segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

CORRO, CORRO, CORRO


CORRO, CORRO, CORRO
    autor: Nilton Bustamante

Aumento o passo, outro mais outro, corro
Corro, corro, corro, corro... até não poder mais
Até não saber mais o motivo, aumento o compasso

Engulo os dias, cuspo as noites
Ruas autoramas, os mesmos trilhos
Até não saber mais pra onde

Corro, corro, corro...

Mais café, menos cafuné,
Mais ligações, menos emoção pra eu caber inteiro no relógio
O objetivo é ser objetivo,
Menos substantivo, menos adjetivo, impessoalidade é a dica
Mais número, mais, mais, corro, corro...

Será que transei sábado? Não, esse sábado acho que não...
(preciso me lembrar... a loja de material de construção),
E no outro, e outro, e outro? Não e não...
Quando, então?

Corro qualquer sabor, corro qualquer bebida
Fico em todos os trânsitos, fico em todas as filas
Corro pensamento, suo tormento...

Corro pra dormir, pra manhã chegar mais cedo
Pra correr e chegar primeiro, o prêmio: pro infarto, o desgaste!
Qual é mesmo meu nome?,
Não deu pra ir no compromisso do filho, sinal fechado pra mim...

Corro, corro, corro...
Será que eu morri e não me dei conta?
Quando, então?
Preciso saber, muitas coisas pra se fazer:
Limpar as cacas do cachorro, correr operário...

Corro, corro, corro e não consigo mais ver ninguém
Nem mesmo o espelho, já passei lá correndo e o reflexo se foi...

Acho que já fiquei maluco,
Corro, corro apostando corrida com a ambulância que vem buscar alguém... Será eu?

Quero correr nu pelas avenidas, pelos campos...
Mas não sei não... Até a bunda é pálida!...

.’

Wilhelm Kempff plays Beethoven's Moonlight Sonata mvt. 3
http://www.youtube.com/watch?v=oqSulR9Fymg&

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário