terça-feira, 14 de dezembro de 2010

OUVINDO GLENN MILLER



OUVINDO GLENN MILLER
Autor: Nilton Bustamante

Um homem sem sonhos é árido, aproveita o corpo mas não conversa com a alma.

Quando o amor é comprado pelos mármores, ouro... a sensação momentânea do possuir, logo esfria. Quando o amor é levado pelo amor, poderá abraçar árvores, colher estrelas, andar sobre as águas, escorregar pelas montanhas, navegar todos os mares, e mesmo que possuindo mármores, ouro e a sensação do possuir, fechará os olhos e sentir-se-á verdadeiramente enriquecido, amado.

Quando se deparar com o tempo, o relógio mostrará que o possuir foi realmente uma sensação, que chegou a passagem e tudo se foi. Os castelos serão para outros que virão com seus relógios do tempo... Quando se deparar com o tempo e se conseguiu sonhar, será sinal que a alma evoluiu para além dos tijolos, evoluiu para a glória do sentir o que o coração sublimou.

Sentar-se à farta mesa, em cenário deslumbrante e aconchegar os sentidos é ótimo. Mas é ainda melhor, quando, com amor, a alma não sente falta de nada do que já conquistou e o amor edificou.

Ah, como penso agora nos saudosos Dona Lodi e Seu Paschoal.

Ela uma senhora negra, linda, educadíssima, suave, sempre sorrindo, daquelas mulheres para 400 talheres; ele, corpo pequeno, branco, carregando todo seu italianismo e sotaque indisfarçável, honestíssimo e um tremendo pé de valsa. Decidiram morar juntos, sofrendo todo tipo de preconceitos de uma época, e muito da própria família dele. Não fizeram por menos, não deixaram de se amar. Nesse início a mesa da “casa” era um caixote de tomates, vazio. E por ironia da vida, foram cozinheiros em hospitais de São Paulo por longos anos, até se aposentarem. Com o amor tiveram uma filha lindíssima. Lodi e Paschoal, quando eu os visitava, colocavam os discos de Glenn Miller e contavam suas histórias de amor, os bailes do Trianon (atual MASP), e, claro, eu me deliciava não querendo mais ter fim.

Olhando para eles em minhas lembranças, sei, que Lodi e Paschoal viveram um caso de amor, um lindo amor onde abraçaram árvores, colheram estrelas, andaram sobre as águas, escorregaram pelas montanhas, navegaram todos os mares, e que tudo continuou quando fecharam os olhos para outra viagem maior...

O amor é mesmo assim, os olhos da alma brilham, brilham, brilham sem fim.



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