sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A PISCINA E O TUBARÃO


A PISCINA E O TUBARÃO (em desdobramento da alma)
"autor": Nilton Bustamante

Apresento-me jovem. Caminho com grande expectativa. Olho ao redor. Só encontro um espaço aberto e, ao centro, uma piscina.

Silêncio.


Fico em dúvida.

Uma piscina é a única visão. Paro na beirada. Fico hipnotizado, olhando o espelho de água.

Chega-me um senhor, cabelos brancos, e faz uma vibração mental:

“Se pular nestas águas não terá volta”, adverte-me.

Noto que nesta piscina, nestas águas, neste fluído, há um pequeno tubarão ansioso, nadando de um lado ao outro, rapidamente.

Descortina em mim a informação que estas águas são portais, algo secreto, ramificando com o mundo do poder. Tudo que minha ambição deseja até então, poderá ser.

O desafio fica evidente: vitória ou morte!

Sinto-me forte, nada pode me deter, me impedir. Eu quero porque quero. E essa será apenas uma prova, perigosa, mas, serão riscos calculados. Tenho preparo – penso, para me animar –. É só este pequeno animal para eu vencer e dominar o que deve ser dominado. Serei conhecido por esta façanha. Enfim, terei o que o poder pode me oferecer!

Olho, olho, olho para o fundo e pulo bem no centro da figura geométrica.

Do nada, começa ouvir vozes. Chegam aos milhares. Ouço ali, acolá:

– “Ele pulou! Ele pulou!”.

Chego a ver as mil e uma faces apontadas para mim, submerso.

Turvaram-se a água e os meus olhos.

Tenso, procuro de mãos limpas, meu mortal adversário. O tubarão surge do nada, ensaia um ataque. Chego a pegá-lo na parte superior, com força, quase o domino, mas, escorregadio, fusiforme, escapa. Faltou pouco, muito pouco...

Ao mesmo tempo que alegro-me por medir forças, sentindo-me forte e com quase sucesso no primeiro encontro, vem-me desenfreado desespero. Não consigo previr o próximo ataque. Nestes segundos que são eternos, vem em minha direção uma outra investida do animal com a boca arqueada. Leva-me neste rompante um pedaço do meu braço direito. Sangue e pavor. Outra investida, vai-se meu braço esquerdo que tentava me proteger.

Do fundo da piscina, vejo os mesmos rostos em plateia silenciosa.

Pelas minhas costas, outro ataque. E mais outro, outro, outro... Minha caveira, poucas carnes, vai-se ao fundo, de vez.

Eu, já em espírito, em angustia extrema, vejo a carcaça derrotada e pergunto ao ‘nada’:

“Why”? (não sei dizer, porque disse essa palavra em Inglês?!)

E aquele ancião – que depois descubro ser o Irmão Guilherme (‘protetor’ na Língua Inglesa) – aproxima-se, mentalmente me responde:

“Porque esse não é seu habitat”!

.
Por fim, ao despertar, sem forças, depois, desse pesadelo, tão real, com a má impressão da desastrosa derrota, me recomponho e oro. Uma íntima mensagem vem ao meu auxílio, e me alenta, para que eu tenha a consciência que a ambição descontrolada que habita o meu ser há muito e que já me levou em vidas passadas a grandes sofrimentos, poderá ainda repetir-se, seja por fim tratada como quem busca a cura de grave chaga.

.


Nenhum comentário:

Postar um comentário