando um nosso irmão desencarnado era “doutrinado”, aquela conduta servia de exemplo para incontáveis outros que estavam em situação parecida e, ao final, a elevação era de quase a turba toda. E aqueles mais “endurecidos” que se negavam seguir para melhor, e que preferiam ficar presos no mesmo campo mental de rancores, angústias, sentimentos de vingança e sofrimentos, eram destacados para outros lugares, próprios para recebê-los. O tempo (que existe somente neste planeta Terra) toma conta de tudo e de todos. O AMOR DE DEUS É SEMPRE, E EM TODAS AS CONDIÇÕES, PARA TODOS!... A cada irmão “recolhido” lhe era mostrado o seu “Livro da Vida”, onde todas as ações do ser são registradas. Vêm diante do espírito assistido os “registros” de suas ações, e o convite do chamado à responsabilidade que todos devem ter de reparar o que deve ser reparado, tudo o que foi agressão a si mesmo ou à outrem. Tudo o que pesa à própria consciência. Mas, para tanto, deverá se preparar. Haverá sempre instrutores e irmãos amigos iluminados, repletos de amor e boa-vontade, para esses acompanhamentos. E, depois, do “Livro da Vida” amplo, o espírito feliz com suas recentes vitórias de superação, será levado aos pés de Deus para a permissão de uma nova “missão”, uma nova jornada, uma nova “existência” dentro da pluralidade das vidas, seguindo o curso da Eternidade. Todos estamos nesses processos evolutivos para melhor AMAR A DEUS, e para melhor SERVIR A DEUS!, por fim amar e zelar a tudo e a todos que sejam de DEUS.
Todos os filhos de Deus vieram à Luz da Vida para uma finalidade Maior.

Obviamente, nesse primeiro dia, nessa primeira vez em uma casa espírita de orientação kardequiana, não havia percebido, nem entendido, os pormenores dos quais descrevi, mas, minha alma havia flutuado de tanta felicidade. Havia conhecido as vibrações dos trabalhos frutíferos na Seara de Jesus Cristo, governador do planeta Terra.


O DESDOBRAMENTO
Ao retornar para a residência do meu amigo, naquela mesma noite, ao adormecer, em desdobramento vi-me em pé diante de uma cadeira vazia. E por detrás dessa cadeira, uma fila tipo “indiana”, extremamente organizada, que de tão enorme, de tão cumprida, não conseguia ver o seu final. E um a um sentou-se nessa cadeira enquanto eu “inspirado” passava a “doutrinar”, esclarecer a situação individual; fazia o bom convite para o recolhimento para outros lugares, melhores lugares, melhores oportunidades de comportamento para aqueles irmãos desencarnados, que me ouviam em muitas línguas, que eu nunca poderia sequer imaginar que poderia falar...

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