sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DORMIR NÃO É MORRER, MORRER NÃO É EXTINGUIR-SE


DORMIR NÃO É MORRER, MORRER NÃO É EXTINGUIR-SE
Nilton Bustamante

Mais que penumbra, era algo pesado. Algo que machucava a vista da minha alma. O negrume não era ação do dia ou da noite, era a moral daqueles do lugar que estava se extinguindo, triste.

Centenas de corpos faziam sexo degradante que envergonhariam a classe dos animais. As emanações vibratórias viravam o estômago.

A estrada era longa, amontoados de corpos se devoravam. A energia era densa, ruim... Percebi que eram irmãos meus dominados por vícios horrendos, seculares.

Há de se ressaltar que o sexo é esplendor. É expressão de vida. É atração, comunhão de sentimentos que atritam a chama dos desejos, é leveza. O sexo, quando limpo, é lindo, é Natureza, divino. Almas encarnadas usam seus corpos, suas extensões e em frenéticos ou delicados gestos se aproximam, se experimentam, se conhecem, se atraem. Mais que para as funções de perpetuar a raça humana, é exercício de amor. Mas, tudo o que o homem deturpa torna-se medonho, torna-se agressivo, constrangedor, perda sobre perda.

Naqueles ares de chumbo, meu olhar mirava por onde eu poderia passar incólume de tantas vibrações terríveis. Quando uma intuição falou dentro de mim, olhei ao alto e comecei a orar. E na primeira emanação, no primeiro balbuciar mental da prece bendita toda aquelas imagens grotescas desmancharam-se como se desmancham uma fumaça diante da ventania ordeira, ou como se o aguaçal em lodo represado é rompido por uma força maior, assim feito uma represa com suas comportas abertas levassem tudo... O fluido do espírito na matéria sendo usado para desmaterializar as formas pensamentos que extrapolavam o tempo da espera, o tempo das oportunidades. A providência divina, na visão superior, sabe de seus planos, de suas ações benditas, que, no fundo, é sempre a favor de todos, todos sem exceção alguma. Mesmo quando somos levados pelas correntezas fluídicas, espirituais, são para despertar-nos do transe da erraticidade que podemos mal acostumados nos encontrar. E se eu naquele instante, naquela circunstância, estava sendo usado pela Espiritualidade, não foi por mérito meu, longe, mas muito longe disso, é que nossos Irmãos são mesmo pacientes e insistem a nos conceder todas as oportunidades de sermos úteis nas transformações e reformas nos campos de Deus.

Continuei a caminhada, alguns obstáculos. Sabia que tinha que seguir avante. Talvez a mesma força  das tartarugas ao romperem as cascas impeditivas de seus ovos que, no primeiro momento parecem cárceres, mas, são proteção e guarida; o invisível as impulsionam mar adentro... Quando eu precisava me adiantar, avançar para ultrapassar meus mares, meus oceanos, cujas distâncias eram imponderáveis, intuíram-me para olhar mais ao alto e vi um par de cabos elétricos, desses dos trólebus. Foi somente pensar e o meu pensamento me conectou aos fios elétricos e disparei em velocidade vertiginosa para um destino que não sabia, nem imaginava. Apenas me entreguei. Confiei, pois sabia que estava em boa companhia. Ao final, ao chegar à minha parada, deparei-me com um menino que tinha um carrinho, desses que se oferecem algo aos pedestres. Meu coração chamou-me, algo iria acontecer de muito significativo para mim, quando, paradoxo, começou uma tremenda e suave chuva de papéis, como se fosse uma festa. Ficou nítido para mim, que eram papéis carregando ‘mensagens’. Vinham de outras esferas. O menino esticou sua pequena mão, pegou um desses papéis, depois outro, e entregou-me. Eram duas cartas escritas. Assim que essas mensagens tocaram minhas mãos soube imediatamente do remetente, sua imagem apresentou-se dentro de mim. Tratava-se do meu melhor amigo dessa encarnação, Rubens de Oliveira, já desencarnado. Foi ele, que, pacientemente, me encaminhou à codificação kardequiana. Pela escrita, a digital de sua caligrafia. Uma alegria tomou-me por inteiro. Lia atentamente – ao mesmo tempo perguntava se lembrar-me-ia depois de tudo quanto meus olhos passavam -, quando somente um trecho ficou gravado da missiva em minha lembrança, consciente, o suficiente para tirar-me a dúvida, para tirar-me o desnorteio que minha alma amargava. Um nome mostrou-se, um nome que eu deveria desviar-me passos e pensamentos. Guardo, agora, como uma bandeira a perseguir. Algo da minha reforma íntima, algo para desviar-me de prováveis descaminhos de ilusórios sentimentos.

Ao despertar na matéria, no “mundo dos homens”, fiquei muito feliz com aquele desdobramento, por saber, mais uma vez, que sou e somos bem acompanhados, que não somos esquecidos por quem nos ama com o amor maior. Na minha lembrança, realmente ficou parte da mensagem, mas, no íntimo do meu ser, do meu espírito, a íntegra há de nortear-me pelas minhas idas e vindas, eternas.

Cada vez mais, fica-me claro: dormir não é morrer, morrer não é extinguir-se.
...

Bach
http://www.youtube.com/watch?v=stCKjZniMsQ&

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