sábado, 20 de novembro de 2010

ÓPERA

ÓPERA
Nilton Bustamante

Fígaro, Fígaro, Fígarooo!...

Onde meus ouvidos estavam que não ouviram o auge? Fígaro, Fígaro, Figarooo!...
Do camarote meus olhos secos, inertes, feito olhos de espião, fixavam aquela mulher que brilhava como diamantes nas vitrines de Amsterdã. O seu semblante de realeza, com certo ar de inocência em contraponto com o generoso decote a mostrar a ânsia dos seios estufados, me fascinavam.

Será que estou tomado das manifestações do amor, primeira vista?
Não perdi um ato daquela mulher, já quanto à ópera... Cada movimento, pura poesia. Qual será o seu nome? Mas o que importa? O teatro tornou-se tão pequeno, tão vulgar, tão inadequado para aquela beleza... Ah! Se ao menos eu possuísse um castelo em Sevilha iríamos passar longas tardes pelos jardins, a visitar cada flor, a sentir cada perfume e a admirar todos os tons. Quem sabe adormecer em seus seios?... De súbito, fecharam-se as cortinas. O clamor do BRAVO, BRAVO, BRAVO! ecoou de forma estridente. Todos se levantaram e a confusão foi generalizada. Onde está o meu amor? Desci as escadarias desesperado à sua procura e nada... Afinal, seria mesmo um sonho? E então, aos poucos, no meio da multidão, uma silhueta já familiar. O que fazer? Para onde fugir?

Oh! meus santos! Era ela e está vindo em minha direção...

O inevitável, frente a frente.

Disse-lhe, totalmente acuado, quase assustado:
- Eu não possuo um castelo em Sevilha, mas tenho as flores. Eu não tenho nem sequer a coragem de lhe beijar, mas estou febril.

Ela sorriu, sem nada entender, beijou minha face e se foi...

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Ária: Largo al factotum - O Barbeiro de Sevilha
http://www.youtube.com/watch?v=5ZE3_Ne_aAc
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