segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ANTES QUE ME ESQUEÇA


ANTES QUE ME ESQUEÇA
Autor: Nilton Bustamante

Ao fechar meus olhos na noite que havia avançado dentro de mim, adormeci.
Logo meu espírito, em desdobramento, começou a andar por terras desconhecidas pelas minhas lembranças mais afloradas.
A poeira, o solo, as cores, os movimentos, eram totalmente desconhecidas para mim. Era uma nova experimentação: novas gentes e costumes, enfim uma cultura completamente diferente. Pensei que poderia ser a Índia. E era. Andei pelas ruas sem desenhos certos, procurei olhar para dentro das casas, para dentro das pessoas. Cada uma que se apresentava vinha trajada por roupas multicoloridas, tons maravilhosos. Notei uma movimentação em uma das casas, na entrada havia uma pequena escada e no topo um senhor que parecia satisfeito por eu ter escolhido aquele recinto para adentrar. Era uma casa de cultura. Muitos dançavam, e uma música expandia por todos os ‘poros’ dessa construção.
As pessoas, pareciam felizes.

Continuei a minha andança e por guia minha curiosidade.

Uma outra construção muito maior apresentou-se.
Queria conhecer o íntimo das pessoas, o dia-a-dia. Várias mulheres, algumas destacavam-se pela beleza e adornos dourados. Uma dessas pessoas, reconheci uma amiga minha aqui do Brasil: Anali, filha do ‘seu Rubens’, meu orientador no espiritismo kardequiano quando esteve encarnado entre nós.
Fiquei tão admirado. Pensei: o que será que ela está fazendo aqui?
E noutro sobressalto, continuei comigo mesmo: E não é que ela realmente parece uma indiana? Tem todos os traços. O preto dos cabelos, a fisionomia marcante... Como nunca havia percebido?
Nesta grande construção havia muitas moradias, muitas famílias. E fui olhando casa por casa, família por família.

(Confesso, sinceramente, que passou-me, num determinado e curto momento um pensamento de sensualidade, pois havia se apresentado uma mulher muito bonita, exótica. Logo procurei desfazer-me dessas vertigens que assolam o inconsciente coletivo e o consciente nada coletivo de minha alma. Assim que consegui, fiquei feliz. Intimamente sabia que não poderia em hipótese alguma ter interesses ligados à “carne”. Entendi que tinha que corrigir-me moral e espiritualmente; deveria ser assim encarada dessa forma para o meu próprio bem, preparando minha reforma íntima).

Ao chegar na última moradia, última visita, observei que ali era o local moradia de somente um homem. Imediatamente ele me tirou daquele lugar. Percebi que vi o que tinha que ser visto e, em seguida, ele me deixou em outro lugar completamente diferente, mas, paradoxalmente, com muitas coisas em comum, sem eu poder saber bem quais eram as semelhanças.
Eu agora estava na Arábia. No âmago do meu ser eu sabia que ali era a Arábia, sim senhor.
Fiquei maravilhado, pois duas coisas vieram aos meus olhos e mente: a luminosidade e cor. Predominavam. Era algo que representava as areias do deserto nas tardes em que o sol ameaça ir embora. As imagens, a geografia, o pó na mesma cor de areia pálida que inundava todos os lugares, eram espetaculares.

Pensei comigo: tenho que aproveitar e olhar tudo aqui, com muita atenção, pois vir à Arábia é uma experiência maravilhosa, e saberei como realmente é este lugar (eu parecia turista olhando até as cores das pedras do local visitado para, depois, contar aos amigos).
De repente, eu estava em uma nova localidade, uma cidade bem antiga. Dezenas e dezenas, talvez centenas de pessoas que se amontoavam. Algo importante estava acontecendo.

(É bom salientar que sempre nos desdobramentos, nas saídas do meu espírito quando deixo o jugo da matéria, estou acompanhado pela ‘minha proteção’: meu anjo guardião e outros tantos irmãos da Espiritualidade bendita, que, sei, estão comigo em parceria e atenção, usando do meu fluído – meu ectoplasma – para as atividades que são pertinentes a outros planos, outras intenções, sempre para o Bem, com a permissão de Deus).

Voltando aos acontecimentos...

Percebi que havia uma irmã, toda de branco, em silêncio, bem ao meu lado. Acompanhava-me por todos os lados. Estava caracterizada como aqueles “locais”. Nisso, uma balbúrdia mesclava correria e medo. Dava pra sentir no “ar”. Entrou uma caravana de homens a pé. Homens soldados. Causavam calafrios por onde passavam. Imediatamente a multidão formou um longo corredor para o cortejo passar. Avistei, vindo já perto de onde nos encontrávamos, a autoridade principal daquela caravana, um homem todo de preto, com turbante enrolado - somente dava para ver sua face. Um semblante horrível -. E a energia que chegava até a mim, não era nada boa. Pra falar a verdade, preocupava-me em demasia. Ele cada vez mais perto. Eu torcia, rogava para que ele passasse por nós, sem nos perceber, muito menos à minha parceria, irmã companheira. Eu estava preocupado com a segurança dela, imagine.

Um grupo de homens soldados seguiam à frente, perfilavam para a total segurança daquela autoridade ao centro, vindo imediatamente atrás outra turma de homens soldados. O Senhor daquele povo já estava bem próximo, alguns metros de nós, quando, pela primeira vez, essa irmã toda de branco sinalizou-me mentalmente que tínhamos que fazer exatamente igual ao povo e nos curvar aos costumes para que ficássemos incólumes quando o “centro das atenções” passasse por nós. Deveríamos ao máximo não chamar atenção dele. Era extremamente perigoso. Então, ao passar por nós, nos ajoelhamos e tentamos nos esconder nessa postura submissa, entre o povo. Passou o primeiro grupo de homens soldados. Passou também o Senhor das roupas pretas e eu segurando a respiração. Quando o insólito aconteceu: o homem de preto tropeçou em uma saliência e quase caiu. Foi um alvoroço. Seus homens soldados pareciam formigas, com coreografias dos filmes sobre guarda-costas. O homem aprumou-se. Chamou o seu “intendente militar” (podemos assim dizer). Falou-lhe algo ao ouvido e seguiu com o grupo, mas, ao mesmo tempo parte daqueles homens soldados agarraram aquele que estava exatamente à frente do homem de preto, e o fizeram ajoelhar-se. Eles ficaram à nossa frente - da minha irmã de branco e eu.
Vi seus semblantes muito de perto.
Vi como eram os cabelos do homem ajoelhado (era de aspecto pixaim).
No primeiro momento seu semblante era impávido, imponente; logo depois, temor pelos olhos. Estavam junto a ele, dois algozes. Um deles desembainhou uma adaga assustadora. Enquanto o outro segurava firmemente a cabeça do coitado. O primeiro, com a adaga, começou a fazer dois olhos na nuca do recém-condenado. Neste momento, entendi o motivo daquilo tudo. A autoridade – o homem de preto -, culpou, pelo seu tropeço, o homem que guardava a sua frente. Como castigo deveria agora ter dois olhos na nuca para enxergar melhor (seus homens precisam enxergar também pelas costas e zelar pela segurança). Era um cruel aviso aos demais.

Enquanto o sangue jorrava, apareceu um senhor bem velho, cabelos totalmente brancos, condoído, tirou um anel de ouro do próprio dedo, entregou aos carrascos, pedindo que eles parassem com aquela tortura, que não precisavam ‘afundar’ ainda mais os ‘novos olhos’ na nuca do sem sorte.
Nota-se assim, os horrores que poderia habitar o íntimo da grande autoridade local, o homem de preto.

Neste momento voltei para o meu corpo físico, despertei e fiquei pensando nas cenas aterrorizantes, na crueldade desses irmãos. Os motivos das idas e vindas, cabem à Espiritualidade.

Peço a Deus por todos e o agradecimento por me incluir, de alguma forma, em seus Planos. E antes que me esqueça, depois de uns 25 dias, deixo aqui mais esse registro, exatamente momentos antes de eclodir os protestos contra o ditador Muammar al-Gaddafi.
...





Hindú-árabe instrumental (Mario Kirlis)
http://www.youtube.com/watch?v=6W80LO5WCB4

.
Arabic instrumental
http://www.youtube.com/watch?v=Ypw-XCdZflg&


...


Nenhum comentário:

Postar um comentário