domingo, 19 de dezembro de 2010

MEIOFIO


MEIO-FIO
autor: Nilton Bustamante

Frio.
Pessoas olhando para baixo. Arriscando curto olhar, o suficiente para não se trombarem. O peso da introspecção. Mais frio.
Ser humano deitado, ou jogado, ou vencido, na calçada, sem cerimônia, sem consciência, sem prece, calçado apenas pela miséria de todo tipo. Berço nada esplêndido da degradação, torpor das drogas, calçada nua, dura, cama meio-fio da vida. Abandono.
Botão encolhido, adormecido, estado indigente, tristeza das gentes que não querem carregar um grama sequer do peso alheio, nem o peso da solidão e do silêncio do ser invisível social.

Frio.
Pessoas com pressa. Reflete-se no homem largado na calçada o morrer muito para viver pouco. Sem forças pra se levantar. Impregna-se a sujeira do egoísmo, do orgulho, da irresponsabilidade, do descaso, dele próprio e de todos nós.
Abandonaram-se as nobres atitudes. Uns procuram seus meios para ajudarem aos seus "próximos", outros para ajudarem a si próprios, nada mais. Estágios da consciência.

O lema “cada um com seu cada um” é de se entristecer.
Tornar pequena demais a instituição humana.

Um dia, a consciência individual e coletiva não suportarão ao se depararem com o irmão tombado; a semente dormente será adubada pela decomposição das mazelas semi-humanas, ou pela compaixão. A germinação em direção ao Pai Celestial. Consolo, consolação. O valor da vida interior surgirá em direção ao Sol.

Nós da Humanidade possuímos o livre arbítrio, a vontade própria, até mesmo para tombar no lodo, no meio-fio da vida, na calçada do auto-abandono, mas isso não nos exime ao socorro, à solidariedade; a consciência universal que desperta aos poucos em nós, será a força invisível incentivando nossos atos em zelar, amparar, aconselhar, orar aos desvalidos. Não poderemos viver em sociedade aceitando em nossos corações, como algo natural a vida roubada, as desordens das relações entre seres vivos – mineral, orgânico, animal e hominal –, palavras e ações vibrando transtornos não devem ficar no descuido eterno.

O que está doente perecerá; a vida, que nunca se desfaz, expressará somente o AMOR, eis a divina sina!

Ah, o tempo!
Quanto mais, ainda?
Quanto mais ainda as mentiras, roubos da confiança depositada, vícios, vidas roubadas, empobrecimento dos sentimentos?
Quanto mais ainda em se passar de largo de um corpo infantil, semimorto, ao relento, com um saco de cola prendendo algum sonho bom?

Deus-Pai, olhai por nós, intui-nos, instruí-nos melhores pensamentos e sentimentos, pois precisamos aprender que para o amadurecimento chegar tudo depende de nós, que ainda insistimos no meio-fio ou fingimos nada ver.

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